voltei, recife

foi o batizado do 03 que me trouxe pelo braço. explico: a família materna de 03 é da terra do frevo, uma gente adorável. 03 é um garoto de sorte e do alto da sua breve existência deve desconfiar disso, porque conserva uma expressão tranquila e atenta, que lhe conferiu o apelido de sereníssimo por parte do avô paterno. o consorte foi o padrinho, mas por pouco não perdeu o posto para um qualquer que estivesse de calça comprida, já que ele trajava bermudas no dia do batizado e o padre era muito rigoroso. foi um deus-nos-acuda quando o consorte desceu do carro e a família olhou horrorizada para sua bermuda. sinceramente não me ocorreu ser um pecado muito grave batizar alguém com as pernas de fora, principalmente nos trópicos, mas há que se respeitar as tradições. felizmente a sacristã descolou umas calças de defunto que lhe couberam e tudo correu bem.

o recife antigo não é mais aquele - fomos dar uma voltinha por lá no sábado à noite e fiquei um pouco decepcionada com a escassez de agito. tinham uns poucos bares abertos na rua da moeda, que até tinham algum charme, mas estava longe de ser uma lapa com sotaque, como outrora eu conheci a região. fiquei me perguntando onde o 04 bebia quando voltava à cidade. concluí que 04 é o rei e ele bebe onde bem entende.

a macaxeira continua a tal - imbatível, cozida, comme il fault.

linguiça de bode experience - até os 29 anos nunca tinha tido tv a cabo em casa. e continuaria sem fazer a menor falta, não fossem os programas de viagem, que eu adoro. pois bem, a nova onda do momento nesses programas é comer comidas exóticas, provar iguarias regionais. foi influenciada por essa onda que eu entrei numas experimentar uma linguiça de bode. não que bode seja exótico no recife, bode lá é mainstream. mas pra mim, garotinha juvenil, criada a ovomaltino e leite de pêra, bode é pra lá de underground. só que aquela reação que os apresentadores dos programas de viagem costumam ter [fechar os olhinhos e suspirar "hum, nunca comi nada igual"] não rolou comigo. o problema não é exatamente o bode, o gosto é parecido com o do carneiro, cordeiro e afins. só que, apesar do dna libanês, eu não consigo apreciar o gosto forte dos ovinos. lembrar da próxima vez: não comer nenhum quadrúpede de áries.

pronto! - relembrei como prónto, com sotaque assim, é lindo! tudo é pronto pro pernambucano. aprendi uma expressão nova: fulano se abusou. é muito melhor que o anglicismo fulano se estressou. vou incorporar ao vocabulário.

da mutabilidade das percepções - na primeira vez que fui a recife na vida adulta, tinha vinte e pouquíssimos e vinha de um lugar chamado carne de vaca, onde me hospedei num barraco sem água corrente habitado por ratos e baratas. ao chegar no recife, fiquei numa "pousada" na boa viagem chamada uzimar, que era muito simples, mas eu achei que estava no copacabana palace. [quer o endereço do uzi? clique aqui]
aos vinte e mais alguns, voltei e fiquei de novo no, carinhosamente apelidado, uzi. com um olhar mais apurado, pude perceber que ele estava mais pra um cafofo sórdido que pro copa. só que o preço de banana, todo o álcool e carnaval, o café da manhã do outro lado da rua no primo rico da "rede", o uzipraia, e o principal, a cama para desabar no fim do dia, me fizeram relevar os pontos fracos do uzi.
aos trinta, tive minha redenção: boiando na piscina de um confortável 4 estrelas, cheguei à conclusão que eu fiquei um pouco fresca e certamente mais exigente. o uzi foi bom um dia, mas ele na realidade era uma bomba. tem horas que é bom não ter mais vinte anos.

[não confundir 04 com um possível quarto sobrinho. 04 é fred. 04 é tuda.]

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