teoria do caos
nesse breve passeio dominical cheguei à conclusão de que o que governa o mundo é o caos. por isso resolvi passar todos os fins de semana do verão em são paulo, a começar pelo próximo.
alguém me explica II
eu sei, eu sei, sei lá, sei lá, é muita falta de assunto mas eu fiquei passada!
algu?m que v? a novela por favor me explica...
agradecimentos
meu corpo, este ser estranho
ontem arrumei um rodo pra fazer de cajado. estava humilhante demais, então agora me contento em andar pela casa feito o corcunda de notredame.
não posso rir, não posso chorar, não posso tossir, nem espirrar. na primeira noite em casa engasguei, aí comecei a tossir e foi uma dor insuportável, não sabia se tossia, se gritava, na tentativa de conter a tosse parei de respirar e foi um deus-nos-acuda. fiquei triste nesse dia e me deu vontade de chorar. mas não podia soluçar, então apelei pra arte de chorar baixinho. ontem à noite foi o contrário. minha mãe entrou no quarto e contou uma coisa engraçada e eu simplesmente tive um ataque de riso. cada movimento involuntário da barriga produzia uma dor, e ao mesmo tempo que eu tinha vontade de chorar por causa da dor, não conseguia parar de rir. foi pura tragédia grega e eu achei que ia ficar louca. e assim eu entendi que tentar controlar as manifestações mais primitivas do corpo, como o riso, pode sim, levar à loucura.
fora isso, ao contrário do que eu dei a entender, está tudo bem. vou tentar aproveitar esse tempo em casa da melhor forma possível: dormindo e comendo bem, lendo, escrevendo, e, claro, sendo paparicada porque eu mereço :p
pós-operada
uma dessas coisas que estavam amarradas era uma cirurgia pra tirar meu mioma de estimação porque, na medida do possível, eu resolvi não ficar mais empurrando os problemas com a barriga. e depois de muitas idas e vindas acabei marcando a cirurgia no susto, de um dia pro outro.
graças a deus deu tudo certo e meu médico acabou tirando não só um como dois monstrinhos de dentro de mim. agora estou em processo de recuperação na casa da minha mãe e só hoje estou conseguindo fazer alguma coisa que não vegetar.
sem querer me fazer de vítima até porque sei que existem situações mil vezes piores que essa minha, que eu não gosto nem de imaginar, mas o fato é que pós-operatório é uma merda e se você parar bem pra pensar, cirurgia é uma coisa de maluco, a coroação da insanidade que é a medicina. primeiro você deita numa maca com um reles avental e uma touquinha ridícula, já com a dignidade perto de zero, e te levam pra uma sala que parece um estúdio de tv [mais precisamente cenário do núcleo hospitalar da novela das 8]. aí vem o anestesista, te passa uma conversa mole e te apaga. ai vem o chefe dos loucos, o cirurgião, e te passa a faca, faz o serviço e, com você ainda vagando pelo quarto escuro da consciência, te costura de volta. ou seja, em menos de duas horas você foi apagada, retalhada e costurada. depois, enquanto você toma litros de soro vitaminado com bombas químicas que vão evitar que você urre de dor, a equipe médica se despede e vai almoçar tranquilamente como se tivesse acabado de jogar uma partida de buraco*.
acaso, amor & lógica
o fato é que era um domingo e eu passei o dia inteiro batendo cabeça e tentando escrever qualquer coisa que prestasse, sem muito sucesso. acontece que naquela época eu andava apaixonada e o objeto da minha paixão me ligou convidando para um chope. imediatamente o anjinho se colocou na defensiva e disse: "fica em casa, você precisa entregar esse trabalho amanhã", ao que o diabinho respondeu "deixa de ser boba. vai logo!". como acontece na maioria das vezes, o diabinho venceu e tarde da noite cheguei em em casa, bêbada, pra dissertar sobre acaso e lógica. não sem antes escrever uma cartinha totalmente non-sense pra juca, minha companheira de sempre. então eu tive uma possível iluminação e escrevi que foi uma beleza, provavelmente um monte de bobagens, e ainda tasquei-lhe a seguinte epígrafe "e não há lógica que faça desandar o que acaso decidir", que na hora me soou genial. porque só os bêbados podem achar genial misturar kant, spinoza e lulu santos. no final tirei 7.
confissões inconfessáveis :: o poder de um comentário
ora, eu, uma jovem senhora, já quase não bebo muito, não a ponto de ficar de ressaca, pelo menos não durante a semana, respondi sem graça: "não, nem bebi ontem". e ele replicou sem dó: "é que você está com uma cara de quem está de ressaca". poderia até dizer que minha ressaca não era de goró e sim de de algo mais subjetivo, mas eu sabia que ele não estava se referindo aos meus "olhos de ressaca" como os de capitu, mas aos meus olhos cheios de olheiras mesmo.
não sendo bebida ou falta de sono a causa dos círculos negros em volta dos olhos, resolvi partir para uma solução mais efetiva na manhã seguinte, já que o corretivo não dá mais conta do recado. então vejo sobre a pia a linda bisnaguinha rosa-choque de "gel para pernas e pés cansados" da granado. meu raciocínio é: se faz milagre com pernas e pés, imagina o que não fará por esse rostinho que parece que levou dois socos! imagina mesmo. sem dar bola pro aviso que dizia "evite contato com os olhos" tasquei-lhe o gel na circunferência das olheiras, que imediatamente começou a arder, queimar, agonizar, fumegar. claro, o gel tem cânfora, menta e outras substâncias poderosas capazes de revigorar... as pernas e pés, não a área dos olhos.
post-it mental: não dar tanta importância a comentários alheios, masculinos ou não. se der, pelo menos dedicar uma importância igual ou maior ao meu próprio bom senso.
