o caju

o cemitério do caju será a estação final (ou, vai saber, estação de transferência para a linha 2) da minha vida e de toda a minha família. por isso é bom ir me acostumando com esse lugar tão peculiar. a localização já não é das melhores: no início da avenida brasil. a entrada, onde ficam as capelas em que os corpos são velados, também não é exatamente um cartão de boas vindas a altura do que se esperaria da nossa última parada. não tem nada de macabro o local, é apenas deprimente, com uma "recepção" que parece o arquétipo da repartição pública decadente, umas "capelas" azulejadas e feias, uma cantina horrenda e, como se não bastasse, vários cachorros que ficam dormindo pelos cantos. por incrível que pareça, o cemitério propriamente dito é mais agradável. tem longas ruas, umas poucas árvores, milhares de jazigos. é árido demais pro meu gosto, mas eu estarei embaixo da terra e não vou ver nada mesmo.

não tenho problemas com cemitérios. obviamente a experiência de ir a um não é nada agradável, mas simplesmente pelo motivo que me levou até lá, não tem a ver com o lugar em si. normalmente me distraio olhando as fotos, os nomes e as datas dos túmulos, mas ontem não tive tempo. cheguei atrasada e me perdi das pessoas. de repente, estava sozinha naquele deserto de concreto e lápides e bateu um desespero. então respirei fundo e pensei: "calma, não tem ninguém aqui. se tiver que ter medo de alguém, que seja dos vivos." e tratei logo de achar quem eu procurava.
um cemitério é apenas um cemitério. não é sinistro, não é místico, é só um lugar onde os vivos enterram seus mortos. e, exceto talvez pelo crematório, até hoje não inventaram uma solução melhor pra essa função ingrata.

Nenhum comentário: