a nossa realidade anda tão, mas tão distorcida, que a gente se acostuma com tudo o que não é pra ser considerado "normal" - violência, miséria, falta de gentileza, etc. comigo aconteceu uma coisa ainda mais esquisita: não só me acostumei com o sem-teto que passa as noites embaixo da marquise do meu prédio como passei a nutrir uma simpatia por ele. é um sem-teto relativamente novo, não sei precisar a idade, mas já passou da adolescência. ele guarda suas coisas em uma mala de rodinha dessas grandes e tem um cachorro preto que está sempre com ele. quase toda noite quando eu chego, ele está deitado em um colchão com sua coberta (o "ambiente" tem uma certa ordem) lendo um livro ou simplesmente fazendo um carinho no cachorro ou dormindo abraçado com ele. é, no mínimo diferente.
do lado de casa tem um restaurante-lounge-sei-lá-mais-que metido a granfino. ontem quando nós chegamos, estacionada a uns três metros da "casa" do sem-teto, estava uma mercedes dessas coupê. eu não sou daquelas que acha criminoso ter uma mercedes, mesmo no brasil (desde que ela tenha sido comprada com dinheiro "limpo"), apesar de achar que eu mesma jamais teria uma, ainda que tivesse condições. mas uma cena dessas não deixa de ser desconcertante e põe a gente pra pensar no cânion social que vai se abrindo numa sociedade como essa onde, ao mesmo tempo, as distâncias físicas da desigualdade são mínimas.
os classe ab sem-noção
(parte 1)
assim como já disse que a inteligência não tem nada a ver com classe social, da mesma forma está claro pra mim que a educação (ou falta de) também não. talvez ainda exista uma ilusão de que boas maneiras e um nível econômico mais alto estão correlacionados, afinal de contas, teoricamente, aquele que tem condições é mais “escrarecido”, como diria minha avó, pouco letrada e educadíssima. que ninguém se engane! os classe ab sem-noção fazem bandalhas como quaisquer outros. eles estão por toda parte e vão pouco a pouco envenenando o nosso dia-a-dia.
pra mim, as pessoas que andam no acostamento são as mesmas que furam fila e atendem o celular no teatro. trata-se da mesma raça que joga lixo na praia, na rua ou pela janela do carro. ou seja, o tipo de gente que deixa o cão cagar na rua e não limpa, que coloca o som alto em qualquer lugar, não importa a hora ou que compra coisas roubadas porque é mais barato.
esse povo só pode ser farinha do mesmo saco, porque suas condutas se baseiam em uma premissa única: o mundo gira em torno do meu umbigo, danem-se os outros. por “menores” que possam parecer suas faltas, elas denotam um tipo de princípio que representa a degradação da vida em sociedade.
definitivamente essas pessoas não merecem o meu respeito. para elas eu rogo uma praga bem pior do que uma simples diarréia com tosse eterna. imagino um castigo com um pouco mais de requintes de crueldade.
(parte 2)
a praga
considerando que os classe ab sem-noção têm um comportamento relativamente homogêneo, para facilitar o projeto de vingança vou criar um personagem, chamado abílio, que representa esse tipo de gente ao qual me refiro.
o que eu desejo que aconteça é mais ou menos o seguinte:
para ostentar seus pequenos luxos, abílio se endivida no cartão. depois de quebrar no banco, no ibi, na liderança e no taíí, abílio vai pedir um empréstimo na zogbi, a financeira que tem o netinho como garoto-propaganda. sua “desmoralização” começa aí, mas isso é apenas o início.
abílio está sem grana mas não perde a pose. um dia, enquanto dirigia feito louco, o carro da sua frente joga uma lata pela janela que bate no seu vidro. abílio perde a direção e bate. sai com algumas luxações, seu carro fica estropiado, mas ele não tem dinheiro para consertar. como seu plano de saúde está atrasado, abílio é obrigado a ir para um hospital do sus. chegando lá, padece horas na fila, porque alguns casos mais urgentes passam sua frente. seu estado não é grave, mas resolvem deixá-lo em observação, num quarto cheio de pacientes que gemem bastante durante a noite. fica esquecido por uma semana, ao fim da qual pega uma infecção hospitalar. a situação se complica e, ao fim de mais uma semana, abílio fica paralítico. entrou no hospital luxado e saiu de cadeira de rodas.
por causa de sua nova condição de cadeirante, abílio se muda para o andar térreo do prédio. seus vizinhos de cima não respeitam e jogam toda a sorte de porcarias no seu quintal, que ele recolhe com imensa dificuldade. o namorado da vizinha costuma parar o carro bem embaixo da sua janela e liga o rádio bem alto enquanto espera a amada descer. é a mesma coisa na volta, em torno das 3hs da manhã. abílio sofre de insônia e geralmente à essa hora acabou de dormir quando é acordado novamente pelo som do carro aos berros.
um dia, perambulando pela rua e se perguntando que mal fez pra merecer esse destino, abílio passa sem perceber com a roda da sua cadeira em um belo cocô de cachorro. sua mão se enche de merda. como a roda da cadeira é cheia de nervurinhas, os pedacinhos de cocô ficam presos nela e vão se soltando no tapete de abílio quando ele chega em casa. o ambiente fica com um fedor incrível.
abílio está a ponto de explodir. com a casa imunda e fedendo a merda, resolve dar um fim na própria vida. conclui que a maneira mais simples de se matar é enfiando a cabeça no forno. depois de passar algumas horas retorcido ao pé do fogão, percebe que não está nem perto do alívio da morte. então se lembra: há meses não paga a conta de gás.
***
cuidado, abílios do meu brasil. praga de libanesa costuma ser tiro e queda.
assim como já disse que a inteligência não tem nada a ver com classe social, da mesma forma está claro pra mim que a educação (ou falta de) também não. talvez ainda exista uma ilusão de que boas maneiras e um nível econômico mais alto estão correlacionados, afinal de contas, teoricamente, aquele que tem condições é mais “escrarecido”, como diria minha avó, pouco letrada e educadíssima. que ninguém se engane! os classe ab sem-noção fazem bandalhas como quaisquer outros. eles estão por toda parte e vão pouco a pouco envenenando o nosso dia-a-dia.
pra mim, as pessoas que andam no acostamento são as mesmas que furam fila e atendem o celular no teatro. trata-se da mesma raça que joga lixo na praia, na rua ou pela janela do carro. ou seja, o tipo de gente que deixa o cão cagar na rua e não limpa, que coloca o som alto em qualquer lugar, não importa a hora ou que compra coisas roubadas porque é mais barato.
esse povo só pode ser farinha do mesmo saco, porque suas condutas se baseiam em uma premissa única: o mundo gira em torno do meu umbigo, danem-se os outros. por “menores” que possam parecer suas faltas, elas denotam um tipo de princípio que representa a degradação da vida em sociedade.
definitivamente essas pessoas não merecem o meu respeito. para elas eu rogo uma praga bem pior do que uma simples diarréia com tosse eterna. imagino um castigo com um pouco mais de requintes de crueldade.
(parte 2)
a praga
considerando que os classe ab sem-noção têm um comportamento relativamente homogêneo, para facilitar o projeto de vingança vou criar um personagem, chamado abílio, que representa esse tipo de gente ao qual me refiro.
o que eu desejo que aconteça é mais ou menos o seguinte:
para ostentar seus pequenos luxos, abílio se endivida no cartão. depois de quebrar no banco, no ibi, na liderança e no taíí, abílio vai pedir um empréstimo na zogbi, a financeira que tem o netinho como garoto-propaganda. sua “desmoralização” começa aí, mas isso é apenas o início.
abílio está sem grana mas não perde a pose. um dia, enquanto dirigia feito louco, o carro da sua frente joga uma lata pela janela que bate no seu vidro. abílio perde a direção e bate. sai com algumas luxações, seu carro fica estropiado, mas ele não tem dinheiro para consertar. como seu plano de saúde está atrasado, abílio é obrigado a ir para um hospital do sus. chegando lá, padece horas na fila, porque alguns casos mais urgentes passam sua frente. seu estado não é grave, mas resolvem deixá-lo em observação, num quarto cheio de pacientes que gemem bastante durante a noite. fica esquecido por uma semana, ao fim da qual pega uma infecção hospitalar. a situação se complica e, ao fim de mais uma semana, abílio fica paralítico. entrou no hospital luxado e saiu de cadeira de rodas.
por causa de sua nova condição de cadeirante, abílio se muda para o andar térreo do prédio. seus vizinhos de cima não respeitam e jogam toda a sorte de porcarias no seu quintal, que ele recolhe com imensa dificuldade. o namorado da vizinha costuma parar o carro bem embaixo da sua janela e liga o rádio bem alto enquanto espera a amada descer. é a mesma coisa na volta, em torno das 3hs da manhã. abílio sofre de insônia e geralmente à essa hora acabou de dormir quando é acordado novamente pelo som do carro aos berros.
um dia, perambulando pela rua e se perguntando que mal fez pra merecer esse destino, abílio passa sem perceber com a roda da sua cadeira em um belo cocô de cachorro. sua mão se enche de merda. como a roda da cadeira é cheia de nervurinhas, os pedacinhos de cocô ficam presos nela e vão se soltando no tapete de abílio quando ele chega em casa. o ambiente fica com um fedor incrível.
abílio está a ponto de explodir. com a casa imunda e fedendo a merda, resolve dar um fim na própria vida. conclui que a maneira mais simples de se matar é enfiando a cabeça no forno. depois de passar algumas horas retorcido ao pé do fogão, percebe que não está nem perto do alívio da morte. então se lembra: há meses não paga a conta de gás.
***
cuidado, abílios do meu brasil. praga de libanesa costuma ser tiro e queda.
não-ficção: o gato de jesus
a mais nova tinha um gato e a mais velha vivia implicando com ele. tem gente que não é muito afeita aos bichanos em geral, e a mais velha pertencia a essa categoria. um dia a mais nova foi pra escola e quando voltou, não encontrou mais o gato em casa. a mais velha tornou-se a principal suspeita de ter dado um sumiço no bicho de estimação da irmã. depois de ter negado veementemente, ficou um pouco chateada, afinal de contas não tinha simpatia pelo gato, mas também não era nenhuma assassina de animais. na esperança de recuperar o bichinho, os pais espalharam uns cartazes na vizinhança, pedindo que quem encontrasse um gato com as características assim e assim, devolvesse na casa tal. passaram uns dias e nada de notícias.
nesse meio tempo, a mais nova estava passando pelo centro da cidade e viu um gatinho sendo vendido numa gaiola minúscula, exposto sob um sol inclemente. ficou arrasada. contou a história para o pai que, penalizado, resolveu ir até lá e comprar o gato desidratado para a filha, como uma forma também de compensar a perda do outro. a mais velha dessa vez não disse nada, achou que se se manifestasse contra o novo gato e algo acontecesse, se sentiria culpada.
dias depois, o pai chega com uma carta deixada na caixa do correio, que dizia mais ou menos assim:
“no outro dia vi uma menina saindo para a escola de manhã cedo e quando ela abriu o portão de casa vi que um gatinho escapuliu. ME APAIXONEI. peguei o gatinho para mim. não foi roubo, o gato fugiu. fiquem tranqüilos, o gato está sendo muito bem tratado. MAS NÃO VOU DEVOLVER!!! que deus abençoe esta família.” a carta terminava com um salmo.
todos ficaram perplexos de alguém roubar um gato e ainda dar satisfação através de uma cartinha anônima pra lá de esquisita. a mãe começou a matutar e concluiu que, para a pessoa ter visto a filha saindo de manhã bem cedo, provavelmente morava nas redondezas. e que, por causa do salmo escrito no final, deveria ser evangélica. assim, resolveram reeditar o cartaz de “procura-se”, incluindo um salmo pertinente à situação, e colocaram no quadro de avisos da igreja evangélica do bairro. não acreditaram que ia dar em alguma coisa, mas se o ladrão de gatos entendesse o recado, ficaria pelo menos constrangido.
era um sábado e a família estava reunida na varanda, quando de repente vêem um objeto não-identificado de plástico voar por cima do muro. ainda sob o efeito do susto, decidem abrir o saco e, para espanto geral, sai de lá o gatinho roubado, devolvido pelo crente “arrependido” ou, no mínimo, enfurecido. assim, apesar dos elementos bizarros, a história teve final feliz para todos. ou melhor, para todos menos para a mais velha porque, como se não fosse suficiente para ela ter que aturar um gato, acabou tendo que conviver com dois!
[ouvi essa história há uns meses e achei ela tão boa que quis deixar registrada. aos que me contaram, perdoem se não fui tão fiel aos fatos. façam de conta que é licença poética! ;)]
nesse meio tempo, a mais nova estava passando pelo centro da cidade e viu um gatinho sendo vendido numa gaiola minúscula, exposto sob um sol inclemente. ficou arrasada. contou a história para o pai que, penalizado, resolveu ir até lá e comprar o gato desidratado para a filha, como uma forma também de compensar a perda do outro. a mais velha dessa vez não disse nada, achou que se se manifestasse contra o novo gato e algo acontecesse, se sentiria culpada.
dias depois, o pai chega com uma carta deixada na caixa do correio, que dizia mais ou menos assim:
“no outro dia vi uma menina saindo para a escola de manhã cedo e quando ela abriu o portão de casa vi que um gatinho escapuliu. ME APAIXONEI. peguei o gatinho para mim. não foi roubo, o gato fugiu. fiquem tranqüilos, o gato está sendo muito bem tratado. MAS NÃO VOU DEVOLVER!!! que deus abençoe esta família.” a carta terminava com um salmo.
todos ficaram perplexos de alguém roubar um gato e ainda dar satisfação através de uma cartinha anônima pra lá de esquisita. a mãe começou a matutar e concluiu que, para a pessoa ter visto a filha saindo de manhã bem cedo, provavelmente morava nas redondezas. e que, por causa do salmo escrito no final, deveria ser evangélica. assim, resolveram reeditar o cartaz de “procura-se”, incluindo um salmo pertinente à situação, e colocaram no quadro de avisos da igreja evangélica do bairro. não acreditaram que ia dar em alguma coisa, mas se o ladrão de gatos entendesse o recado, ficaria pelo menos constrangido.
era um sábado e a família estava reunida na varanda, quando de repente vêem um objeto não-identificado de plástico voar por cima do muro. ainda sob o efeito do susto, decidem abrir o saco e, para espanto geral, sai de lá o gatinho roubado, devolvido pelo crente “arrependido” ou, no mínimo, enfurecido. assim, apesar dos elementos bizarros, a história teve final feliz para todos. ou melhor, para todos menos para a mais velha porque, como se não fosse suficiente para ela ter que aturar um gato, acabou tendo que conviver com dois!
[ouvi essa história há uns meses e achei ela tão boa que quis deixar registrada. aos que me contaram, perdoem se não fui tão fiel aos fatos. façam de conta que é licença poética! ;)]
iemanjá 2.0
antes ela gostava de pulseiras, brincos, flores e perfume. hoje em dia até ela entrou literalmente na onda digital. no sábado tentou levar meu segundo celular! já não se fazem mais orixás como antigamente...
devaneios sobre bethânia
no outro dia fui no show dela. muito bom, como já esperava, mas deixo para os críticos falarem mais sobre o assunto. o que eu não esperava era a tamanha falta de educação das pessoas. se eu tivesse ido a um show (?!) do chiclete com banana (espero nunca merecer esse castigo), teria uma idéia do naipe do público, mas achei que com a bethânia tudo seria diferente. se bem que me iludi, como ela tá com uma música na abertura da novela das oito, os classe ab sem-noção devem ter baixado lá para ouvir "copacabaaaana" ao vivo. não paravam de falar durante o show. meu povo, quer conversar, vai pra um restaurante! mas imagino que até o canecão esquece que seu principal negócio é ser uma casa de shows e dá uma restaurante mesmo, porque é um tal de garçom passando pra lá e pra cá irritante. se querem descolar um trocado vendendo comida, bebida e foto (e tem quem compre!), tudo bem, mas que suspendam o serviço durante o show! ou seja, tive que usar todo meu poder de abstração pra não achar que estava numa churrascaria de quinta com música (de primeira) ao vivo.
acho que não me concentrei suficientemente. ao longo do show, entre um olhar de cara feia e outro pros mal educados da mesa e do entorno, entre um suspiro de admiração e outro pelas músicas e pelo cenário, me peguei em alguns devaneios despropositados. comecei a pensar na pessoa maria bethânia. hoje em dia é muito comum os artistas exporem publicamente suas vidas, suas casas, o que pensam, o que fazem o que consomem, e até - quiçá principalmente - suas intrigas conjugais. tem uma gente pop-star cujas preferências eu devo conhecer mais que as dos meus amigos, de tanto que isso sai na mídia o tempo todo. mas a maria bethânia não é dessas, então fiquei curiosa. ela tem cara de ser durona, talvez até um pouco difícil de lidar. por outro lado, parece ser toda riponga, daquelas que nunca pisou num shopping. será que ela já pisou num shopping? quem será que faz as compras na casa dela? será que ela vai ao mercado? o que será que ela faz com o dinheiro que ganha? investe na bolsa? compra imóveis? doa pra caridade? se ela sai na rua (será que dirige ou tem motorista?), ela sai descalça? mas uma dúvida me intrigou mais do que as outras e não saiu da minha cabeça durante o show: será que a maria bethânia usa calcinha? e se usa, de que tipo? sei que são curiosidades sem o menor fundamento que só uma mente doentia como a minha poderia ter. sei também que são perguntas que nunca irão calar, porque jamais a maria bethânia vai falar sobre essas coisas em uma revista de celebridades (graças a deus!). ainda bem que eu posso usar minha imaginação fértil e ficar pensando nas mil possibilidades de resposta para essas dúvidas inúteis. ah! se eu acho que ela usa calcinha? talvez, ou aquelas sem elástico da trifil ou umas de algodão orgânico confeccionadas pelas rendeiras de santo amaro. pelo menos, fiz uma descoberta incrível de que temos uma coisa em comum: nós duas trabalhamos descalças!
