uma metáfora

durante uma consulta de rotina o seu dentista pede para você fazer um exame. você enrola e não faz. quando chega a data de ir novamente ao dentista você fica com vergonha de não ter feito o exame que ele mandou e desmarca a consulta. o pedido de exame perde a validade. você não tem coragem de voltar ao dentista para solicitar um outro pedido. a essa altura você já passou tanto tempo sem dar as caras que se sente constrangido de voltar ao consultório porque sabe que vai levar uma descompostura do dentista. e com isso passam-se anos e sua boca encheu de cáries.

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o processo de afastamento entre duas pessoas pode seguir mais ou menos esse modelo. você não liga, acha que o outro ficou puto, fica sem graça de ligar, o tempo passa e pluf. os dois se afastaram para sempre.

já me aconteceu algumas vezes e quase que acontece de novo com a minha família de intercâmbio. a gente não se via há 8 anos [durante toda a era bush, engraçado], desde o último encontro em londres. trocamos e-mails e cartas durante algum tempo e depois eu sumi. fiquei com vergonha de não ter dado as caras na ocasião do casamento da minha irmã mais nova e criei um bloqueio pra escrever. achava que ou escrevia uma carta enorme contando em detalhes tudo que tinha acontecido na minha vida nos últimos anos ou era melhor nem dar as caras. não conseguia começar. aí um dia mandei um e-mail. pedi desculpas, dei notícias, disse que estava viva. não foi uma carta épica, foi apenas um alô pra quebrar o gelo. a partir daí retomamos o contato e decidimos nos ver esse ano.

e foi tão bom, tão bom mesmo rever essas pessoas que nem pareceu que passou tanto tempo. foi como se tivesse sido ontem que a gente morava na mesma casa e dividia a vida.

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