acaso, amor & lógica

chamou minha atenção a notícia do ex-deputado que bateu no professor de filosofia(!) por ciúmes da mulher, que era sua aluna. tenho horror a violencia física, mas, particularmente, adoro uma baixaria e fui lá conferir os detalhes. e não é que o tal professor tinha me dado aula na faculdade? o que me lembrou uma história que aconteceu justamente com o camarada em questão [que na ocasião usava um penteado péssimo e se alguém tivesse que bater nele definitivamente seria por causa disso]. a matéria era lógica(!) e a avaliação de fim de curso podia ser feita em casa o que, obviamente, eu deixei para o último dia. o trabalho era uma dissertação acerca do acaso, possivelmente fazendo um contraponto entre as visões de kant x spinoza, não tenho certeza.

o fato é que era um domingo e eu passei o dia inteiro batendo cabeça e tentando escrever qualquer coisa que prestasse, sem muito sucesso. acontece que naquela época eu andava apaixonada e o objeto da minha paixão me ligou convidando para um chope. imediatamente o anjinho se colocou na defensiva e disse: "fica em casa, você precisa entregar esse trabalho amanhã", ao que o diabinho respondeu "deixa de ser boba. vai logo!". como acontece na maioria das vezes, o diabinho venceu e tarde da noite cheguei em em casa, bêbada, pra dissertar sobre acaso e lógica. não sem antes escrever uma cartinha totalmente non-sense pra juca, minha companheira de sempre. então eu tive uma possível iluminação e escrevi que foi uma beleza, provavelmente um monte de bobagens, e ainda tasquei-lhe a seguinte epígrafe "e não há lógica que faça desandar o que acaso decidir", que na hora me soou genial. porque só os bêbados podem achar genial misturar kant, spinoza e lulu santos. no final tirei 7.
muitos anos depois tive uma dificuldade enorme pra me formar já que muitas das minhas notas não tinham sido lançadas, entre elas essa de lógica, cujo professor estava fazendo doutorado na frança. claro que não tinha o trabalho corrigido pra comprovar que eu tinha feito e concluído a matéria, mas o diretor da faculdade quebrou um galhão e lançou a nota mesmo assim. aquela nota eu nunca esqueci, porque ela foi fruto da generosidade de um professor.
o cônjuge costuma dizer que as minhas histórias não têm pé nem cabeça e às vezes eu acho que ele tem razão.

confissões inconfessáveis :: o poder de um comentário

o guri chega pra mim e pergunta: "você tá de ressaca, né?"

ora, eu, uma jovem senhora, já quase não bebo muito, não a ponto de ficar de ressaca, pelo menos não durante a semana, respondi sem graça: "não, nem bebi ontem". e ele replicou sem dó: "é que você está com uma cara de quem está de ressaca". poderia até dizer que minha ressaca não era de goró e sim de de algo mais subjetivo, mas eu sabia que ele não estava se referindo aos meus "olhos de ressaca" como os de capitu, mas aos meus olhos cheios de olheiras mesmo.

não sendo bebida ou falta de sono a causa dos círculos negros em volta dos olhos, resolvi partir para uma solução mais efetiva na manhã seguinte, já que o corretivo não dá mais conta do recado. então vejo sobre a pia a linda bisnaguinha rosa-choque de "gel para pernas e pés cansados" da granado. meu raciocínio é: se faz milagre com pernas e pés, imagina o que não fará por esse rostinho que parece que levou dois socos! imagina mesmo. sem dar bola pro aviso que dizia "evite contato com os olhos" tasquei-lhe o gel na circunferência das olheiras, que imediatamente começou a arder, queimar, agonizar, fumegar. claro, o gel tem cânfora, menta e outras substâncias poderosas capazes de revigorar... as pernas e pés, não a área dos olhos.

post-it mental: não dar tanta importância a comentários alheios, masculinos ou não. se der, pelo menos dedicar uma importância igual ou maior ao meu próprio bom senso.

[no dia seguinte, uma companheira na luta contra as olheiras me indicou hipoglós nelas antes de dormir. eu, que não suporto cheiro de hipoglós, disse "no, thanks", e na volta do almoço a fofa me deixa de presente um outro creminho de bunda de neném na minha mesa, com um cheiro ótimo. usei ontem, não vi muito resultado, mas perseverarei.]

obrigada :)

comentários, fofos mais ainda, me deixam muito feliz. só não consigo responder nos próprios comentários, como já disse, acho esquisito. então prefiro fazer um post-agradecimento mesmo!

