são paulo em doses

[fui à são paulo esse fim de semana conhecer meu novo sobrinho (lindinho mil) e, como sempre, voltei de lá com várias impressões controversas sobre a cidade. prometi pras amigas paulixtas que iria escrever um post falando bem da cidade, mas espero que elas não fiquem decepcionadas com o que eu tenho a dizer.]

porque são paulo antes de tudo me causa estranheza, o que não é necessariamente negativo.

minha primeira lembrança de são paulo a é de um lugar que definitivamente não é são paulo. era um lugar com um pouco de glamour e aconchego invernal, um pouco como a minha última lembrança de curitiba. eu devia ter uns seis anos e a minha memória ficou bem embaçada. depois (ou antes?) acho que fiz uma excursão que incluiu o simbad safari, o playcenter e a cidade da criança. a única coisa que me lembro são de umas xícaras gigantes rodando.

muitos anos depois, de passagem por lá, achei a cidade muito suja, muito cheia de pixações. me lembro de como eu achei a estética vertical e afinada das pixações de lá tão diferente da "caligrafia" dos pixadores cariocas, rebuscada e arredondada. (abomino esse vandalismo em qualquer lugar, mas lembro o quanto isso chamou a minha atenção).

na fase adulta fui à são paulo várias vezes, a maior parte das vezes a trabalho ou por algum motivo extraordinário. quase sempre só pensava em voltar logo. de qualquer forma, ainda tinha aquela má vontade em relação à cidade inerente aos cariocas. ia pra lá procurando mais defeitos do que qualidades, pronta pra voltar com uma reclamação na ponta da língua. não perdi meu velho hábito de reclamar, mas decidi aproveitar o que a cidade tem a me oferecer.

comecei a gostar de fato de são paulo há uns cinco ou seis anos, quando descobri a cidade através de amigos cariocas que foram morar lá e amigos paulistas que moraram no rio. criei um estranho pacto comigo mesma de sempre ir conhecer um lugar diferente a cada visita, e não repetir nenhum bar ou restaurante (exceção concedida ao benjamin, que tem o melhor escondidinho da cidade). o pacto nem sempre é seguido à risca porque a vida em sociedade é assim mesmo, certas pessoas sofrem de rm (resistência à mudança), mas eu tento. por outro lado, tem visitas obrigatórias como a shoestok (não deu tempo de ir dessa vez) e a galeria ouro fino (não deu tempo de curtir direito). o fato é que geralmente a programação é tão intensa que não dá tempo mesmo de cumprir toda a agenda. faz parte da graça do negócio. afinal, se quisesse descansar, teria o bom senso de escolher um destino diferente.

da mesma forma, faz parte do negócio falar mal de são paulo. em que outro lugar do mundo inventariam um show da diana krall em um parque descampado, o sol fritando as pessoas em uma grande frigideira de cimento e nenhum, veja bem, nenhum ambulante vendendo algo para beber? onde mais proliferam aos borbotões bares que imitam botecos cariocas, chamados de pirajá, posto 6 e outros nomes alusivos ao rio, como se o chope do rio devesse algo para o chope de são paulo e não o contrário, mas onde, curiosamente, não se pode beber sem camisa? [aliás, piores do que os bares paulistas que imitam bares cariocas, são os novos bares cariocas que imitam bares paulistas que imitam bares cariocas]. onde mais, ó pai, as pessoas saem com roupa de ginástica na rua mas não vão praticar qualquer atividade esportiva? em que outro lugar as pessoas, sejam elas japonesas, portuguesas, africanas ou de origem indígena, se acham mais italianas do que na própria itália? pessoas que ostentam orgulhosamente seus bmws e outros carros tão luxuosos quanto com a placa "mio" querendo dizer: é meu otário, vai trabalhar pra comprar um igual?

como eu disse, são paulo me causa estranheza. mas é observando o estranho que a gente vai se conhecendo. e assim, deixei são paulo me conquistar pela boca e pelo coração. pela boca porque come-se muito, mas muito bem naquela terra. não é todo lugar que é bom, mas os lugares bons costumam ser ótimos - e há milhares deles. pra uma sujeita como eu, boa de garfo, faca e guardanapo, são paulo é um prato cheio [lembrar de escrever sobre a inevitabilidade de certos trocadilhos infames!]. pelo coração porque lá vivem amigos queridos, sempre cheios de hospitalidade, sempre dispostos a mostrar o que a cidade tem de melhor. amigos que não se importam dirigir distâncias absurdas pra nos levar de um canto ao outro tentando fazer caber na nossa agenda apertada uma infinidade de boas surpresas - e algumas furadas também!... amigos bons de papo, de riso e de copo que não levam muito a sério quando uma carioca abusada se mete a falar da cidade deles.

são paulo é isso e é muito mais que isso. é tudo o que que eu ainda vou descobrir.

Um comentário:

Anônimo disse...

são paulo não dá. não mesmo. que suas amigas paulistas também não me ouçam, mas tudo lá é exagerado, parece cenário do sbt. e as pessoas inevitavelmente parece que estão na platéia do programa do gugu.

desculpa aí. falei.

bêjo