se aliste, meu camarada!

domingão nublado em ipanema, viro a esquina da praia e dou de cara com uma cena mais ou menos assim:


logo em seguida vieram voando uns diversos helicópteros da marinha, compondo uma cena bem cinematográfica.
imediatamente começa a tocar na minha cabeça:

"se a guerra for declarada
em pleno domingo de carnaval
verás que um filho não foge à luta
brasil, recruta o teu pessoal
se a terra anda ameaçada
de se acabar numa explosão de sal
se aliste, meu camarada
a gente vai salvar o nosso carnaval"


[em tempo, descobri que a parafernália era para comemorar os 200 anos da abertura dos portos. tudo bem, mas preferi continuar acreditando que era a marinha comemorando a abertura do carnaval]

foto: o globo


circo do sol

na semana passada fui agraciada com um convite para o cirque du soleil. como sempre, encontrei uma boa oportunidade para filosofar.

a primeira coisa que chamou minha atenção [e depois eu vi que a minha amiga também ficou pensando a mesma coisa durante o espetáculo] foi como o ser humano pode ser aquilo que bem entende. como já disse, acredito que algumas coisas são pré-programadas, como o dna, mas existe uma vasta gama de opções a serem exploradas, experimentadas, desafiadas durante uma vida. por exemplo os artistas do circo, que podiam perfeitamente ser campeões olímpicos! o que eles fazem é incrível: sua capacidade de dar saltos, piruetas, de sustentar o corpo inteiro com uma mão e de se equilibrar numa corda bamba é igual ou superior a de um atleta. mas eles escolheram um caminho diferente: foram ser artistas de circo. poderiam ter ganho medalhas de ouro, poderiam ser mestres de ioga ou simplesmente professores de matemática. existem o que escolhem a glória, o aplauso, a competição, a ascenção espiritual ou o sossego. e ainda bem que existem as escolhas.

quanto mais impossível uma coisa nos parece, mais ela é admirada.

somos criaturas sádicas. no fundo, ficamos sempre na expectativa de que alguém erre, caia, faça uma bobagem.

mas, ao mesmo tempo, somos solidários e quando alguém de fato cai, aplaudimos com mais força, como quem diz: "tudo bem, cair faz parte, apesar disso você é um grande artista".

também somos solidários com aqueles que pagam mico. o sujeito é "pescado" da platéia, levado até o palco pra passar ridículo em público e nós aplaudimos pensando "coitado, eu não queria estar no lugar dele, vou bater palma para que ele não se sinta tão mal".

nossa alma estará a salvo enquanto formos capazes de rir dos palhaços.

mais uma do hortifruti

como diz meu amigo rogerito, deu na cara! eu tinha até arriscado "o advogado do quiabo", mas eles foram mais sagazes ainda e lançaram o "quiabo veste prada". ficou tão sensacional que todo mundo que via, me ligava na hora pra contar.
poxa, eu queria tanto emplacar um filme para o hortifruti!...

dia de caça

depois de quase um ano passando diariamente pela porta de um dos puteiros mais famosos da cidade, hoje me deu um estalo: os homens não vão ao puteiro comer ninguém. eles vão lá é pra serem comidos.

para uma mulher, comer um homem pode ser tarefa penosa e as putas merecem ser muito bem pagas por isso.

caras & bundas

toda vez que eu leio (sic) a caras, sou acometida por várias reflexões, hipóteses, elucubrações. vou compartilhar algumas delas aqui:



  • o marcos paulo deve estar mal de grana e começou a cobrar pra aparecer ao lado de aspirantes a celebridades pra dar uma bombadinha na "carreira" delas. fazem parte do pacote: capa ou matéria de destaque na caras, declarações do tipo "estou apaixonado" fulana é a mulher mais linda do brasil" "foi amor à primeira vista" e a promessa de um teste na globo (no qual elas nunca passam). na condição de filha do ministro a marina mantega (who?!) teve direito a muito mais coisa no contrato dela e apareceu em todas as revistas, por umas três semanas no ano passado, incluindo várias capas. não conseguiu um papel nem na turma do didi e hoje em dia ninguém mais sabe quem é ela. pior ainda a última ? penúltima ? cliente/namorada dele que ficou "conhecida" como "a ex mulher do marido brasileiro da athina onássis". tentou se livrar da alcunha virando a "namorada do marcos paulo" mas agora foi rebaixada a "ex-do marcos paulo". talvez tenha sido um erro de estratégia. a rotatividade é alta, era mais jogo ela ter ficado com a primeira opção.

  • tenho quase certeza que ou o marido da ana maria braga não tem um dente da frente ou está treinando para interpretar a hello kitty no cinema - já reparou que ele nunca aparece rindo, nem nas fotos do casamento? [pensando melhor, se eu estivesse casando com a ana maria braga também não estaria rindo nem um pouco]

  • também estou 99% certa de que existem umas pessoas cujo emprego é aparecer nessas revistas. elas não fazem nada na tv há anos, não estão com uma peça em cartaz, muito menos estrelaram um filme. como já passaram da idade de dar pinta em festa de debutante do interior, sua única fonte de renda vem das revistas. se bem que, se essa está com os dois pés na obscuridade, eles é que deveriam pagar pra aparecer. vai ver que trocam uma foto por um quilo de arroz aqui, posam por um quilo de feijão acolá, e assim vão vivendo. fazem parte desse grupo: cesar filho & elaine (who?!) mikely, milla christie, flavia monteiro e outros.

  • já um outro grupo até faz uma coisa aqui e ali na tv, mas estes provavelmente têm preguiça de cozinhar, ir ao mercado, enfim, consideram essas tarefas domésticas uma chatice. sendo assim, preferem fazer as refeições no castelo de caras, na ilha de caras, na vila de caras, na choupana de caras, etc. isso em troca de umas fotos e declarações imbecis, é claro. são desse time: josé de abreu, totia meirelles, oscar magrini, e por aí vai.

  • do que se trata* andreramosebrunochatobriand? [a resposta para esta pergunta merece um post à parte] *[sim, no singular, por que pra mim é uma coisa só]

  • esse negócio de tirar foto de comida é muito coisa de pobre. e quando resolvem descrever o cardápio de algum evento no meio da matéria? aff!...

  • fico constrangida com um monte de gente. a vera fischer, por exemplo, que resolveu pagar de pintora e escritora. aguarde um cd com os clássicos da bossa nova interpretados por vera fisher em meados do ano. assim ela consolida sua carreira de artista multitalentosa.

  • aliás, quase tudo me deixa constrangida: as declarações medíocres, o uso de expressões saídas dos livros do josé de alencar como "a boda", "seu amado", "estão enamorados", a cafonice desenfreada, as plásticas mal feitas, o jabá descarado e a própria existência de algumas pessoas como david brazil (who?!), hebe, cid moreira e muitas outras.

  • por essas e outras que há coisas que o dinheiro não compra: bom senso, bom gosto, noção do ridículo, vergonha na cara. chego mesmo a pensar que quanto mais dinheiro um sujeito propenso a estes desvios ganha, pior a situação: a cafonice fica potencializada, a falta de noção aumenta, a vergonha na cara desaparece de vez. sinceramente, ou uma pessoa recebeu muita bola ou está fora das suas faculdades mentais quando aparece na capa da revista, tomando prosecco na beira da piscina, com um sorriso declarando "sim, eu e fulano estamos nos separando". como assim?! vai resolver isso em casa, filha!

  • e quem pensa que só aqui no brasil esses mexericos fazem sucesso está redondamente enganado. os ingleses, apesar de serem muito diferentes de nós [já falamos um pouco disso aqui], também adoram uma fofoquinha, um barraquinho. só que sobre eles, eu tenho nutrido uma teoria conspiratória: acho que a família real é acionista majoritária do "the sun". assim, quanto mais escândalo na corte, mais jornal eles vendem, mais ricos eles ficam. tô com o pai do dodi: a morte da princesa foi armada. mas não por razões envolvendo nobreza ou religião. pra mim o principal objetivo do assassinato era vender tablóide.

agora, você pode me perguntar se eu ainda continuo "lendo" essas revistas, e eu respondo: to-da-se-ma-na! por que? para me distrair falando mal de tudo & todos e para me sentir a pessoa mais íntegra, sensata e bem vestida da face da terra. pobre e anônima, porém digna.

it's now or never

tenho a crença de que a maior parte dos acontecimentos de uma vida carrega em sua essência uma certa flexibilidade. isso quer dizer que se algo não aconteceu em um momento específico, pode vir a acontecer em outro e vice-versa. o destino não deve ser inexorável assim.
mas existem algumas raras situações em que o timing é fundamental. é agora ou nunca, já cantava elvis presley. se tem uma coisa que atiça a minha ira é perder o timing. sou capaz de passar anos remoendo uma palavra não-dita, uma atitude não-tomada, um beijo não-dado. deixar escapar um momento desses é jogar fora uma possibilidade no lixo não-reciclável das impossibilidades.

beautiful boy



close your eyes,
have no fear,
the monsters gone
,
he's on the run
and your daddy's here,

beautiful,
beautiful,
beautiful,
beautiful boy,

before you go to sleep,
say a little prayer,
every day in every way,
it's getting better and better
,

beautiful,
beautiful,
beautiful,
beautiful boy,

out on the ocean sailing away,
i can hardly wait,
to see you to come of age,
but i guess we'll both,
just have to be patient,
yes it's a long way to go
,
but in the meantime,

before you cross the street,
take my hand,
life is just what happens to you,
while your busy making other plans


beautiful,
beautiful,
beautiful,
beautiful boy

(john lennon)

quando eu crescer, quero ser antropóloga

para entender as pequenas diferenças culturais entre os povos, que fazem toda a diferença. ontem, num chope com uma amiga que mora em londres, estávamos discutindo algumas delas.
minha amiga sustenta a tese de que a depilação "brazilian" não cola lá porque as inglesas são muito contidas. ela diz que não consegue imaginar certos diálogos entre depiladora/cliente, bastante comuns aqui no brasil, por causa dessa suposta privação da intimidade dos ingleses. se aqui se ouve com muita naturalidade "vai fazer com calcinha ou sem?", "querida, me ajuda a abrir o bumbum, por favor", "qual formato você vai fazer, meu amor?" das depiladoras que desfrutam mais da nossa intimidade do que namorados e ginecologistas, enquanto executam seu nobre trabalho comentando a novela do dia anterior, na inglaterra a cena é impensável. por outro lado, as inglesas não têm vergonha de se despir em público, seja no banheiro da academia ou tomando sol nas praias e parques. e, se elas entornam uns pints além da conta, o que é bem freqüente, arrastam o primeiro que vêem pela frente e levam pro abate ali mesmo (no banheiro das boates, por exemplo). e ninguém tem nada a ver com isso.
as calcinhas são outro caso interessante. como se sabe, na europa inteira só se usa calcinha fio-dental. flagrar alguém pagando calcinha fio-dental é ter uma visão do inferno. o que para nós é um pouco grotesco, lá é normal. inclusive, eles defendem o uso desse tipo de calcinha porque dizem que ela é mais discreta e não marca a roupa. o que eu não sabia era que para os ingleses, a nossa calcinha, "normal" (nem fio-dental nem calçolão), pelo fato de geralmente marcar na roupa, é considerada vulgar!
sem fazer julgamento de valor destas questões enigmáticas, eu acho diferenças assim muito interessantes. o mundo ia ser chato se fosse todos fossem iguais. e deus não deixou de ser sábio quando fez essa distribuição de caretices e porra-louquices entre os povos, porque só ela garante o equilíbrio universal.

[taí, se não entendo os fenômenos culturais sob a ótica antropológica, pelo menos encontrei uma explicação mística satisfatória pras idiossincrasias do ser humano!...]

desmemoriada

de-tes-to quando não consigo lembrar de alguma coisa e fico só com peças soltas de um quebra-cabeça vagando pela minha memória. como o que a gente sente quando não sabe de onde conhece fulano mas lembra de algum detalhe desconexo sobre o fulano em questão, que nunca é suficiente para fazer a ponte. por exemplo, uma vez eu vi uma mulher em mauá que eu tinha certeza conhecer de algum lugar e me ocorreu que o nome dela era mônica. só não conseguia descobrir de onde era a tal mônica. para meu grande alívio, um tempo depois lembrei que ela tinha sido minha professora. se não é o nome, às vezes eu tenho o sentimento de ter convivido muito com a pessoa, outras eu relaciono o sujeito com alguma situação específica e vou tentando puxar os fios pra ver se monto o quadro todo na cabeça. geralmente é angustiante e, pior, não vou ganhar nada pela lembrança, ou seja, o melhor é deixar pra lá, mas quem disse que eu consigo?
agora mesmo estou passando por isso. sabe lá por quê, do nada me bateu na cabeça uma "cena" de um livro que eu li, um homem (?) se hospeda em uma estação de repouso (?) e conhece uma mulher e sua filha. acho que ficam amigos. acho que dão um passeio. talvez a filha seja um pouco mimada, acho que ela é doente e meio temperamental com a mãe. sei que esse é só trecho secundário do livro, não é a passagem principal dele (provavelmente por isso a minha dificuldade de lembrar o nome). não sei em que época se passa a história. tenho a sensação que o autor é europeu, talvez alemão, francês, ou russo. ou a história acontece em algum desses lugares. talvez o trecho esteja escrito em formato de carta...isso é tudo o que eu consigo lembrar e estou há horas tentando puxar na memória mais detalhes pra saber de que livro se trata. já fiz a lista dos livros que eu li em 2007 e o trecho não tem nada a ver com nenhum deles. o mais perturbador é que eu consigo "visualizar" a "cena" que eu criei enquanto lia aquilo! a nossa cabeça (ou será só a minha?) é bem estranha... acho que não vou dormir essa noite. será que eu li isso num livro mesmo? será que eu sonhei? socorro, alguém me ajuda!