estranha

o me irrita:

homens com o cabelo tingido, em especial de acaju
pessoas com o cabelo escroto em geral
pessoas que mandam recibo no email, é tão antipático
quem chama waffle de "ueifou", não de uáfou como é a pronúncia correta (mesmo em inglês)

o que eu não faço (quase nunca):
é a coisa mais rara do mundo eu dar esmola ou me comover com performances na rua, sejam quais for. com uma exceção. toda vez que vejo alguém tocando violino, bem ou mal, meto a mão no bolso e tiro pelo menos uma moeda. acho que é porque meu pai tocava violino quando era jovem.

um t.o.c.:

só consigo dormir depois de jogar paciência (freecell) no celular. às vezes chego a jogar quase uma hora antes de cair nos braços de morfeu.

adoro:

passar cotonete no ouvido.

ex-libris (por falar em livros)

vivendo e aprendendo. ontem eu descobri o significado literal da expressão latina "ex-libris", que quer dizer mais ou menos "este livro pertence à biblioteca de..." eu já imaginava que era isso. tinha um namorado cujo avô era meio metido a besta e todos os livros dele tinham um selo ilustrado na contracapa que dizia "ex libris fulanodetal". pois agora me baixou a soberba e eu tô com vontade de mandar imprimir uns selinhos bem lindinhos e colar em nos meus livros "ex libris mariana cândida". dei pra achar finíssimo também. eu não aprendo que livro não se empresta e continuo largando os meus por aí. quem sabe assim eu perca menos livros ao longo da vida? no fundo acho não adianta muito. tenho até hoje comigo um livro do tal avô, apesar do seu "ex libris...".

[porque às vezes eu empresto e não pego de volta, mas também pego emprestado e não devolvo. shame on me.]

vida, modo de usar (de novo)

? que eu t? completamente absorvida relendo esse assombro de livro. chocada porque existiu algu?m capaz de escrever um livro, um quadro, um puzzle, uma obra dessas. e no ?nibus rezo e agrade?o a deus que essa pessoa existiu um dia. porque n?o ? um ser humano comum, ? uma algu?m com um dom sobrenatural, mais ou menos como os acr?batas do cirque du soleil. inconformada e sem entender como n?o deram muita bola pro relan?amento dele no brasil, nenhuma resenha, nada, nada. como assim gente, em que mundo voc?s vivem? sofrendo por ainda-j? estar na p?gina 48 e saber que daqui a mais umas 600 p?ginas o livro termina.

+wish lists aleatórios

eu queria ter: uma vitrolinha colorida dessas que todas as pessoas da minha geração tiveram quando eram crianças. foi vista por 200 reais por aí e eu estou ponderando se merece ou não o desembolso.
também adoraria ter uma geladeira colorida, mas essa custa 8 mil reais. OITOMIL. não é pro meu bico.

eu queria que desaparecesse do sistema solar: tudo o quanto está relacionado com essa novela das índias - atores, roupas, cenários, expressões. mor-ram! [e agora vem aí uma do manoel carlos e eu, que estava reabilitada do vício das novelas, estou na dúvida entre sucumbir ou não à tentação].

eu queria ser melhores-amigas: do claude troisgros porque ele me parece ser um cara tão gente boa que dá muita vontade de ser amiga dele. se a gente fosse amigo eu nem ia pedir pra ele cozinhar pra mim ou pra ganhar desconto no restaurante dele (só se ele quisesse), bastava ficar batendo papo com ele mesmo.
também não seria mau virar amiga da carla bruni (do marido dela, dispenso). vi um especial sobre ela e fiquei com vontade de ser sua bff*. ela é divertida, linda, interessante, acha que todas as pessoas deveriam fazer terapia desde a infância, canta bem, lê bastante, além do que seria uma ótima oportunidade de praticar meu francês-paraguaio.
[com claude, au contraire, eu faria questão de só falar em português, porque por nada nesse mundo ia perder suas pérolas e seu sotaque genial: "carrrramb'!"]

se eu um dia tivesse um cão (pouco provável) eu queria que: ele fosse de qualquer raça mas que tivesse uma mancha preta no olho.

eu queria: ter viajado no feriado, mas não deu.

*best friends forever

prenúncio de um verão

os bichos de luz são os primeiros a aparecer. são a trombeta anunciando o verão. o trânsito em copacabana fica impraticável a qualquer hora do dia. as noites não são mais possíveis sem ar condicionado. o chope desce rodopiando e a conta do bar sobe nas alturas. a praia aos fins de semana exige altas doses de tolerância, resignação e contorcionismo, mas é necessária porque com sol ninguém aguenta ficar em casa. em compensação, durante a semana, o despertador toca mais cedo e, por um milagre, eu fico de pé. é que um mergulho no melhor-lugar-do-mundo antes do trabalho tem o dom de energizar qualquer dia chato. a primavera ainda nem chegou mas já é verão em terras de são sebastião. é de assustar, não é pra qualquer um (e eu adoro).

confissões que eu não ousaria fazer na faculdade

ainda tenho um pouco de vergonha de admitir, mas a verdade é que eu não vim ao mundo pra ver filmes. não é que eu não goste de ir ao cinema ou assistir um filme em casa, mas também não é uma coisa que eu me esforce muito pra fazer. talvez eu não seja uma pessoa áudio-visual, nunca fui fã de televisão, às vezes simplesmente o som e a luminosidade de uma tevê ligada me irritam.

na faculdade, e mesmo depois, sempre tinha uma obrigação implícita de se ver e comentar todos os filmes em cartaz. e eu ficava sem graça de não ir ao cinema toda semana e me sentia frustrada de não dar conta nem dos filmes que eu gostaria de ter visto. e pensava "quando sair em dvd eu vejo esse filme" e nunca via.

sei que se produzem e se produziram coisas fantásticas por aí. não me arrependo de nenhum bom filme que vi, apesar de não lembrar de tantos assim. e lamento sinceramente não ter visto os filmes essenciais na formação de uma pessoa.

só que... já passei dos 30 e sei que existem coisas que a essa altura não vou fazer mais. ok, pode ser que em algum momento eu me descubra uma cinéfila tardia, fique sócia de uma boa locadora e passe um ano trancada em casa recuperando o tempo perdido. pode acontecer, por que não? mas não sou boba nem nada de ficar alimentando expectativas em relação a isso. tenho um bom tempo de estrada pela frente e, consequentemente, muita frustração pra amargar. tudo bem com isso. só não preciso que me frustrar com o que tem poucas chances de se realizar.

enquanto isso daqui a pouco começa mais um festival do rio e me dá preguiça da histeria coletiva que toma conta das pessoas. tenho vontade de dinamitar as hordas de pseudo-cults que invadem botafogo. e volto a me achar um e.t., quem sabe um pouco intolerante. pelo menos dessa vez, passo longe da programação sem culpa.

enigmas da humanidade

olha, no dia-a-dia eu tenho bastante contato com gente de diversas profissões: balconistas, caixas de supermercado, produtores, administradores, psicólogos, publicitários, recepcionistas, designers, secretárias, domésticas, médicos, analistas de sistema, astrólogos, garçons, jornalistas, porteiros, trocadores de ônibus, motoristas de táxi, e por aí vai. então me explica por que de todos os ofícios, os corretores são os que têm os dentes mais feios? será alguma maldição obscura pela qual eles são perseguidos? será que isso só eu vejo isso? por que raios eu fico prestando atenção nos dentes dos corretores?

da arte de estar adequado

nunca tinha me ocorrido associar o conceito de felicidade à palavra adequação. normalmente, quando a gente pensa em felicidade, vêm à cabeça imagens poéticas como "brilho na alma", "fogos de artifício", "borboletas no estômago", "pulos de alegria" e outras figuras de linguagem bonitinhas. mas estar feliz é justamente se sentir adequado na própria pele. é ser quem se quer, aqui e agora. é "cair bem", é pertencer. e o contrário equivale à tristeza.

era um domingo à noite. estávamos eu e ele embalando uma caixa enorme, que seria despachada na manhã seguinte pelo correio. então eu senti. a felicidade. não parei pra elaborar "estou me sentindo feliz". até porque quando a gente tá contente, nem pensar que está contente a gente quer, nem pensar a gente quer, a gente quer é viver. o que eu senti foi simplesmente que não desejava estar em nenhum outro lugar do mundo naquele momento que não na sala da minha casa, entre folhas de papel pardo e fita crepe. que me viessem com paris, bankok, praga ou itacaré. dispensaria tudo pra estar ali, com ele, sentada no chão prosaicamente embalando um caixote de papelão.

corta.

estou no meio de uma reunião. tento me concentrar na pauta, mas tá difícil. eu não queria estar ali. eu preferia estar em qualquer outro lugar. preferia estar numa sala de cirurgia, com a barriga aberta - coisa que vai me acontecer em breve, diga-se - do que estar ali. por que eu não podia estar sendo operada agora? não era nem papo de pedir pra estar em paris, bankok, praga ou itacaré. tudo o que eu queria era não fazer parte daquele momento. estaria melhor lavando uma pia cheia de louça engordurada. desentupindo um banheiro. ou no trânsito da avenida brasil. ali eu vi que estava profundamente infeliz.

e mais ou menos assim a vida passa, numa alternância entre momentos de adequação e inadequação com o roteiro divino. e como num palco, somos ora como o modelo perfeito para o traje da existência, ora autênticos bufões no teatro errado.