[por falar em meia-calça]
existe um momento na vida do universitário em que ele deixa de ir pra faculdade de chinelo e passa a dar as caras embecado. veste com orgulho suas roupas de jovem executivo, mesmo que tenha apenas conseguido seu primeiro estágio não-remunerado. isso o distingue dos colegas, que ainda comparecem às aulas com suas bermudas surradas, e seu dress code quer dizer basicamente o seguinte: "eu entrei para o mercado de trabalho e uma carreira promissora como xxx me aguarda, enquanto vocês, seus vagabundos de merda, vão ficar em casa vendo sessão da tarde". (mal sabem eles o quanto sentirão saudades das tardes em frente à tv pelos próximos 30 anos!...)
nas carreiras "uniformizadas" a distinção entre os neo-trabalhadores e a massa de derrotados fica mais patente ainda: que dizer dos estudantes de direito que começam a dar pinta na faculdade trajando orgulhosamente o terno do pai? e dos estudantes de medicina, fisioterapia, odonto e afins quando vestem seus primeiros jalecos brancos?
no meu primeiro estágio, não tive a oportunidade de mostrar para o mundo que ali se iniciava um futuro brilhante. eu trabalhava na casa do chefe, que dava expediente de samba-canção e camiseta furada. era uma esculhambação tremenda e eu ia trabalhar de short.
em contrapartida, o meu segundo estágio foi em uma repartição "séria" e aí sim eu tive a oportunidade de ir montada pro trabalho. como a ocupação que eu escolhi em geral não comporta ambientes muito formais, mesmo os que já estagiavam não precisavam trocar o chinelo pelo terno, podiam usar no máximo um tênis ou um mocassim porque nessa profissão é legal parecer descolado. só que naquela repartição a indumentária dos funcionários ficava em algum lugar entre o esporte fino e o passeio completo e eu achava o máximo aparecer na faculdade de meia-calça e salto alto com ares de business woman. com minha soberba eu queria dizer basicamente o seguinte: "não apenas eu entrei pro mercado de trabalho como ando muito mais arrumada do que todos vocês, o que significa que serei uma executiva de sucesso e atingirei o ponto mais alto da minha carreira".
muitos anos depois... [que nem novela]
hoje em dia bato ponto numa dessas firmas onde é legal parecer descolado. se estou com vontade de trabalhar de salto alto vou, se quiser ir de tênis, tudo bem também. na verdade não me importo muito. há alguns anos me afastei do ideal de ser uma executiva de sucesso. meu trabalho paga minhas férias, meu chiclete e minhas figurinhas, o que, por si só já é genial.
não tenho exatamente saudades de ficar na frente da tv à tarde. estranhamente, sinto uma imensa nostalgia daquele meu primeiro estágio, quando a gente comia um pacote de chocolícia branco por dia e não engordava, quando uma das minhas atividades no trabalho era ficar pensando em alguma coisa pra irritar o filho do chefe, quando almoçávamos um cachorro-quente da van por 1,50 que era pra sobrar algum pra cerveja no bar da faculdade. e ainda dava pra pagar as férias.
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Um comentário:
ai quesaudades do sujinho!
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