balanço literário

também gosto de fazer uma retrospectiva do que eu andei lendo. fiquei com a impressão de que eu li mais em 2006, mas posso estar esquecendo um livro ou outro na lista...

- grande sertão: veredas de guimarães rosa - que susto de livro, que beleza. merece ser lido várias vezes, provavelmente com descobertas novas a cada vez, mas eu acho que ainda não estou pronta pra começar a reler livros.
- a vida como ela é de nelson rodrigues - nunca tinha lido nada dele de fato. gosto dos nomes dos personagens, dos diálogos, da gíria da época. achei um pouco repetitivo, mas valeu a pena.
- assessora de encrenca de gilda mattoso - divertido, leitura fácil com histórias divertidas sobre os grandes nomes da mpb. é mais leve, mas o noites tropicais é melhor. o ponto alto são as histórias envolvendo o vinícius, de quem ela foi a última mulher e o joão gilberto.
- a imortalidade de milan kundera - sou suspeita pra falar do meu atual autor favorito. as sacadas dele me deixam tonta. esse livro é um tico mais filosófico e a história é mais picotada do que a dos outros romances dele. ainda prefiro a brincadeira e a insustentável leveza do ser, mas esse também é *muito* bom.
- mentiras no divã de irvin d. yalom - fiquei um pouco decepcionada. o livro me pegou, mas o romance não me acrescentou nada, fora a distorção do que ele chama de psicanálise.
- uma casa no fim do mundo de michael cunnigham - definitivamente não foi o ano dos americanos. esse é do mesmo autor de as horas, mas não chega aos pés.
- vale tudo: o som e a fúria de tim maia de nelson motta - terminei de ler esses dias. adorei, devorei, morri de rir. inacreditável que tudo isso tenha acontecido com uma pessoa de verdade!

se eu lembrar de mais algum, acrescento.

balanço anual: fechamento 2007

como todo "querido diário" que se preze (e eu já tive vários, apenas esse é o primeiro "público"), é preciso, ao fim de todo ano, fazer uma prestação de contas de mim pra mim mesma.

a saber.

no ano fiscal de 2007 eu:

- me tornei uma dona-de-casa, com casa e dono
- engordei/emagreci/engordei
- tive alta da análise
- não tirei férias e viajei pouco (búzios, ibitipoca, são paulo)
- fui tanto à praia que não deu tempo de desbotar
- redescobri a alegria de ser rubro-negra
- fui a alguns shows, não tantos quanto eu gostaria de ter ido. idem para cinema e teatro.
- ganhei um sobrinho novo
- enchi de beijos os sobrinhos veteranos
- dei algumas festinhas, nenhum festão
- quase acabei a pós
- bebi menos
- devo ter feito uns 397 ppts, mas fiquei satisfeita com o resultado do trabalho
- plantei um blog!

apesar do fim de ano esquisito, na maior parte do tempo mantive a mente (in)quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.

ou seja, fechamos no azul.

o único desejo para 2008 é que seja um ano de cigarra, já que 2007 foi puro ano de formiga. contudo, espero não desapontar os acionistas: a produtividade não ficará comprometida com a cantoria das cigarras, pelo contrário! o jardim vibra e sorri quando elas cantam anunciando o sol!

o canto da cigarra é o despertador dos iluminados. que venha um 2008 ensolarado!

o último pôr-do-sol




a onda ainda quebra na praia,

espumas se misturam com o vento.

no dia em que você foi embora, eu fiquei

sentindo saudades do que não foi

lembrando até do que não vivi...


(lenine)


último pôr-do-sol de 2007