[no dia seguinte, uma companheira na luta contra as olheiras me indicou hipoglós nelas antes de dormir. eu, que não suporto cheiro de hipoglós, disse "no, thanks", e na volta do almoço a fofa me deixa de presente um outro creminho de bunda de neném na minha mesa, com um cheiro ótimo. usei ontem, não vi muito resultado, mas perseverarei.]
obrigada :)
estranha
o que eu não faço (quase nunca):
um t.o.c.:
só consigo dormir depois de jogar paciência (freecell) no celular. às vezes chego a jogar quase uma hora antes de cair nos braços de morfeu.
adoro:
passar cotonete no ouvido.
ex-libris (por falar em livros)
[porque às vezes eu empresto e não pego de volta, mas também pego emprestado e não devolvo. shame on me.]
vida, modo de usar (de novo)
+wish lists aleatórios
também adoraria ter uma geladeira colorida, mas essa custa 8 mil reais. OITOMIL. não é pro meu bico.
eu queria que desaparecesse do sistema solar: tudo o quanto está relacionado com essa novela das índias - atores, roupas, cenários, expressões. mor-ram! [e agora vem aí uma do manoel carlos e eu, que estava reabilitada do vício das novelas, estou na dúvida entre sucumbir ou não à tentação].
eu queria ser melhores-amigas: do claude troisgros porque ele me parece ser um cara tão gente boa que dá muita vontade de ser amiga dele. se a gente fosse amigo eu nem ia pedir pra ele cozinhar pra mim ou pra ganhar desconto no restaurante dele (só se ele quisesse), bastava ficar batendo papo com ele mesmo.
também não seria mau virar amiga da carla bruni (do marido dela, dispenso). vi um especial sobre ela e fiquei com vontade de ser sua bff*. ela é divertida, linda, interessante, acha que todas as pessoas deveriam fazer terapia desde a infância, canta bem, lê bastante, além do que seria uma ótima oportunidade de praticar meu francês-paraguaio.
[com claude, au contraire, eu faria questão de só falar em português, porque por nada nesse mundo ia perder suas pérolas e seu sotaque genial: "carrrramb'!"]
se eu um dia tivesse um cão (pouco provável) eu queria que: ele fosse de qualquer raça mas que tivesse uma mancha preta no olho.
eu queria: ter viajado no feriado, mas não deu.
*best friends forever
prenúncio de um verão
confissões que eu não ousaria fazer na faculdade
na faculdade, e mesmo depois, sempre tinha uma obrigação implícita de se ver e comentar todos os filmes em cartaz. e eu ficava sem graça de não ir ao cinema toda semana e me sentia frustrada de não dar conta nem dos filmes que eu gostaria de ter visto. e pensava "quando sair em dvd eu vejo esse filme" e nunca via.
sei que se produzem e se produziram coisas fantásticas por aí. não me arrependo de nenhum bom filme que vi, apesar de não lembrar de tantos assim. e lamento sinceramente não ter visto os filmes essenciais na formação de uma pessoa.
só que... já passei dos 30 e sei que existem coisas que a essa altura não vou fazer mais. ok, pode ser que em algum momento eu me descubra uma cinéfila tardia, fique sócia de uma boa locadora e passe um ano trancada em casa recuperando o tempo perdido. pode acontecer, por que não? mas não sou boba nem nada de ficar alimentando expectativas em relação a isso. tenho um bom tempo de estrada pela frente e, consequentemente, muita frustração pra amargar. tudo bem com isso. só não preciso que me frustrar com o que tem poucas chances de se realizar.
enquanto isso daqui a pouco começa mais um festival do rio e me dá preguiça da histeria coletiva que toma conta das pessoas. tenho vontade de dinamitar as hordas de pseudo-cults que invadem botafogo. e volto a me achar um e.t., quem sabe um pouco intolerante. pelo menos dessa vez, passo longe da programação sem culpa.
enigmas da humanidade
da arte de estar adequado
corta.
estou no meio de uma reunião. tento me concentrar na pauta, mas tá difícil. eu não queria estar ali. eu preferia estar em qualquer outro lugar. preferia estar numa sala de cirurgia, com a barriga aberta - coisa que vai me acontecer em breve, diga-se - do que estar ali. por que eu não podia estar sendo operada agora? não era nem papo de pedir pra estar em paris, bankok, praga ou itacaré. tudo o que eu queria era não fazer parte daquele momento. estaria melhor lavando uma pia cheia de louça engordurada. desentupindo um banheiro. ou no trânsito da avenida brasil. ali eu vi que estava profundamente infeliz.
e mais ou menos assim a vida passa, numa alternância entre momentos de adequação e inadequação com o roteiro divino. e como num palco, somos ora como o modelo perfeito para o traje da existência, ora autênticos bufões no teatro errado.
monday blues
riso solitário
dá gosto ver gente rindo sozinha.
na rua, o sujeito anda com um sorriso na cara, pensamento longe. o que será que está passando pela sua cabeça? só pode que ser alguma coisa muito engraçada pra escapar da barreira da auto-censura e vir parar nos lábios.
rir junto também é muito bom, mas há sempre o risco de o intelocutor estar rindo por cortesia ou solidariedade com quem contou a piada. o riso solitário é a graça sincera.
[talvez eu seja old school e prefira mesmo os blogs, que voc? s? l? exatamente aquilo em que est? interessado, mesmo que seja a maior bobagem do mundo. os blogs devem acabar e eu vou ficar pra tr?s com meu excesso de caracteres.]
1001 utilidades
num s?bado de ?cio, encasquetei que meu lindo notebook branco andava um pouco endardido. fui ver em f?runs de macman?acos como ? que fazia pra limpar macbook branco e uma das dicas era passar len?os umedecidos, daqueles de limpar bumbum de nen?m. bom, n?o tenho nenhum nen?m em casa mas... epa! tenho len?os umedecidos de limpar... deixa pra l?. e foi assim que meu mac ficou de novo branquinho e cheiroso com o patroc?nio de vagisil.
deus:
não me deixe ser uma companheira como as que eu vejo por aí.
uma mãe como as que eu vejo por aí.
uma filha como as que eu vejo por aí.
uma irmã como as que eu vejo por aí.
uma chefe como as/os que eu vejo por aí.
não me deixe vestir umas roupas que eu vejo por aí.
muito menos me deixe agir com desleixo comigo mesma.
lembrai-me sempre dessas coisas que eu vejo por aí.
a auto-crítica de cada dia nos dai hoje, pra que eu não faça igual.
afasta de mim a auto-indulgência e a auto-referência.
me faça ver que o mundo não gira em torno dos meus probleminhas medíocres.
permita-me alguns deslizes, que são inevitáveis.
perdoai o meus pecados e assim como eu perdoarei a quem me tenha ofendido.
mas livrai-me de ser uma pessoa escrota.
obrigada,
amém.
insoc (!)
primeiro é preciso situar information society: o information society, insoc para os íntimos, foi uma banda que fez sucesso de meados dos anos 80 até o início dos 90. ou seja, basicamente durante toda a minha adolescência. naquela época (eu acho) não existiam tantas variações pros ritmos da moda como existem hoje (trance, psy, drum'n'bass, sei-lá-mais-o-quê), então acho que o tipo de música que eles faziam era considerado dance ou pop e, mais precisamente, era o que embalava nossas festinhas. os sujeitos usavam uns cabelos espetados e se apresentavam de patins. mas o curioso mesmo é que eles eram o tipo de banda que só fez sucesso no brasil. sendo aqui provavelmente o único lugar da face da terra onde conseguiam ganhar algum trocado, eles fizeram shows do oiapoque ao chuí, inclusive em cidades que nunca tinham tido em sua história uma atração internacional. por isso, é bem possível que os membros da banda estivessem duros ou precisando de algum afago pro ego quando resolveram voltar ao brasil e fazer shows depois de tantos anos.
o fato é que o show foi uma boa surpresa. chegando no lugar eu farejei, positivamente, um ar de "festa estranha com gente esquisita". gente da minha idade ou mais velha que eu que deve ter deixado os filhos com os avós e saiu pra curtir a noite e relembrar os velhos tempos. pouca gente com "cara de zona sul", porque as pessoas da zona sul são cool demais pra admitir que gostaram um dia (e ainda gostam) de information society. e foi justamente um tipo de música diferente, leia-se diferente de sambinhas e afins, que me fez sair de casa porque, numa boa, já estou cansada das opções da noite carioca.
por um lado tenho um pouco de preconceito com gente que vive presa ao passado e respira nostalgia. dos tipos que só frequentam festas anos 80. acho que uma vez ou outra, tá bem, mas o sujeito só ser capaz de se divertir se entrar num túnel do tempo é meio demais. por outro lado, entrar no túnel do tempo às vezes pode ser bem legal. e eu entendi perfeitamente a catarse coletiva que aconteceu no show do information society. os caras tocaram todos os sucessos da época (que não eram poucos) e o povo foi ao delírio. no final, todo mundo queria bis, mas o vocalista disse humildemente "a gente não tem mais nenhuma música..." e o show terminou elegamentemente.
o ponto alto, claro, foi quando tocaram running. quem conhece, favor me dizer, em que outro contexto uma pessoa com mais de 30 anos, que não frequente o maracanã, tem a possibilidade de gritar a plenos pulmões "vai tomá no cu"* em coro com a multidão? não-tem-pre-ço!
*"now i don't want to play games with you (vai tomá no cu!)/but i don't know what to say to you (vai tomá no cu!)/the digits change so slowly now/i'm going it alone..."
manjericão & alecrim
pois voltei pra casa carregando frutas mil, aspargos frescos e dois vasinhos: um de majericão e o outro de alecrim. minha primeira horta. nunca imaginei ter um empreendimento agrícola, apesar de a minha família vir "da roça". achei que as plantinhas não iam vingar. procurei no google sobre "como cultivar manjericão". folheei a coleção de casa cláudia pra ver se tinha alguma luz. rega muito? rega pouco? rega todo dia? então lembrei do meu pai.
lá pelos anos 80 entrou na moda um negócio chamado "silva mind control" (tá, o nome é bizarro) que consistia em o sujeito desenvolver os poderes do pensamento coisa e tal. e meu pai entrou de cabeça em um grupo. aí tinha uma experiência que era o seguinte: você pegava dois tomates, um deles você xingava, maltratava, falava coisas horríveis. é, pro tomate. o outro você tratava igual um bebê, chamava de querido, fazia carinho, etc. e o incrível é que o tomate relegado apodrecia rapidinho e o tomate mimado durava um tempão. era impressionante.
daí que eu comecei a falar com as minhas plantas. bom dia, lindinha, tudo bem? oi queridas, chegou a hora da rega, oi fofinhas, vamos tomar um banhinho? o manjericão já quase dobrou de tamanho e o alecrim tá lá firme e forte. o cônjuge acha esquisito isso de tratar com carinho uma coisa que você vai comer no dia seguinte, mas eu repliquei que ele faz o mesmo comigo. estou amando essa vida rural e tenho planos de fazer uma expansão pra outras culturas: tomilho, cebolinha e por aí vai. boa desculpa pra voltar na cadeg.
e resulta?
mas a partir da segunda vez que ví, que foi quando eu comecei a entender algumas coisas que eles falavam.
sério, cheguei à conclusão que não posso nunca ser assaltada por um português, sob o ristco de tomar um tiro no meio da cara. porque é um deles abrir a boca que me dá vontade de rir. que não me leve a mal, acho português falando fofo. é que o sotaque faz cosquinha.
e agora?
4 coisas
2. uma coisa que eu queria muito e ganhei de aniversário: um set de canetinhas stabilo.
(além de mal poder esperar pra saracotear por aí com esse lindo modelito verão, agora estou realmente apta a fazer um ensaio fotográfico vestida de frida com ninguém menos que d.diego, dá licença?)
4. uma coisa que eu queria muito, já encomendei e está prestes a chegar: vida modo de usar, de georges perec.
foi assim
e hoje eu acordei com "gente" do caetano na cabeça. e tive a visão do hall de entrada da casa que eu não tenho. é uma montagem com várias fotos dos nossos amigos, a letra de "gente", talvez adesivada, talvez pintada. um espelho, porque gente espelho da vida, doce mistério. e então tomei todas as decisões que eu tinha que tomar. e tive a certeza que tudo daria certo.
e hoje osgemeos foram lá na firma e falaram. e osgemeos, fala sério, o que são osgemeos? os caras são OSCARAS. e são tudo, e abriram meus olhos, minha cabeça porque o mundo tá aí. e ainda por cima me deram mais uma idéia pro hall de entrada pra casa que eu (ainda) não tenho. vai ser com ex-votos. quem sabe. osgemeos. gente é pra brilhar. gente é pra ser feliz. gente, espelho da vida, doce mistério. vida, doce mistério.
[eu sou uma boneca amarela, gaveta aberta pro mundo]
a auto-indulgência
nessa de ver apartamentos você se depara com umas casas que fica pensando: "como é que a pessoa deixou chegar nesse ponto?". mas o fato é que as pessoas deixam chegar nesse ponto. porque vão empurrando com a barriga, vão deixando pra depois, vão gastando com outras coisas mais imediatas. e gastar, aliás, é a grande válvula de escape da auto-indulgência contemporânea. "eu mereço isso", "eu mereço aquilo". tá bom, eu mereço, tu mereces, nós merecemos, mas quem paga a conta?
comer segue uma lógica idêntica. hoje cheguei de baixo astral e pensei: eu mereço comer um monte de bobagens. e comi nuggets com ravióli congelado (porque eu adoro massa pronta congelada, don't ask). e depois passo a outra metade do ano fazendo dieta.
o dialeto de 02
aí ela virou pra minha mãe e falou que o metrô era muito sabido porque sabia o caminho dele direitinho e nunca se perdia. e depois virou pra minha irmã e disse: "mamãe, eu gosto tanto da vovó que eu queria casar com ela!"
dá ou não dá vontade de miniaturizar uma criatura dessas e andar com ela feito um chaveirinho?
