a nossa realidade anda tão, mas tão distorcida, que a gente se acostuma com tudo o que não é pra ser considerado "normal" - violência, miséria, falta de gentileza, etc. comigo aconteceu uma coisa ainda mais esquisita: não só me acostumei com o sem-teto que passa as noites embaixo da marquise do meu prédio como passei a nutrir uma simpatia por ele. é um sem-teto relativamente novo, não sei precisar a idade, mas já passou da adolescência. ele guarda suas coisas em uma mala de rodinha dessas grandes e tem um cachorro preto que está sempre com ele. quase toda noite quando eu chego, ele está deitado em um colchão com sua coberta (o "ambiente" tem uma certa ordem) lendo um livro ou simplesmente fazendo um carinho no cachorro ou dormindo abraçado com ele. é, no mínimo diferente.
do lado de casa tem um restaurante-lounge-sei-lá-mais-que metido a granfino. ontem quando nós chegamos, estacionada a uns três metros da "casa" do sem-teto, estava uma mercedes dessas coupê. eu não sou daquelas que acha criminoso ter uma mercedes, mesmo no brasil (desde que ela tenha sido comprada com dinheiro "limpo"), apesar de achar que eu mesma jamais teria uma, ainda que tivesse condições. mas uma cena dessas não deixa de ser desconcertante e põe a gente pra pensar no cânion social que vai se abrindo numa sociedade como essa onde, ao mesmo tempo, as distâncias físicas da desigualdade são mínimas.
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