a mais nova tinha um gato e a mais velha vivia implicando com ele. tem gente que não é muito afeita aos bichanos em geral, e a mais velha pertencia a essa categoria. um dia a mais nova foi pra escola e quando voltou, não encontrou mais o gato em casa. a mais velha tornou-se a principal suspeita de ter dado um sumiço no bicho de estimação da irmã. depois de ter negado veementemente, ficou um pouco chateada, afinal de contas não tinha simpatia pelo gato, mas também não era nenhuma assassina de animais. na esperança de recuperar o bichinho, os pais espalharam uns cartazes na vizinhança, pedindo que quem encontrasse um gato com as características assim e assim, devolvesse na casa tal. passaram uns dias e nada de notícias.
nesse meio tempo, a mais nova estava passando pelo centro da cidade e viu um gatinho sendo vendido numa gaiola minúscula, exposto sob um sol inclemente. ficou arrasada. contou a história para o pai que, penalizado, resolveu ir até lá e comprar o gato desidratado para a filha, como uma forma também de compensar a perda do outro. a mais velha dessa vez não disse nada, achou que se se manifestasse contra o novo gato e algo acontecesse, se sentiria culpada.
dias depois, o pai chega com uma carta deixada na caixa do correio, que dizia mais ou menos assim:
“no outro dia vi uma menina saindo para a escola de manhã cedo e quando ela abriu o portão de casa vi que um gatinho escapuliu. ME APAIXONEI. peguei o gatinho para mim. não foi roubo, o gato fugiu. fiquem tranqüilos, o gato está sendo muito bem tratado. MAS NÃO VOU DEVOLVER!!! que deus abençoe esta família.” a carta terminava com um salmo.
todos ficaram perplexos de alguém roubar um gato e ainda dar satisfação através de uma cartinha anônima pra lá de esquisita. a mãe começou a matutar e concluiu que, para a pessoa ter visto a filha saindo de manhã bem cedo, provavelmente morava nas redondezas. e que, por causa do salmo escrito no final, deveria ser evangélica. assim, resolveram reeditar o cartaz de “procura-se”, incluindo um salmo pertinente à situação, e colocaram no quadro de avisos da igreja evangélica do bairro. não acreditaram que ia dar em alguma coisa, mas se o ladrão de gatos entendesse o recado, ficaria pelo menos constrangido.
era um sábado e a família estava reunida na varanda, quando de repente vêem um objeto não-identificado de plástico voar por cima do muro. ainda sob o efeito do susto, decidem abrir o saco e, para espanto geral, sai de lá o gatinho roubado, devolvido pelo crente “arrependido” ou, no mínimo, enfurecido. assim, apesar dos elementos bizarros, a história teve final feliz para todos. ou melhor, para todos menos para a mais velha porque, como se não fosse suficiente para ela ter que aturar um gato, acabou tendo que conviver com dois!
[ouvi essa história há uns meses e achei ela tão boa que quis deixar registrada. aos que me contaram, perdoem se não fui tão fiel aos fatos. façam de conta que é licença poética! ;)]
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