o paradoxo da diversidade na infância

durante o primário todas as crianças da minha escola tinham uma merendeira de plástico para levar o lanche, mas eu carregava uma bolsinha de couro com uma cara de garotinha pintada, possivelmente comprada em são lourenço. a maioria dos meus coleguinhas recebia o dinheiro da merenda e comprava um hambúrguer com coca-cola na hora do recreio, mas eu comia cenoura crua com suco de caju.

nas aulas de música aprendíamos a tocar flauta doce e cada um tinha seu próprio instrumento. a flauta padrão da turma era uma de plástico, vendida em cores diversas. a minha, claro, tinha que ser diferente. era uma flauta de madeira desenterrada de algum lugar da minha casa, o que fez meus pais aproveitarem a oportunidade para riscar mais um item da "lista de material". provavelmente a qualidade do som da minha flauta de madeira era muito melhor do que a das flautas de plástico dos outros alunos, mas o fato é que eu me sentia um e.t.

não culpo meus pais por isso. acho até que eles tiveram um alto grau de bom senso na minha educação em geral, me alimentando de forma saudável, destimulando um consumismo despropositado, reciclando... acho mesmo que faria (farei?) a mesma coisa com minha própria cria na condição de mãe. que legal incentivar a diversidade desde a infância. mas por que será que os pais não entendem que, nessa idade, tudo o que as crianças querem é serem iguais umas das outras?

[a propósito das aulas de música, me lembro de um dia em que uma americana - não sei por que motivo - foi visitar a escola. então me chamaram para fazer um "recital" e eu toquei "oh susana" na flauta pra ela. aparentemente era uma música que eu gostava/sabia tocar. ela gostou (ou fingiu gostar) e eu fiquei toda pimpona. pode ser que tenha sido fofo ou altamente constrangedor. isso eu nunca vou saber.]

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