monday blues

um carro azul-bic para no sinal. suspiro. não sei por quê, mas aquele azul me dá uma tristeza profunda. passa uma menina andando de skate tomando mate no canudinho. ela usa óculos escuros vermelhos, apesar de não fazer sol. tão segura de si, flutua sobre o mundo com suas rodinhas. meu coração aperta ainda mais. queria ter a metade da sua segurança. a vida está suspensa e o dia será longo. quero passar logo a roleta, o motorista me dá um pito. sento no banquinho e obedeço ressentida. estou a ponto de chorar mas sei que não vou conseguir. hoje sou uma dama de negro que achou que fugiria da monotonia com sapatos, meias e unhas cor de sangue. é mais uma semana que se inicia. e não é bom sinal quando ela mal começou e eu não vejo a hora que acabe. nem sempre a vida é cor-de-rosa.

riso solitário

saí do prédio e deixei o porteiro gargalhando sozinho ouvindo um programa de rádio. sorri.
dá gosto ver gente rindo sozinha.
na rua, o sujeito anda com um sorriso na cara, pensamento longe. o que será que está passando pela sua cabeça? só pode que ser alguma coisa muito engraçada pra escapar da barreira da auto-censura e vir parar nos lábios.
rir junto também é muito bom, mas há sempre o risco de o intelocutor estar rindo por cortesia ou solidariedade com quem contou a piada. o riso solitário é a graça sincera.

facebook

? gozada essa coluna social rand?mica e variada. mas ? esquisito. acho que prefiro jornal, que tem curadoria.

[talvez eu seja old school e prefira mesmo os blogs, que voc? s? l? exatamente aquilo em que est? interessado, mesmo que seja a maior bobagem do mundo. os blogs devem acabar e eu vou ficar pra tr?s com meu excesso de caracteres.]

1001 utilidades

dia desses eu ganhei uma amostra gr?tis de len?os umedecidos vagisil. como o nome diz, j? deve dar pra imaginar pra que serve. eu sou do tempo em que higiene se fazia com o bom e velho sabonete. mas sei l?, n?, vai saber, maravilhas do mundo moderno. e guardei os tais lencinhos, pra uma eventual emerg?ncia que, sinceramente, eu esperava n?o ter. da? que tive.

num s?bado de ?cio, encasquetei que meu lindo notebook branco andava um pouco endardido. fui ver em f?runs de macman?acos como ? que fazia pra limpar macbook branco e uma das dicas era passar len?os umedecidos, daqueles de limpar bumbum de nen?m. bom, n?o tenho nenhum nen?m em casa mas... epa! tenho len?os umedecidos de limpar... deixa pra l?. e foi assim que meu mac ficou de novo branquinho e cheiroso com o patroc?nio de vagisil.

deus:

por favor,

não me deixe ser uma companheira como as que eu vejo por aí.

uma mãe como as que eu vejo por aí.

uma filha como as que eu vejo por aí.

uma irmã como as que eu vejo por aí.

uma chefe como as/os que eu vejo por aí.

não me deixe vestir umas roupas que eu vejo por aí.
muito menos me deixe agir com desleixo comigo mesma.

lembrai-me sempre dessas coisas que eu vejo por aí.
a auto-crítica de cada dia nos dai hoje, pra que eu não faça igual.

afasta de mim a auto-indulgência e a auto-referência.
me faça ver que o mundo não gira em torno dos meus probleminhas medíocres.

permita-me alguns deslizes, que são inevitáveis.

perdoai o meus pecados e assim como eu perdoarei a quem me tenha ofendido.

mas livrai-me de ser uma pessoa escrota.

obrigada,


amém.

insoc (!)

como todo mundo sabe, eu não saio mais porque estou velha. e todo mundo sabe também que eu sou um poço de contradições. daí que eu fui no show no information society e foi uma das coisas mais divertidas que eu podia ter feito.

primeiro é preciso situar information society: o information society, insoc para os íntimos, foi uma banda que fez sucesso de meados dos anos 80 até o início dos 90. ou seja, basicamente durante toda a minha adolescência. naquela época (eu acho) não existiam tantas variações pros ritmos da moda como existem hoje (trance, psy, drum'n'bass, sei-lá-mais-o-quê), então acho que o tipo de música que eles faziam era considerado dance ou pop e, mais precisamente, era o que embalava nossas festinhas. os sujeitos usavam uns cabelos espetados e se apresentavam de patins. mas o curioso mesmo é que eles eram o tipo de banda que só fez sucesso no brasil. sendo aqui provavelmente o único lugar da face da terra onde conseguiam ganhar algum trocado, eles fizeram shows do oiapoque ao chuí, inclusive em cidades que nunca tinham tido em sua história uma atração internacional. por isso, é bem possível que os membros da banda estivessem duros ou precisando de algum afago pro ego quando resolveram voltar ao brasil e fazer shows depois de tantos anos.

o fato é que o show foi uma boa surpresa. chegando no lugar eu farejei, positivamente, um ar de "festa estranha com gente esquisita". gente da minha idade ou mais velha que eu que deve ter deixado os filhos com os avós e saiu pra curtir a noite e relembrar os velhos tempos. pouca gente com "cara de zona sul", porque as pessoas da zona sul são cool demais pra admitir que gostaram um dia (e ainda gostam) de information society. e foi justamente um tipo de música diferente, leia-se diferente de sambinhas e afins, que me fez sair de casa porque, numa boa, já estou cansada das opções da noite carioca.

por um lado tenho um pouco de preconceito com gente que vive presa ao passado e respira nostalgia. dos tipos que só frequentam festas anos 80. acho que uma vez ou outra, tá bem, mas o sujeito só ser capaz de se divertir se entrar num túnel do tempo é meio demais. por outro lado, entrar no túnel do tempo às vezes pode ser bem legal. e eu entendi perfeitamente a catarse coletiva que aconteceu no show do information society. os caras tocaram todos os sucessos da época (que não eram poucos) e o povo foi ao delírio. no final, todo mundo queria bis, mas o vocalista disse humildemente "a gente não tem mais nenhuma música..." e o show terminou elegamentemente.

o ponto alto, claro, foi quando tocaram running. quem conhece, favor me dizer, em que outro contexto uma pessoa com mais de 30 anos, que não frequente o maracanã, tem a possibilidade de gritar a plenos pulmões "vai tomá no cu"* em coro com a multidão? não-tem-pre-ço!

