meu corpo, este ser estranho

pós-operada eu tenho as sensações mais bizarras. primeiro é achar uma posição, deitada, sentada ou em pé: tudo incomoda. às vezes é como se eu tivesse levado um chute na barriga. outras, sinto ela inchada como se eu tivesse acabado de bater dois pratos de feijoada. tem horas que arde, parece que estão jogando querosene quente numa ferida aberta. agora sem fazer drama, a maior parte do tempo eu só sinto como se tivese exagerado no abdominal.

ontem arrumei um rodo pra fazer de cajado. estava humilhante demais, então agora me contento em andar pela casa feito o corcunda de notredame.

não posso rir, não posso chorar, não posso tossir, nem espirrar. na primeira noite em casa engasguei, aí comecei a tossir e foi uma dor insuportável, não sabia se tossia, se gritava, na tentativa de conter a tosse parei de respirar e foi um deus-nos-acuda. fiquei triste nesse dia e me deu vontade de chorar. mas não podia soluçar, então apelei pra arte de chorar baixinho. ontem à noite foi o contrário. minha mãe entrou no quarto e contou uma coisa engraçada e eu simplesmente tive um ataque de riso. cada movimento involuntário da barriga produzia uma dor, e ao mesmo tempo que eu tinha vontade de chorar por causa da dor, não conseguia parar de rir. foi pura tragédia grega e eu achei que ia ficar louca. e assim eu entendi que tentar controlar as manifestações mais primitivas do corpo, como o riso, pode sim, levar à loucura.

fora isso, ao contrário do que eu dei a entender, está tudo bem. vou tentar aproveitar esse tempo em casa da melhor forma possível: dormindo e comendo bem, lendo, escrevendo, e, claro, sendo paparicada porque eu mereço :p

Nenhum comentário: