escolhas

houve um tempo em que eu gastava tanta energia tentando descobrir o que queria, que sobrava pouca pra dizer "não" para aquilo que não queria. hoje eu acho que saber o que não quer é um dom maior do que saber o que se quer. saber o que quer pode limitar. saber o que não quer, liberta.

já dizia o  moço da maçã: "as pessoas não sabem o que querem até você mostrar a elas". eu sei do que não quero. deixo a porta aberta pra vida me mostrar o que eu possa querer. e entrego o resto pra minha intuição.

acerto de contas

tranquilidade é pensar que se o mundo acabar só vão ficar umas poucas contas aí pra acertar.

dezembro

parecia o último sol antes do fim do mundo. eu exercitava minha tolerância a ele e as pessoas que são diferentes de mim.

***

durou meia hora. depois fui pra iguabinha.

1 segundo

então eu abri a porta de um elevador em laranjeiras e a miragem saiu, com a mulher, um filhinho e um bigode. parecia o magnum. falava com o filho de um jeito engraçado e companheiro. depois sumiu. entrei no elevador e apertei o 12 que era o meu andar.

condição

tudo bem se eu virar vegetariana. só não me peça pra cortar a linguiça.

que se yo?

não entendo de moda, não senhor. adoro comer, mas não sou expert em gastronomia. adoro beber, mas não bebo bem. literatura, muito me interessa, o problema é que li muito menos do que deveria. viagens, sim, prazer supremo, mas não me considero especialista, só turista mesmo. publicidade? ah, que bobagem, alguém lá precisa entender de publicidade? ah, é, artes, eu gosto de artes, mas nesse assunto minha profundidade é a de uma pizza, mais ou menos. fazer obra e decorar apartamento foram coisas que dominaram a minha pauta por um tempo, mas até hoje tem um monte de quadro pra pendurar na parede... então, do que eu entendo bem? achei que entendia de pessoas e sentimentos, mas nem isso.

gordice

tem casais que têm uma música. a gente tem um prato.

empreendedorismo infantil

ela fez uma sessão de teatro de playmobil para a família. ao fim, todos bateram palmas e ela disse: pessoal, na saída vocês podem comprar o cd da peça, tá?

sutil II

mas também posso errar feio.
sentidos falham, né?

d. maria

é a manicure portuguesa de coimbra que eu descobri por acaso. trabalha há 54 como manicure, boa parte deles no mesmo salão. seu pai era cabelereiro. mora no méier, tem filha, netos e bisneto. vive um dilema sobre parar de trabalhar, diz que tem muito orgulho da profissão, que por causa dela conseguiu comprar casas, cuidar do marido doente, criar a família. me ensinou uma receita de creme hidratante com açucar e s(h)al. ensinou uma moça a ser manicure, forneceu material e truques pra ela. hoje essa moça trabalha em frente a uma igreja no jacarezinho e cobra 9 reais a mão. é mais do que elas ganham no salão, porque fica tudo pra ela. o neto da d. maria é professor de educação física na body tech de ipanema. tem muitos alunos e uma unha encravada há dois anos. diz que minhas unhas são lindas e bem feitinhas. ela ama muito o que faz, porque conversa com as pessoas, respeita e é respeitada, lida diariamente com beleza. como não amar?

back on track

eu sei que minha vida anda meio fora do trilho quando apresento um ou mais dos seguintes sintomas:

- fico muito tempo com a unha sem fazer
- abandono um livro quase no final e não pego nenhum outro pra ler
- começo a engordar
- não faço (nem realizo) planos

hoje levei um livro abandonado pra ler enquanto fazia unha.

 *** 

não que eu seja obcecada por ter uma vida "no trilho". inclusive sou bem a favor de atalhos de desvios. o que eu não gosto é de ficar enguiçada.

maslow

num dia frio, agradeça a deus se você tiver um teto. se sob esse teto tiver uma cama, tanto melhor. se em cima dessa cama tiver um cobertor, sujeito de sorte você. se embaixo do cobertor junto com você tiver um bem-querer, sinta-se verdadeiramente abençoado.

sábado

é dia de faxina, na casa, no corpo e na cabeça. é dia de lavar o rosto com esfoliante e a cabeça com shampoo anti-resíduo e só. e de preferência passar o dia de cara limpa, sem maquiagem. tomar um banho de banheira, não ter nenhum compromisso social, economizar nas palavras, ah, isso então é puro luxo.

sutil

o lance é que eu opero na base da sutileza. não no trato, que não é dado a finezas, mas no sentir. eu capto um olhar aqui, um cheiro diferente ali, e daqui a pouco tenho o quadro montado na minha frente. e aí eu já sei o que vai acontecer, mas isso não é paranormal, não é um sexto sentido. são apenas os cinco sentidos funcionando comme il faut.

new black

a crise dos dois anos é a nova crise dos sete anos.