porque a vida é feita de compensações II
hoje de manhã me livrei de um peso que me incomodava há quase dois anos. um mosquitinho que zumbizava no meu quarto toda noite antes de dormir: finalmente concluí a monografia de uma pós longínqua e que constava da minha lista de pendências para serem resolvidas em 2009. que sensação boa se livrar de um problema, de uma coisinha que era simples mas que, talvez por isso mesmo, eu não tinha coragem nem forças pra resolver. a vontade foi de, literalmente, dar pulinhos de alegria.
e então à tarde, um novo peso, diferente, mais pesado e que por outro lado não depende de mim, foi se instalar direto no meu cangote. e aquela interrogação, que andava rondando a minha vizinhança agora parou na frente da janela e está piscando em neon vermelho pra mim.
sabe, no sábado à tarde eu estava no quarto piso do rio sul e me deparei com uma multidão de gente. dei mais uns passos e então elucidei que aquilo era a fila do povo fazendo suas apostas de última hora na mega sena acumulada. e pensei: que gente louca. se eu soubesse que o prêmio iria sair justamente daquela lotérica talvez tivesse mudado de idéia. talvez tivesse até entrado na fila. que genial isso, 38 pessoas do bolão da firma estão hoje rindo à toa. pior do que não ganhar na mega sena é trabalhar na firma dos 38 ganhadores e não ter entrado no bolão. como eu digo, compensações.
eis que agora me restam apenas algumas pendências daquela lista: ir ao dentista, ir ao médico, fechar uma conta no banco, mudar de previdência privada, fazer bainha em duas calças jeans, arrumar estantes, arrumar armários, arrumar gavetas, arrumar... a vida.
porque a vida é feita de compensações
meu aparelho novo está sim incomodando, mas é branquinho e discreto, além do que eu estou me sentindo linda e 15 anos mais nova.
e o resto é o resto. o bom é que amanhã minha quase-afilhadinha vai nascer, tadinha, por dois dias não vem canceriana. tadinha nada, tadinhos somos nós, do signo de caranguejo.
e por falar em cancerianos, olha o que eu acabei de comprar no mercado, na caixinha pequetica:
igualzinha à que meu pai comprava pra eu levar de lanche. como diz rogerito, food relief. mas nesse caso é comfort food relief. ou nostalgic food relief.
a lógica do endividado
como será o amanhã?
o medinho vem de longe. uma vez, quando tinha 8 anos, estava em uma viagem de família em salvador. aí nos indicaram um padre astrólogo no pelourinho. da série coisas que só tem na bahia. aí fomos no convento e o padre fez o mapa da família toda. frei eliseu o nome dele, me lembro até hoje. se não me engano o meu mapa foi o último e provavelmente àquela altura ninguém estava mais com paciência de ouvir o mapa astral de uma criança de 8 anos. não guardei quase nada do que foi dito, tampouco gravamos a conversa, mas uma coisa o frei astrólogo disse que me marcou e me persegue até hoje. a "profecia" versava mais ou menos o seguinte: eu poderia perder tudo na vida, mas sempre sobraria um tijolinho de onde eu tiraria forças pra reconstruir meus castelos. como a gente só ouve o que quer*, eu simplesmente ignorei a parte boa da história e passei a conviver com um fantasma: "eu vou perder tudo".
já perdi muita coisa. muita coisa mesmo. mas acho que no saldo geral ganhei tanto mais do que perdi que fico achando que não foi só um tijolinho que restou. foi também um pouco de cimento, massa corrida e uns pedreiros de quebra. tenho nome de heroína épica, eu acho. mariana cândida é quase uma versão luso-brasileira de scarlet o'hara.
[*sobre esse tema da audição seletiva, tem uma história ótima do meu amigo que levou a mãe à médica depois de uma internação. a médica disse, entre outras coisas, que ela poderia e deveria levar uma vida normal, que a saúde estava excelente, que ela devia aproveitar seu tempo, caminhar, dançar, etc. ao tentar explicar o que ela havia tido, a médica falou que ela tinha um aneurisma sem gravidade e reforçou que a saúde estava boa, vida normal dali em diante. ao saírem do consultório, meu amigo esperançoso de que a mãe iria "mudar de vida" perguntou: "mãe, a senhora ouviu bem o que a médica falou?" e ela respondeu: "ouvi sim, meu filho. eu tenho um aneurisma".]
o dress code dos universitários
existe um momento na vida do universitário em que ele deixa de ir pra faculdade de chinelo e passa a dar as caras embecado. veste com orgulho suas roupas de jovem executivo, mesmo que tenha apenas conseguido seu primeiro estágio não-remunerado. isso o distingue dos colegas, que ainda comparecem às aulas com suas bermudas surradas, e seu dress code quer dizer basicamente o seguinte: "eu entrei para o mercado de trabalho e uma carreira promissora como xxx me aguarda, enquanto vocês, seus vagabundos de merda, vão ficar em casa vendo sessão da tarde". (mal sabem eles o quanto sentirão saudades das tardes em frente à tv pelos próximos 30 anos!...)
nas carreiras "uniformizadas" a distinção entre os neo-trabalhadores e a massa de derrotados fica mais patente ainda: que dizer dos estudantes de direito que começam a dar pinta na faculdade trajando orgulhosamente o terno do pai? e dos estudantes de medicina, fisioterapia, odonto e afins quando vestem seus primeiros jalecos brancos?
no meu primeiro estágio, não tive a oportunidade de mostrar para o mundo que ali se iniciava um futuro brilhante. eu trabalhava na casa do chefe, que dava expediente de samba-canção e camiseta furada. era uma esculhambação tremenda e eu ia trabalhar de short.
em contrapartida, o meu segundo estágio foi em uma repartição "séria" e aí sim eu tive a oportunidade de ir montada pro trabalho. como a ocupação que eu escolhi em geral não comporta ambientes muito formais, mesmo os que já estagiavam não precisavam trocar o chinelo pelo terno, podiam usar no máximo um tênis ou um mocassim porque nessa profissão é legal parecer descolado. só que naquela repartição a indumentária dos funcionários ficava em algum lugar entre o esporte fino e o passeio completo e eu achava o máximo aparecer na faculdade de meia-calça e salto alto com ares de business woman. com minha soberba eu queria dizer basicamente o seguinte: "não apenas eu entrei pro mercado de trabalho como ando muito mais arrumada do que todos vocês, o que significa que serei uma executiva de sucesso e atingirei o ponto mais alto da minha carreira".
muitos anos depois... [que nem novela]
hoje em dia bato ponto numa dessas firmas onde é legal parecer descolado. se estou com vontade de trabalhar de salto alto vou, se quiser ir de tênis, tudo bem também. na verdade não me importo muito. há alguns anos me afastei do ideal de ser uma executiva de sucesso. meu trabalho paga minhas férias, meu chiclete e minhas figurinhas, o que, por si só já é genial.
não tenho exatamente saudades de ficar na frente da tv à tarde. estranhamente, sinto uma imensa nostalgia daquele meu primeiro estágio, quando a gente comia um pacote de chocolícia branco por dia e não engordava, quando uma das minhas atividades no trabalho era ficar pensando em alguma coisa pra irritar o filho do chefe, quando almoçávamos um cachorro-quente da van por 1,50 que era pra sobrar algum pra cerveja no bar da faculdade. e ainda dava pra pagar as férias.
a moda outono/inverno 2009
inverno
é que às vezes bate uma insegurança e, pior, um pessimismo em relação ao futuro. é quase um panicozinho, controlado. pior sinal de todos: preguiça de ler. abandonei meus (muitos) livros da fila e só folheio revistas, não me aprofundo em nada. agora tô tentando ler um livro do gauguin, porque é curtinho. não sei se volto a comer pão e arroz, essa dieta não está dando resultado nenhum, vesti a calça 40 da minha irmã e fiquei passada. por mim e por ela, porque a minha irmã nunca passou do 36. e à noite me dá uma larica de doce que eu não sei de onde vem, porque o zé-diabete da casa é ele, não eu. enquanto isso, obcecada por vestidos mexicanos. comprei um pela internet, quero que chegue logo. é tão verão, quem sabe?
são só interrogações, nenhum travessão, nenhum dois pontos:
só reticências... porque eu fico assim quando hiberno em mim, reticente. compro uma casa?... viajo?... gasto meus caraminguás em bala-chiclete-figurinha?... que saudades das tirinhas dos gatos do laerte. eu queria ser a gata, aquela gata fenomenal e segura de si. enquanto isso, obcecada por sites de decoração de onde recorto fotos pra colar idéias na casa que eu ainda não tenho e nem sei se terei.
mas. a vida é feita de compensações. 01 e 02 estão aqui pra iluminar meus dias.
e meu amigo me trouxe de aniversário, diretamente de frança, um estojo lindo de canetas stabilo que me deixou muito, muito feliz de verdade porque era o meu objeto de desejo.
e do meu outro amigo, que senta do lado daquele, eu ganhei um buda roxo. e roxo, segundo me explicou minha amiga gigi, é a cor da transmutação. porque o que eu preciso mesmo é transmutar.
você descobre que a idade chegou quando:
sua bancada começa a ficar abarrotada de cremes de todos os tipos. é anti-rugas, hidratante com filtro solar, creme para a área dos olhos, luvas de silicone, gel esfoliante, body milk e sabe-lá-mais-o-quê. sem contar que passar corretivo antes de sair de casa agora é básico , uma coisa assim, tão necessária quanto escovar os dentes.
ficar em casa no sábado à noite passa a ser uma excelente opção. há uns 10 anos eu podia sair de segunda a segunda e não reclamava de trabalhar no dia seguinte. e saía sério, de beber bastante e chegar em casa de madrugada. depois de um tempo as saídas passaram a se concentrar no espaço de tempo do fim de semana, começando em geral numa quinta ou na sexta. já hoje em dia se não tem nada marcado eu dou graças a deus e fico em casa de bom grado.
não se conforma com a reforma ortográfica. até tentei me adaptar, aboli a trema, chego a cortar uns acentos aqui, outros ali. já nem faço mais cara feia quando vejo apoio e ideia sem seus respectivos agudos. agora, por favor, não me façam engolir esse malalgumacoisa ou bemalgumacoisa junto porque isso não dá. malsucedido? benvindo? que porra de palavras são essas? desculpe, eu desconheço.
seu corpo começa a dar sinais da degradação. tem acontecido comigo e eu estou me sentindo humilhada com esse sintoma tão absurdo e precoce da senilidade: meu joanete dói quando faz frio! sério, nas últimas férias comecei a sentir essa dor, mas fingi que não era nada. botei a culpa no all star e segui meu caminho. de volta, cheguei a sentir algumas fisgadas no pé e continuei ignorando. só que agora o inverno chegou de vez e eu sinto essa dor infernal quase todo dia. podia ser dor de qualquer coisa, queda de cabelo, cabelo branco, artrite, osteoporose, mas numa boa, dor no JOANETE ninguém merece! é ou não é a prova cabal da decadência do ser humano?
no almoço divertido com os colegas da firma,
detalhes tão pequenos de nós dois
tem coisa que a gente faz por amor. ou pelo menos tenta.
curiosidades :: outros nomes pra sacolé
em recife se chama dudu. em fortaleza, dindin. em cuiabá o pequeno é suquinho e o maior é foquinha. em jundiaí é geladinho, ou chup chup, como também é conhecido em minas.
assim me contaram.
mas pra mim o melhor nome é o de maceió: flau. tem palavra mais legal de falar que flau? tá com calor? vai chupar um flau!
curiosidades :: manuscritos x imprensa
vendo uma coleção de manuscritos medievais alemães no getty museum, que tinha também alguns exemplares pós-prensa, refleti que no começo um novo meio sempre imita seu antecessor, até encontrar sua própria linguagem.
querido diário,
ligue 190
ontem eu e mais 3 amigos presenciamos o início de um sequestro-relâmpago em um sinal em botafogo (logo depois do rocha maia, às 8 da noite). foi desesperador ver um sujeito com uma arma a poucos metros e todo mundo ficou de perna bamba. passado o susto avisamos a polícia, que chegou a tempo de interceptar os bandidos e a vítima no posto de gasolina antes do aterro. foi uma sorte, eu sei, e pode ter sido também que outras pessoas tenham avisado antes, mas o fato é que só de saber que uma fatalidade foi evitada dentre tantas, já dá um pequeno alívio.
velório no interior
"ela [mm] me perguntou: 'você já viu alguém morrer?', eu disse 'não'. ela perguntou 'você já viu alguém nascer?' e eu respondi que não. então ela falou 'pois você deveria. você nunca viu ninguém morrer ou nascer porque vive em uma sociedade que se esconde da realidade."
aquilo foi pra mim uma paulada no estômago.
o velório do meu tio começou às 11 da noite de um domingo e só terminou às 18 do dia seguinte. é um ritual exaustivo, onde o sofrimento é prolongado. mas é humano. não foi um enterro rápido, asséptico como a maioria das pessoas prefere. não, todo mundo teve o seu tempo de sofrer, chorar, rezar, discursar, ficar em silêncio. apareceu até um bêbado-doido que se pôs a falar com o morto (que não conhecia) e chorar dizendo que também tinha perdido a mãe. foi um momento de tensão, o que esse louco vai fazer agora? mas depois de uns cânticos e umas ave-marias, que ele acompanhou a plenos pulmões, o maluco foi embora. depois de velar o corpo na santa casa da cidade pela noite e manhã adentro, o cortejo fúnebre seguiu para o vilarejo onde meus avós viveram e morreram. lá foi celebrada uma missa com três padres que conviveram com o meu tio e a família. e depois sim houve o enterro propriamente dito, quando o sol já estava se pondo. o dia estava lindo, a praça e a igrejinha enfeitados para o são joão. o cemitério, no alto do morro, cercado por montanhas, é a tradução literal da expressão "descansar em paz". foi um fim digno e não menos real.
eu queria ser uma morsa
no museu de história natural eu tive certeza
brad & eu
[parêntesis: cônjuge é um fanfarrão, tudo que ele puder fazer pra pregar uma peça em alguém, ele fará. depois de encontrar a bolsa sã e salva ainda na cadeira que eu tinha sentado - mil vezes obrigada, senhor! - ele resolveu voltar pela rua 49 porque sabia que eu estaria esperando por ele na outra rua. por causa dessa "pegadinha" ele descobriu que a filmagem em si estava sendo na 49, e não na 48. depois me vem ele de mãos abanando e cara de puto e eu quase em prantos "você não achou a bolsa?!?!?!" e enquanto ele se aproxima eu vejo a alça da bendita bolsa pendurada no pescoço dele! quase chorei de alegria.]
refeitos do susto ainda encontramos energia pra ir lá conferir as filmagens na rua 49. chegando lá, super produção. chuva artificial, holofotes, fumaça e vários figurantes, todos orientais. perguntei pra um segurança o que eles estavam filmando e ele disse que não sabia. ficamos lá bisbilhotando, era permitido ficar bem perto da área de filmagem, mas proibido tirar foto com flash. eis que uma mulher vira-se pra mim e pergunta: "você já viu o brad pitt?" e eu "what?!?!?!cuméquié, nega??? are you kidding me?!?!?!"e ela: "é, ele está de terno marrom e vai sair daquele carro que está parado do outro lado da rua". como assim, meu deus, eu quase perco minha vida na bolsa e logo depois sou presenteada com a visão do brad pitt a poucos metros de mim? é nonsense demais pra uma noite só! ai eu pergunto pra ela: "mas você sabe o que eles estão gravando aí?" e ela, super bem informada responde "é um comercial que vai passar na ásia..." (daí todos os figurantes serem japas)
então que o diretor grita "action" e brad sai do carro amparando um lutador e sumô e protegendo o cara da chuva artificial com um guarda-chuva. me belisca. o brad pitt tá do outro lado da rua. e ele é alto. e ele é lindo mesmo. me segura, vou desmaiar. cadê minha câmera? não trouxe, ficou no hotel, só tem o celular (no flash, please). a cena dura uns 10 segundos no máximo. depois ele vai pra tenda da produção ver como ficou. e nós ali. vimos mais uma ou duas regravações. era quase uma da manhã. voltei pro hotel exausta e feliz me perguntando: "será que alguém vai acreditar?".
ny revisited
porque a ny de verdade não está onde os turistas vão, ela está escondida. então primeiro tem a "obrigação" de ir nos lugares "imperdíveis". e depois você aproveita a cidade em si. por isso que acho que quando eu voltar novamente aí sim, devo amar aquilo pelo que é: restaurantes, vida noturna, lojinhas desconhecidas.
além do que, ny gerou em mim um sentimento esquisito de frustração. eu via aquela gente entrando e saindo do hotel e pensava: tem alguma coisa muito incrível acontecendo e eu não estou lá. eles estão indo a todos esses lugares maravilhosos e eu tô perdendo. é isso. o tempo todo em ny eu achava que estava "perdendo alguma coisa". há algum tempo eu venho controlando melhor a minha ansiedade quando viajo, só que em ny a coisa desandou um pouco. mas também, como não ficar ansiosa em uma cidade onde você pode dar de cara com o brad pitt assim, do outro lado da rua?!
enfim, nova york
já instalados no hotel e com os planos de ir a woodburry frustrados, aproveitamos pra ir no moma. aí eu lembrei por que babei tanto naquele museu. o que é o quinto andar do moma? sério, eu devo ter ficado mais de uma hora só no quinto andar, que reúne umas das obras que eu mais amo nessa vida.
no dia seguinte a gente foi finalmente ter o shopping freakout em woodburry - passamos o dia inteiro batendo perna e consumindo loucamente. não se vai assim tão impunemente aos estados unidos... nesse dia aconteceu o episódio do air force one passando pelos prédios de ny para "posar" para uma foto de propaganda do governo e o povo histérico achando que era novo 11 de setembro. pena que perdemos esse furdúncio. nesse mesmo dia a minha mãe americana ligou pra avisar de uma "tal gripe" que estava assolando o estado e foi quando ouvimos pela primeira vez falar de gripe suína, que depois virou o assunto do momento.
no resto da semana fizemos os passeios "básicos" da cidade: central park,times square (gente, que horror, aqui tá cada vez pior, a única coisa de bom é que as coisas ficam abertas até tarde), metropolitan, museu de ciências naturais, guggenheim, passeio de barquinho até a estátua da liberdade (graças a deus fui poupada do programa de índio que é descer na ilhota), financial district, marco zero, grand central, etc etc.
no quesito comida passamos bem, claro, mas é muita ansiedade de experimentar tudo. fomos a algumas delis, inclusive a badalada carnagie, com seus sanduíches gigantescos, mas não comi nada inesquecível. já o recomendado cachorro quente do gray papaya (nunca sei se gray papaya e papaya king é a mesma coisa) é mesmo bom, bonito e barato. fizemos uma reserva no babbo e foi um dos jantares memoráveis da viagem. assim como o almoço no l'ecole, uma escola de culinária francesa. e uma grande descoberta para quem quer comer saudável e barato uma comida ótima: whole foods na union square (fomos ver a feira e acabamos lá).
no campo das artes descobri que adoro bonnard - diante dos outros impressionistas nunca tinha dado bola pra ele e que prefiro manet quando ele pinta gente, não paisagem e com o monet é o justo oposto. no moma conheci um pintor moderno alemão martin kippenberger, e um argentino, león ferrari ótimos. a maior parte do guggenheim estava fechada, uma pena. mas nem tudo são flores em ny.
correção!
like a virgin
se tiver paciência, vídeo no youtube de um vôo (de primeira classe, claro) de um dos executivos da cia:
if you're going to san fran-cis-co
[esse relatório de viagem já tá ridiculamente demorado, mas vamos lá!]
a chegada em são francisco foi meio conturbada porque já estava em cima da hora de devolver o carro e a gente conseguiu se perder um pouco até chegar na locadora, mesmo com o santo gps. finalmente nos instalamos no hotel, ótimo, uma cama incrível, roupão, tudo lindo e cheiroso, um luxo só.