e antes que eu me esqueça! ainda um outro pensamento bizarro ficou me rondando durante o show: pra mim, a melhor versão de maria bethânia é... didi mocó! impagável em sua interpretação de teresinha do chico, com mussum chegando do bar e dedé de galanteador. se a bethânia tivesse cantado teresinha no show acho que eu teria tido um delírio nostálgico e veria o didi na minha frente!
como disse o bruno, não morra antes de ir ver a bethânia cantar. mas, quando for, por favor, preste mais atenção na música e não fique pensando bobagem!
acho que não me concentrei suficientemente. ao longo do show, entre um olhar de cara feia e outro pros mal educados da mesa e do entorno, entre um suspiro de admiração e outro pelas músicas e pelo cenário, me peguei em alguns devaneios despropositados. comecei a pensar na pessoa maria bethânia. hoje em dia é muito comum os artistas exporem publicamente suas vidas, suas casas, o que pensam, o que fazem o que consomem, e até - quiçá principalmente - suas intrigas conjugais. tem uma gente pop-star cujas preferências eu devo conhecer mais que as dos meus amigos, de tanto que isso sai na mídia o tempo todo. mas a maria bethânia não é dessas, então fiquei curiosa. ela tem cara de ser durona, talvez até um pouco difícil de lidar. por outro lado, parece ser toda riponga, daquelas que nunca pisou num shopping. será que ela já pisou num shopping? quem será que faz as compras na casa dela? será que ela vai ao mercado? o que será que ela faz com o dinheiro que ganha? investe na bolsa? compra imóveis? doa pra caridade? se ela sai na rua (será que dirige ou tem motorista?), ela sai descalça? mas uma dúvida me intrigou mais do que as outras e não saiu da minha cabeça durante o show: será que a maria bethânia usa calcinha? e se usa, de que tipo? sei que são curiosidades sem o menor fundamento que só uma mente doentia como a minha poderia ter. sei também que são perguntas que nunca irão calar, porque jamais a maria bethânia vai falar sobre essas coisas em uma revista de celebridades (graças a deus!). ainda bem que eu posso usar minha imaginação fértil e ficar pensando nas mil possibilidades de resposta para essas dúvidas inúteis. ah! se eu acho que ela usa calcinha? talvez, ou aquelas sem elástico da trifil ou umas de algodão orgânico confeccionadas pelas rendeiras de santo amaro. pelo menos, fiz uma descoberta incrível de que temos uma coisa em comum: nós duas trabalhamos descalças!
e antes que eu me esqueça! ainda um outro pensamento bizarro ficou me rondando durante o show: pra mim, a melhor versão de maria bethânia é... didi mocó! impagável em sua interpretação de teresinha do chico, com mussum chegando do bar e dedé de galanteador. se a bethânia tivesse cantado teresinha no show acho que eu teria tido um delírio nostálgico e veria o didi na minha frente!
como disse o bruno, não morra antes de ir ver a bethânia cantar. mas, quando for, por favor, preste mais atenção na música e não fique pensando bobagem!
o paradoxo do guarda-chuva
eis um objeto hediondo, o guarda-chuva. a grande razão para odiá-lo consiste em não terem inventado nada melhor, ou seja, ruim com ele, pior sem ele. se existisse algum substituto para o guarda-chuva, ele saíria da categoria de objeto detestável para ser apenas desprezível. mas como não conseguiram, em pleno século XXI, criar uma alternativa a ele, somos obrigados a conviver com sua existência.
você deve estar pensando, por que um inocente guarda-chuva, sendo a melhor opção disponível nos dias chuvosos, é capaz de suscitar tanta cólera? ora, por vários motivos! vamos aos fatos:
- o primeiro deles, como falei, é justamente o fato do guarda-chuva ser a melhor opção disponível. isso me faz lembrar como somos limitados, nós humanos: capazes de ir à lua, mas incapazes de criar uma película impermeável transparente, acionável ao toque, que proteja da chuva, ou coisa que o valha. o que, a propósito, seria muito mais útil do que andar flanando galáxia afora...
- porque, estamos de acordo, um guarda-chuva faz tudo, menos proteger da chuva. ele pode impedir que alguma parte do seu cabelo e da sua roupa se molhe, mas certamente seus sapatos, seus braços, sua bolsa ou mochila não escaparão incólumes.
- se a chuva for de vento então, não só o guarda-chuva será totalmente inútil, como te exporá ao ridículo porque vai virar ao contrário, te carregando junto com a ventania, em uma cena digna de piedade.
- fora isso, eles não passam em lugares estreitos e, em ruas cheias, podem causar cegueira e outros estragos.
- o guarda-chuva inutiliza uma mão e limita seus movimentos. não invente de falar no celular segurando um guarda-chuva. ou melhor, não invente de fazer nada, caso contrário as chances de acontecer um acidente são altas.
- dividir um guarda-chuva é a maneira mais eficaz de deixar duas pessoas molhadas.
- quando você vai para um lugar coberto e finalmente fecha o guarda-chuva, fica sem ter o que fazer com aquela coisa molhada e pingando e deseja se livrar daquilo o mais rápido possível.
- se a chuva passa você simplesmente esquece que ele existe e larga o guarda-chuva onde estava: no cinema, no restaurante, no ônibus ou qualquer outro lugar.
- o tempo está estranho e você coloca o guarda-chuva na bolsa, por precaução. então, abre um sol de rachar e você passa a semana inteira andando com aquele trambolho pra cima e pra baixo se achando o pior dos manés. aí, num arroubo de atitude você cansa de ser otário e resolve tirar o guarda-chuva da bolsa. e cai a pior tempestade dos últimos quarenta anos.
portanto, acredito que os motivos acima listados sejam suficientes para convencer os inventores, cientistas e projetistas a se empenharem em desenvolver qualquer aparato, tecnológico ou não, mais eficiente que o guarda-chuva. fica aqui registrado o meu apelo e minha esperança de viver em um futuro em que o guarda-chuva seja tão obsoleto quanto uma máquina de escrever.
você deve estar pensando, por que um inocente guarda-chuva, sendo a melhor opção disponível nos dias chuvosos, é capaz de suscitar tanta cólera? ora, por vários motivos! vamos aos fatos:
- o primeiro deles, como falei, é justamente o fato do guarda-chuva ser a melhor opção disponível. isso me faz lembrar como somos limitados, nós humanos: capazes de ir à lua, mas incapazes de criar uma película impermeável transparente, acionável ao toque, que proteja da chuva, ou coisa que o valha. o que, a propósito, seria muito mais útil do que andar flanando galáxia afora...
- porque, estamos de acordo, um guarda-chuva faz tudo, menos proteger da chuva. ele pode impedir que alguma parte do seu cabelo e da sua roupa se molhe, mas certamente seus sapatos, seus braços, sua bolsa ou mochila não escaparão incólumes.
- se a chuva for de vento então, não só o guarda-chuva será totalmente inútil, como te exporá ao ridículo porque vai virar ao contrário, te carregando junto com a ventania, em uma cena digna de piedade.
- fora isso, eles não passam em lugares estreitos e, em ruas cheias, podem causar cegueira e outros estragos.
- o guarda-chuva inutiliza uma mão e limita seus movimentos. não invente de falar no celular segurando um guarda-chuva. ou melhor, não invente de fazer nada, caso contrário as chances de acontecer um acidente são altas.
- dividir um guarda-chuva é a maneira mais eficaz de deixar duas pessoas molhadas.
- quando você vai para um lugar coberto e finalmente fecha o guarda-chuva, fica sem ter o que fazer com aquela coisa molhada e pingando e deseja se livrar daquilo o mais rápido possível.
- se a chuva passa você simplesmente esquece que ele existe e larga o guarda-chuva onde estava: no cinema, no restaurante, no ônibus ou qualquer outro lugar.
- o tempo está estranho e você coloca o guarda-chuva na bolsa, por precaução. então, abre um sol de rachar e você passa a semana inteira andando com aquele trambolho pra cima e pra baixo se achando o pior dos manés. aí, num arroubo de atitude você cansa de ser otário e resolve tirar o guarda-chuva da bolsa. e cai a pior tempestade dos últimos quarenta anos.
portanto, acredito que os motivos acima listados sejam suficientes para convencer os inventores, cientistas e projetistas a se empenharem em desenvolver qualquer aparato, tecnológico ou não, mais eficiente que o guarda-chuva. fica aqui registrado o meu apelo e minha esperança de viver em um futuro em que o guarda-chuva seja tão obsoleto quanto uma máquina de escrever.
