no museu de história natural de ny eu vi um pedacinho de um vídeo sobre a antropóloga margareth mead. nele, um outro antropólogo dava um depoimento sobre ela. ele dizia mais ou menos assim:
"ela [mm] me perguntou: 'você já viu alguém morrer?', eu disse 'não'. ela perguntou 'você já viu alguém nascer?' e eu respondi que não. então ela falou 'pois você deveria. você nunca viu ninguém morrer ou nascer porque vive em uma sociedade que se esconde da realidade."
aquilo foi pra mim uma paulada no estômago.
o velório do meu tio começou às 11 da noite de um domingo e só terminou às 18 do dia seguinte. é um ritual exaustivo, onde o sofrimento é prolongado. mas é humano. não foi um enterro rápido, asséptico como a maioria das pessoas prefere. não, todo mundo teve o seu tempo de sofrer, chorar, rezar, discursar, ficar em silêncio. apareceu até um bêbado-doido que se pôs a falar com o morto (que não conhecia) e chorar dizendo que também tinha perdido a mãe. foi um momento de tensão, o que esse louco vai fazer agora? mas depois de uns cânticos e umas ave-marias, que ele acompanhou a plenos pulmões, o maluco foi embora. depois de velar o corpo na santa casa da cidade pela noite e manhã adentro, o cortejo fúnebre seguiu para o vilarejo onde meus avós viveram e morreram. lá foi celebrada uma missa com três padres que conviveram com o meu tio e a família. e depois sim houve o enterro propriamente dito, quando o sol já estava se pondo. o dia estava lindo, a praça e a igrejinha enfeitados para o são joão. o cemitério, no alto do morro, cercado por montanhas, é a tradução literal da expressão "descansar em paz". foi um fim digno e não menos real.
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