[aqui um parêntesis pra falar de um dos melhores adventos dessa viagem: priceline.com que enterrou de vez a era de ficar em muquifos. pelo menos onde houver priceline. foi um enorme upgrade na nossa carreira de viajantes e não pretendemos mais viajar sem. funciona assim: você escolhe a cidade, a área onde quer ficar e o número de estrelas que quer o hotel. aí no melhor estilo casas bahia, diz quanto quer pagar e lança uma oferta. se algum hotel aceitar sua oferta, sua reserva já está feita. se não, você tenta novamente com um valor um pouco mais alto. ou seja, você não escolhe o hotel, o hotel é que te escolhe. e nada de cancelamentos e trocas de dias, reservou, já era. ficamos com um pouco de receio porque por ex. reservamos um hotel quase 5 estrelas em nova york por 125 dólares, ou seja, uma verdadeira pechincha, achamos que poderia ser alguma roubada. mas no final deu super certo e a gente acabou ficando em hotéis ótimos a preço de 1 ou 2 estrelas. vale MUITO a pena!]
o primeiro passeio foi de bondinho (cable car), até o fisherman's wharf, com uma paradinha na "rua mais sinuosa do mundo", lombard street. andamos bastante pela área até o sol se por. não achei que na ensolarada califórnia fosse fazer mais frio do que em chicago, mas o vento em são francisco de fato não é brincadeira e eu quase congelei várias vezes lá. nesse dia a gente tava tão cansado que acabou jantando no restaurante do hotel, mas até que foi uma boa opção.
no dia seguinte a gente acordou bem cedo, pegou o bonde para o fisherman's wharf de novo e pegamos o barco pra fazer o passeio de alcatraz, o famoso presídio que foi desativado. quer saber? achei bem legal, o áudio-guia, as instalações, tudo. na volta almoçamos por lá no boudin, um típico clam showder no pão sourdough (nada demais). de tarde desistimos de ir a sausalito e resolvemos andar mais pelo centro da cidade, ir até o castro, haigh-asbury e alamo square, já não lembro mais em que ordem. só sei que no fim da tarde a gente foi parar no de young museum, que fica no golden gate park, onde estava tendo uma exposição temporária sobre a influência da música na trajetória do andy wharhol. adoramos, vimos fotos da fábrica, capas da revista que ele editava, entendemos melhor o seu mundinho pop. e de noite jantamos no burburinho da north beach (perto da chinatown, little italy e financial district). o restaurante era o panta rei, a comida era boa, nada de excepcional, e o lugar muito barulhento. .
amanhecemos para mais uma aventura gastronômica: o café da manhã do dottie's true blue cafe. assim como no episódio do cachorro quente em chicago, me perguntei de novo que cacete tava fazendo ali, porque era uma fila absurda e o lugar minúsculo. quando chegou a nossa vez o meu mau humor já estava reluzente, mas nada que panquecas, ovos, bacon, geléia, café quentinho e salada de frutas não fossem capazes de curar. sim, acho que o lugar merece a fama, pra quem gosta de "breakfast" tradicional, ou seja, coisa séria. saí rolando e bem humorada. demos um passeio pelo chinatown, bem mais interessante/bonito que o de ny e andamos até o farmer's market no ferry's building. poxa! que pena que só conhecemos o melhor lugar de são francisco no último dia, ainda por cima com a barriga tão cheia que não conseguíamos pensar em provar as fabulosas iguarias que estavam sendo vendidas ali. ficamos maravilhados rodando feito moscas pelas barraquinhas de comida até que todas fecharam. taí um lugar pra se voltar com muita calma e estômago vazio. e depois andamos, andamos, e andamos por bairros que eu já não me lembro mais o nome, alguns residenciais, outros nem tanto. paramos pra comer rápido num tailandês em uma ruazinha fofa e partimos pro hotel pra pegar as coisas e rumar pro aeroporto.
big sur
não sei que tipo de música o rei roberto teria feito caso tivesse andado pelas curvas da big sur, mas o caso é que estrada é o caminho mais longo (e bonito) entre dois pontos - no nosso caso, monterrey e são francisco. juro, a estrada tinha tantas curvas que até eu que dirigia fiquei um pouco enjoada. a compensação era a vista maravilhosa, apesar do dia nublado e com uma neblina louca, e com isso várias paradinhas pra apreciar a natureza. não há cidades nem quase nada no caminho, só penhascos, mar e verde.
a parada mais esperada era o parque julia pfeifer, onde fica a paradisíaca visão da cachoeira desaguando no mar. depois comprovamos com um pouco de decepção que o homem deu uma forcinha pra natureza e construiu um cano pra levar a água até o lugar perfeito. ou seja, nos eua nem a cachoeira é 100% natural. mas tudo bem, valeu o passeio.
uma pena não ter feito um sol pra gente parar em uma daquelas praias (as únicas realmente bonitas e limpas das que vimos no pacífico) e dar um mergulho, mas por outro lado provavelmente não daria tempo de chegar a são francisco na hora de devolver o carro. aliás, até agora não sei como deu tempo!
pela estrada afora...
e aí finalmente pegamos a estrada. o tempo era curto - dois dias pra chegar em são francisco - então tivemos que eleger bem as paradas e cortar muita coisa. dilemas de quem viaja de férias.
chegamos em santa bárbara lá pelas 5 da tarde e fomos direto pra mission, que já estava fechada. paciência, demos uma olhadinha por fora e tá bom. e toca a procurar um hotel onde passar a noite. acabamos achando um motel, daqueles bem do estilo "pequena miss sunshine", chamado presídio. o quarto era decorado com adesivos de castelo mal assombrado nas paredes, uma graça. saímos pra dar uma volta no centrinho da cidade, jantamos mais um mexicano apimentadíssimo (o almoço já tinha sido sofrível), andamos pra cima e pra baixo até o comércio fechar. achamos santa bárbara uma cidadezinha muito bonitinha e simpática. no dia seguinte, demos um pulo no píer antes de seguir novamente.
no caminho paramos em san luís obispo para almoçar e ver a mission (meio mal cuidada). chegamos em carmel no fim da tarde, demos uma voltinha e resolvemos ficar em monterrey, que é do lado. àquela altura já estava frio e chovendo. achamos um motel, deixamos as coisas e fomos comer no cannery row, num lugar chamado "the fish hopper" - dos deuses: frutos do mar sem muita firula, só com um tempero muito bem feito, e um garçom simpático que queria vir morar no brasil.
no dia seguinte acordamos bem cedo e fomos dar um passeio de carro pela 17-mile drive, um condomínio fechado de ricaços, com ciprestes, vistas fabulosas e campos de golfe. da vista a gente não pode aproveitar muito por causa de uma neblina baixa que acabou nos acompanhando até são francisco.
tomamos um café da manhã deliciosamente trash (panquecas, torradas, etc) num restaurante adorável em pacific grove, chamado victorian house ou algo assim. era um ambiente todo antiguinho e bem vitoriano mesmo.
bem alimentados, seguimos para o aquário de monterrey, um dos maiores do mundo. confesso que não estava lá muito animada com o programa, não curto bichos engaiolados seja no zoológico ou no aquário, mas acabei me surpreendendo. ainda mais que na entrada um sujeito abordou a gente e ofereceu entradas pela metade do preço porque ele tinha um "membership" e supostamente seus amigos/acompanhantes não tinham chegado. brasileiros que somos, ficamos desconfiados com a "esmola demais", mas no final deu tudo certo e de fato pagamos a metade do preço pelos ingresso e evitamos a fila - perfeito! o aquário é sim um excelente programa pra todas as idades. adorei especialmente a ala das água-vivas, de mil cores e formas, coisas que eu provavelmente não veria mergulhando nem nos melhores picos do mundo. de tão empolgados que ficamos no aquário, perdememos um pouco a noção da hora e pé no acelerador pra chegar em são francisco até 4 da tarde, contando com as paradas na big sur!
o getty museum
tínhamos sido recomendados para conhecer o getty museum por um local de l.a., por isso não deixamos de ir lá antes de pegar a estrada no dia seguinte. sábia decisão. que lugar! seguramente esse foi um dos museus mais fantásticos que eu já visitei por seu conjunto da obra: a arquitetura sensacional, os jardins, o serviço, a vista e, claro, a coleção em si. e o mais incrível: de graça.
grande parte do acervo do museu pertenceu a j.p. getty, um bilionário do petróleo que era colecionador e admirador de arte. o complexo onde é hoje foi fundado há menos de 20 anos e tem uma arquitetura fenomenal e uns jardins de chorar.
tinham várias exposições temporárias rolando, e descobri muitas coisas novas e excitantes:
- jo ann callis - fotógrafa americana, lida muito com a linguagem do fetiche.
- paul outerbridge - idem, descobriu técnicas para trabalhar a cor (coisas que eu não entendo bem), dizia que se você fotografa bem um nu, você fotografa qualquer coisa.
- iluminuras e manuscritos alemães na idade média - achei interessante que depois que inventaram a imprensa, lá por aqueles lados mesmo, os tipos imitavam as iluminuras e manuscritos. ou seja, quase sempre que uma novidade aparece ela tenta imitar o que antecedeu, até encontrar sua linguagem própria.
- a oficina de la roldana - uma mostra bem legal sobre as técnicas de escultura em policromia no ateliê de luisa roldan, uma artista mulher, raridade em seu tempo.
- pintura barroca na bolonha - mostra sobre o rumo da pintura na itália pós-resnascimento, um movimento liderado principalmente pelos carraci. uma profusão de temas bíblicos cheios de drama.
depois de muito andar e passear pelos 4 cantos do museu, pegamos a estrada pro norte.
L.A.
todo mundo fala meio mal de l.a., que é uma cidade enorme, poluída, com trânsito caótico. pra falar a verdade a gente gostou, talvez porque l.a. tenha lembrado muito o rio. primeiro foi o choque do calor. eu, que não tinha levado fé que iria esquentar, só levei uma bermuda e algumas camisetas na mala, o que me obrigou a comprar um short e uma blusinha sem manga assim que chegamos em l.a..
nosso primeiro passeio foi em santa mônica. era um domingão de sol, e a praia estava cheia de gente, famílias inteiras, farofada, casais, crianças, gente correndo e até jogando capoeira. tipicamente copacabana. no píer de santa mônica tem um parquinho de diversões mais tosco que o extinto e saudoso tivoli park que é meio emblemático do lugar. depois de dar uma volta na 3rd street promenade, uma rua de pedestres cheia de lojas e "artistas", voltamos pra ver o por-do-sol na praia. à noite só tivemos forças pra ir num restaurante de comida "southern"/comfort atrás do hotel.
no dia seguinte a gente rumou pra beverly hills de manhã bem cedo e tomamos um café daqueles super americanos lá mesmo. nossa onda não era ficar andando atrás mansão de fulano ou cicrano, só queríamos dar uma conferida no local. chegamos até a ver um paparazzo com uma objetiva imensa colada no vidro de um salão de beleza, mas não descobrimos que famoso/a estava lá. aquelas lojas de ultra-luxo da rodeo drive não me enchem os olhos, mas a rua é bonitinha e agradável pra dar um passseio despretencioso, e só. de lá rumamos pra hollywood, que é BEM menos glamouroso, por mais surpreendente que possa parecer. é, na verdade, bastante decadente em alguns lugares. a calçada da fama me pareceu uma grande bobagem e tudo no fim da hollywod boulevard tem aquele inconfundível toque "caça-turista". nos encontramos com uma amiga da firma do cônjuge que passeava por lá com a família, ficamos admirando a vista do "hollywood sign" do terceiro andar do shopping anexo ao kodak theater e me diverti um pouco na virgin mega store - uma das poucas que ainda estava aberta nos eua.
no fim da tarde fomos conhecer manhatan beach, uma praiota mais ou menos onde eu finalmente tive o meu batismo de pacífico e mergulhei de corpo inteiro. ficamos lá matando as saudades da praia e do sol, sem grandes preocupações com o tempo. na volta ainda demos um pulo em venice beach, que pareceu ser simpática, e onde comemos no supostamente melhor italiano de l.a. (c&e trattoria), que de muito bom mesmo só tinha o pão de alho.
de repente, califórnia
o carrinho: tem gente que reclama de motorista de fim de semana, aquele que pela falta de prática do dia-a-dia, acaba se tornando um tremendo barbeiro. agora mentalize um motorista anual. é o meu caso, sou uma motorista de férias, dirijo uma vez por ano, quando viajo. mas até que não me saí mal. já tinha tido umas aulas de direção em um carro automático na casa da minha família em dayton, já que nunca tinha dirigido um, mas como diz minha irmã, com o que é bom a gente acostuma rápido, difícil é desacostumar. dirigir carro automático é ridículo, com gps então, a gente não tem nem que pensar muito, dá até pra fazer as unhas no trânsito. alugamos o carro dos meus sonhos, um pt cruiser, que é uma fofura vintage com os confortos da modernidade, um carro que lá é banal e aqui custa os olhos da cara. com ele, desbravamos a costa do pacífico até são francisco.