24 horas
dia claro, jazz na tva, almoço com mãe, alho, manjericão e alecrim para aromatizar o azeite, unha feita com esmalte novo, corte de cabelo, chico no itunes, caneca da frida kahlo de presente, original de garrafa com amigos, sono pesado, café da manhã em pé na cozinha com ele, dia claro.
felicidade em pequenas porções nas últimas 24 horas.
felicidade em pequenas porções nas últimas 24 horas.
humor climático: modo de usar
minha saúde é razoavelmente legal. não tenho alergia, não tenho enxaqueca, nem rinite, faringite, bronquite e outros ites. não costumo sofrer nem da famigerada tpm que acomete a maioria das minhas colegas de gênero. devo ficar doente em média umas duas ou três vezes por ano, o que pra mim é uma boa estatística. destesto tomar remédio, não confio nos médicos de hoje em dia, não costumo freqüentar emergências, portanto fico sem assunto quando as enfermidades entram na pauta de alguma conversa.
mas, como nem tudo é perfeito, existe uma doença crônica da qual eu padeço que não faz parte da lista de patologias da oms. ela se chama humor climático e ataca pessoas sensíveis ao frio e à chuva, deixando esses indivíduos depressivos, irritadiços, sorumbáticos, cabisbaixos e/ou ferozes. fui diagnosticada pela primeira vez quando, ao viver por um tempo no hemisfério norte, passaram a me chamar de “girassol”. tempo bom: melhor pessoa pra se conviver; tempo fechou: cuidado, cão raivoso. aí comecei a me dar conta que alguma questão emocional-biológica me ligava ao astro-rei. preciso do sol, mesmo que não esteja sob ele, preciso saber que ele está ali. “vai pela sombra” não serve pra mim, eu ando do lado do sol.
pessoas que sofrem de humor climático ficam emocionalmente abaladas durante o inverno e suspiram de alívio quando ele vai embora. pessoalmente acho que a população mundial seria bem mais feliz se essa estação fosse suprimida, não do calendário, evidentemente, mas da conjunção atmosférica do planeta. ok, as plantinhas têm que viver, então podia chover, assim, uns dez minutos por dia, todo dia. acho que seria suficiente. mas frio? frio não faz o menor sentido, frio só serve pra deixar a gente deprimido e ativar o botão "vamos fazer um fondue", que nós cariocas trazemos no dna. também não sei de onde tiraram essa história de que "as pessoas ficam mais elegantes no inverno", isso pra mim é desculpa pra quem não está em dia com o espelho e acha que fica melhor embaixo de um monte de camadas roupas.
felizmente vivo nos trópicos, em uma cidade com um índice pluviométrico baixo e temperaturas altas. assim, os sintomas da minha doença não se manifestam com tanta freqüência - para o bem daqueles que convivem comigo. se por destino, contingência, trabalho, dinheiro ou amor, algum dia eu tenha que ir morar em um lugar onde faça frio de fato, talvez me adapte. adaptação não significa cura, apenas é possível que eu amenize os sintomas procurando ver o lado bom do frio, se é que isso existe. por enquanto, até setembro chegar, eu fico rezando para o termômetro não ficar abaixo dos 20 graus (sim, menos que isso já começa a era glacial). e se a temperatura cair, me resta a) fazer um fondue; b) tentar ficar "elegante"usando cachecóis variados; ou c) fazer terapia de grupo com outras vítimas do humor climático. se nada disso funcionar e eu continuar intragável, me perdoe. ou, como diria roberto carlos, me aqueça nesse inverno.
mas, como nem tudo é perfeito, existe uma doença crônica da qual eu padeço que não faz parte da lista de patologias da oms. ela se chama humor climático e ataca pessoas sensíveis ao frio e à chuva, deixando esses indivíduos depressivos, irritadiços, sorumbáticos, cabisbaixos e/ou ferozes. fui diagnosticada pela primeira vez quando, ao viver por um tempo no hemisfério norte, passaram a me chamar de “girassol”. tempo bom: melhor pessoa pra se conviver; tempo fechou: cuidado, cão raivoso. aí comecei a me dar conta que alguma questão emocional-biológica me ligava ao astro-rei. preciso do sol, mesmo que não esteja sob ele, preciso saber que ele está ali. “vai pela sombra” não serve pra mim, eu ando do lado do sol.
pessoas que sofrem de humor climático ficam emocionalmente abaladas durante o inverno e suspiram de alívio quando ele vai embora. pessoalmente acho que a população mundial seria bem mais feliz se essa estação fosse suprimida, não do calendário, evidentemente, mas da conjunção atmosférica do planeta. ok, as plantinhas têm que viver, então podia chover, assim, uns dez minutos por dia, todo dia. acho que seria suficiente. mas frio? frio não faz o menor sentido, frio só serve pra deixar a gente deprimido e ativar o botão "vamos fazer um fondue", que nós cariocas trazemos no dna. também não sei de onde tiraram essa história de que "as pessoas ficam mais elegantes no inverno", isso pra mim é desculpa pra quem não está em dia com o espelho e acha que fica melhor embaixo de um monte de camadas roupas.