*"now i don't want to play games with you (vai tomá no cu!)/but i don't know what to say to you (vai tomá no cu!)/the digits change so slowly now/i'm going it alone..."

manjericão & alecrim

dia desses eu fui na cadeg com juca e sua amiga muito simpática. programinha que, aliás, quero repetir. que delícia passar a manhã de sábado namorando flores, frutas e todo tipo de iguarias e depois parar para comer, tomar uma cerveja (que naquele dia não tomei por estar de dieta pela centésima nona vez), e ver o povo dançando danças portuguesas.

pois voltei pra casa carregando frutas mil, aspargos frescos e dois vasinhos: um de majericão e o outro de alecrim. minha primeira horta. nunca imaginei ter um empreendimento agrícola, apesar de a minha família vir "da roça". achei que as plantinhas não iam vingar. procurei no google sobre "como cultivar manjericão". folheei a coleção de casa cláudia pra ver se tinha alguma luz. rega muito? rega pouco? rega todo dia? então lembrei do meu pai.

lá pelos anos 80 entrou na moda um negócio chamado "silva mind control" (tá, o nome é bizarro) que consistia em o sujeito desenvolver os poderes do pensamento coisa e tal. e meu pai entrou de cabeça em um grupo. aí tinha uma experiência que era o seguinte: você pegava dois tomates, um deles você xingava, maltratava, falava coisas horríveis. é, pro tomate. o outro você tratava igual um bebê, chamava de querido, fazia carinho, etc. e o incrível é que o tomate relegado apodrecia rapidinho e o tomate mimado durava um tempão. era impressionante.

daí que eu comecei a falar com as minhas plantas. bom dia, lindinha, tudo bem? oi queridas, chegou a hora da rega, oi fofinhas, vamos tomar um banhinho? o manjericão já quase dobrou de tamanho e o alecrim tá lá firme e forte. o cônjuge acha esquisito isso de tratar com carinho uma coisa que você vai comer no dia seguinte, mas eu repliquei que ele faz o mesmo comigo. estou amando essa vida rural e tenho planos de fazer uma expansão pra outras culturas: tomilho, cebolinha e por aí vai. boa desculpa pra voltar na cadeg.

e resulta?

passei mal de rir com esse vídeo.



mas a partir da segunda vez que ví, que foi quando eu comecei a entender algumas coisas que eles falavam.

sério, cheguei à conclusão que não posso nunca ser assaltada por um português, sob o ristco de tomar um tiro no meio da cara. porque é um deles abrir a boca que me dá vontade de rir. que não me leve a mal, acho português falando fofo. é que o sotaque faz cosquinha.

e agora?

meu livro chegou. morrendo de vontade de começar a ler, mas não consigo ler dois livros ao mesmo tempo, ainda mais esse, que merece dedicação exclusiva. justo esse fim de semana eu comecei a ler um irvine welsh e engrenei. não estava conseguindo me concentrar em nada sério, começava vários livros e parava, coisa que me dá profunda agonia. aí eu apelei pro besteirol e deu certo. o problema é que eu apanho do inglês-escocês-de-rua e levo o dobro do tempo pra ler uma página. a capa de uma dessas istoé foi sobre ansiedade. era bom de ler a matéria.

4 coisas

1. uma coisa que eu queria muito, mas nunca terei: uma cozinha que nem essa.

(primeiro porque já tá difícil de ter uma cozinha, ponto. depois porque, mesmo que tivesse todas as condições financeiras, astrológicas e imobiliárias a meu favor, difícil seria convencer o cônjuge de que essa seria a cozinha dele)

2. uma coisa que eu queria muito e ganhei de aniversário: um set de canetinhas stabilo.

(não, eu não me canso de falar delas, que colorem meus cadernos, meus dias e minha mesa de trabalho)

3. uma coisa que eu queria muito e acabou de chegar pelo correio: vestidinho mexicano.

(além de mal poder esperar pra saracotear por aí com esse lindo modelito verão, agora estou realmente apta a fazer um ensaio fotográfico vestida de frida com ninguém menos que d.diego, dá licença?)

4. uma coisa que eu queria muito, já encomendei e está prestes a chegar: vida modo de usar, de georges perec.

(li esse livro - sensacional - há muitos anos, emprestado. faz uns meses me bateu um súbito desejo de ler de novo, fui procurar pra comprar e: esgotado! o preço nos sebos beirava uns 200 dinheiros e eu comecei minha busca insana por um exemplar. virou um fetiche. então, depois de muitos protestos e súplicas de fãs desesperados, a cia das letras resolveu relançar em versão pocket. no dia que soube, saí correndo pra comprar na primeira loja, porque não aguentaria esperar pela internet. ainda não tinham chegado ao estoque. o jeito foi encomendar na travessa online e aguardar ansiosamente.)