segunda-feira. o dia chegou normal, nem bom nem ruim, apenas mais uma semana começando. estava saindo de casa relativamente cedo mas, quando estava com a chave na porta me deu uma dor de barriga. achei mais prudente voltar do que esperar chegar no trabalho, e com isso me atrasei um pouco. ainda dentro do horário, fui tirar um dinheiro, já que eu só ando sem um tostão e o pobre-card que me garante o direito de ir e vir estava sem crédito. os dois caixas do banco perto de casa estavam fora do ar. com um pouco de raiva, resolvi arriscar e pegar o ônibus mesmo assim, afinal de contas hoje é dia 3 e o cartão já deveria estar recarregado. não estava.
desci do ônibus já com bastante ódio no coração e fui andando até outro banco pra sacar o dinheiro. como alguém tinha que levar a culpa de tamanha desgraça, liguei pro meu consorte e descasquei em cima dele, que não tinha me deixado o dinheiro da passagem (pobreza!). com a grana na mão, fui bufando a até o ponto de ônibus mais próximo, quer dizer, que eu julgava ser mais próximo porque ele ficava a vários quarteirões de distância. a essa altura eu já estava bem atrasada e a cada minuto que o ônibus demorava a passar minha impaciência aumentava e eu tinha vontade de gritar. até que ele veio, eu subi e tentei respirar fundo, refletindo sobre como eu era miserável naquela manhã. quase chegando no trabalho, vi da janela do ônibus um sujeito, no meio do nada, de roupa social, um sol de rachar na cabeça, tentando ajeitar alguma coisa no pé: a sola do sapato que tinha descolado inteira. aí eu pensei com uma ponta de satisfação: tem alguém pior que eu.
não era verdade. ao chegar na firma, que está em obras, reparei que minha mesa, minha cadeira, meu computador, tudo enfim, estava recoberto por uma camada de poeira. nossa cocheira fica na faixa de gaza, o que nos separa da obra é apenas uma cortina de plástico preto, estendida quase na nossa cara. eu, que não sofro de alergias e frescuras afins, comecei a espirrar e ficar com a garganta seca. eis que começa um som de britadeiras. insana, subi na cadeira e escrevi "insalubridade já!"com giz sobre o plástico preto, como sinal de protesto. não foi o meu protesto que surtiu efeito, mas o dos demais escritórios do prédio que pediram gentilmente que o barulho fosse evitado durante o horário comercial. se o barulho chegou a incomodar as pessoas dos outros andares do prédio, imaginem a mim, que estava apenas do outro lado da cortina...
cheia de dor de cabeça e com um humor do cão, fui almoçar. a mudança de ares me fez bem, mas na volta para o trabalho eu pisei num cocô. consegui administrar a tarde, mas quando deu seis em ponto a britadeira voltou com força total, junto com o meu mau humor. no auge do barulho me liga o consorte com a inacreditável notícia de que não ia poder viajar na data que tínhamos combinado. soltei marimbondos pelo telefone. um som de sirenes e buzinas se misturou ao som da britadeira, agora que a janela também fica aberta. a beira de um ataque de nervos, o mais sensato era vir pra casa. no ônibus, quase chegando, sinto uma coceirinha na perna. olho pro lado e... uma barata! chega. é demais. vou me esconder no chuveiro. o dia precisa acabar antes que eu cometa um crime.
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