felizmente vivo nos trópicos, em uma cidade com um índice pluviométrico baixo e temperaturas altas. assim, os sintomas da minha doença não se manifestam com tanta freqüência - para o bem daqueles que convivem comigo. se por destino, contingência, trabalho, dinheiro ou amor, algum dia eu tenha que ir morar em um lugar onde faça frio de fato, talvez me adapte. adaptação não significa cura, apenas é possível que eu amenize os sintomas procurando ver o lado bom do frio, se é que isso existe. por enquanto, até setembro chegar, eu fico rezando para o termômetro não ficar abaixo dos 20 graus (sim, menos que isso já começa a era glacial). e se a temperatura cair, me resta a) fazer um fondue; b) tentar ficar "elegante"usando cachecóis variados; ou c) fazer terapia de grupo com outras vítimas do humor climático. se nada disso funcionar e eu continuar intragável, me perdoe. ou, como diria roberto carlos, me aqueça nesse inverno.
a triste constatação
se você é habitante da banda oriental desse mundo, então provavelmente passa uma boa parte do seu dia tendo que dar respostas. ninguém vai te incomodar ou te criticar se você tiver uma resposta na ponta da língua. resposta, satisfação, diagnóstico, culpados, resultado. a vida virou uma grande entrevista no estilo ping-pong. responda logo ou caia fora. pensar pra responder? nem pensar! mas por trás daqueles que exigem respostas com os dedos apontados no nosso nariz, existe um cérebro que vem perdendo a capacidade de fazer perguntas. pergunta-se qualquer coisa, responde-se qualquer bobagem e assim vamos vivendo a lógica iterativa da qual fala o artigo abaixo.
boas perguntas geralmente demandam um tempo para serem respondidas. interessante é que essa aparente demora muitas vezes evita uma série de perguntas e respostas que não levam a lugar nenhum. então por que não "perder" tempo pensando antes de formular uma pergunta? minha triste constatação é de que essa habilidade foi se atrofiando ao longo do tempo.
o prejuízo é grande. quem não é capaz de fazer perguntas, perde junto a capacidade de questionar a si próprio. e quem não se questiona em geral gosta de auto-afirmar [têm os que se anulam também]. pessoas auto-afirmativas costumam ser chatas, egocêntricas, auto-referentes, arrogantes e quiçá, nocivas. além disso, perguntas mal feitas baixam o nível de exigência das respostas. logo, vamos perdendo também a aptidão de formular boas respostas, mesmo que as perguntas sejam claras. muitas vezes isso fica evidente quando vejo programas de entrevista em que o entrevistado responde tudo menos o que foi perguntado, como se tivesse levado um roteiro que fosse obrigado a repetir com indiferença. não há diálogo, apenas non-sense em forma de entretenimento.
de uma perspectiva pessimista, imagino um futuro onde os avatares humanos já virão de fábrica sem o aminoácido do questionamento. o ponto de interrogação vai deixar de existir na gramática. só restarão as exclamações, e os homens-bonecos vão gritar, gritar, sem se preocupar se estão sendo ouvidos.
[inspirado parcialmente no artivo do post anterior]
[só posso falar um pouco da banda ocidental. tenho esperanças de que a banda oriental seja pelo menos um bocadinho diferente]
boas perguntas geralmente demandam um tempo para serem respondidas. interessante é que essa aparente demora muitas vezes evita uma série de perguntas e respostas que não levam a lugar nenhum. então por que não "perder" tempo pensando antes de formular uma pergunta? minha triste constatação é de que essa habilidade foi se atrofiando ao longo do tempo.
o prejuízo é grande. quem não é capaz de fazer perguntas, perde junto a capacidade de questionar a si próprio. e quem não se questiona em geral gosta de auto-afirmar [têm os que se anulam também]. pessoas auto-afirmativas costumam ser chatas, egocêntricas, auto-referentes, arrogantes e quiçá, nocivas. além disso, perguntas mal feitas baixam o nível de exigência das respostas. logo, vamos perdendo também a aptidão de formular boas respostas, mesmo que as perguntas sejam claras. muitas vezes isso fica evidente quando vejo programas de entrevista em que o entrevistado responde tudo menos o que foi perguntado, como se tivesse levado um roteiro que fosse obrigado a repetir com indiferença. não há diálogo, apenas non-sense em forma de entretenimento.
de uma perspectiva pessimista, imagino um futuro onde os avatares humanos já virão de fábrica sem o aminoácido do questionamento. o ponto de interrogação vai deixar de existir na gramática. só restarão as exclamações, e os homens-bonecos vão gritar, gritar, sem se preocupar se estão sendo ouvidos.
[inspirado parcialmente no artivo do post anterior]
[só posso falar um pouco da banda ocidental. tenho esperanças de que a banda oriental seja pelo menos um bocadinho diferente]
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