***

diz que a crise dos sete anos era causada porque os eletrodomésticos de uma casa começam a quebrar mais ou menos por essa época. a responsabilidade do conserto vira um jogo de empurra e isso deflagraria uma crise conjugal. faz algum sentido. e agora, será que os eletrodomésticos estão durando (ainda) menos?

mais um ano, um domingo.

ontem foi aniversário da minha mãe. foi de patati patatá. ela é demais, minha mãe. que sorte a minha. 01 comemorou junto. ele é uma criança que gosta mais de adultos que de crianças, de modos que estava mais feliz que pinto no lixo. 02 também não teve do que se queixar, porque seu padrinho, que opera na mesma frequência mental infantil, não decepcionou. mas acabou exagerando na implicância com a pobre menininha, que no fim do dia se queixou: "eu não quero que você seja mais meu madrinho. eu não gosto mais de você. da próxima vez que te desenhar, vou fazer um x bem no meio da sua cara".

***

o arpoador, continua glorioso como em todos os outonos. redescobri minha banda preferida número 5. agora fazemos nosso próprio pão. gente vem, gente vai, gente volta, gente que não devia voltar. e eu aproveito pra amadurecer (?). amadurecer a ideia de que, assim, de repente, eu preciso de uma ajudinha pra desatar uns nós aí.

palabras

corazón. milagro. diablo. culpable.

tem palavras que só fazem sentido mesmo em espanhol.

domingo no parque 2

saí do parque e me comovi: a areia voltou para o arpoador. uma lagriminha se juntou com protetor solar. tinha até um banco de areia, com piscininha, o mar estava lindo e calmo, perfeito para um campeonato de surf que estava tendo por ali. até o holofote ganhou uma pintura nova, está todo grafitado com peixes verdes e azuis, uma lindeza. sentei na mureta e respirei ar puro. domingo foi dia de trégua pro meu coraçao.

outro domingo

amigos, família, aniversários, crianças. poderia ser chato, mas é legal. eu é que ando um pouco chata, e se não fossem essas pessoas poderia estar mais.

inferno astral? não acredito nisso. acredito em marés. e acredito na lógica das doenças e terremotos: melhor que sejam recorrentes e de baixa intensidade que raros e avassaladores.

***

além das pessoas, me fizeram feliz esse fim de semana: bolinho de camarão do chico & alaíde, aliás, gostosuras diversas. a perspectiva de voltar a arrumar a casa. copos de bolinhas. faqueiro novo que chegará pelo correio - a adoro comprar online e esperar encomendas pelo correio. sono em dia.

***

note to self: relativizar a importância das coisas. estabelecer prioridades. quem/o quê é importante para mim? acho que sei a resposta.

querido diário,

hoje foi aniversário da minha mãe. foi de minnie.
semana passada eu brinquei de barbie na hora do almoço.
ontem, enquanto eu dava conselhos, ele fazia sorvete de creme.
eu queria ter uma babá. e que alguém me contasse histórias antes de dormir.
acho chato quando ele só quer jogar videogame e não brinca comigo.

domingo no parque

era uma miragem tomando espumante no azul marinho antes do meio dia.
era uma banda de palhaços que cantava benjor e me fez querer ter uma filha chamada teresa.
era um gato de chapéu, na garupa da moto (uma senhorinha disse que o dono era mau, porque o gato ficava preso).
era um cachorro chamado zeca camargo, sendo fotografado incessantemente pela dona.
era alguém passando a vergonha mais temida por um carioca: seu corpo era içado pelo helicóptero dos bombeiros.
era um protesto de bombeiros, que pediam um salário digno.
eram meninos oferecendo o corpo, em plena luz do dia.
era a miragem que continuava bebendo no azul marinho e o que me faltou foi coragem pra chegar e dizer: "oi, posso te fazer companhia?".
era eu pensando na vida num domingo em ipanema.

vou voltar, sei que ainda vou voltar

não sei se aqui ou acolá, mas é preciso ouvir cantar uma sabiá.

porque eu preciso voltar a escrever, mas é sempre a desculpa da falta de tempo, a preguiça, as horas consumidas com bobagens sem sentido.

porque eu andei meio monotemática, põe aí quase dois anos nisso. e sobre o tema que eu versava, muitos outros versavam bem melhor que eu, então não valia gastar pixels e caracteres com isso. (e o que é a internet senão um grande aterro sanitário de pixels e caracteres?)

porque eu gosto de falar sobre mim mesma, sabe? sei. obrigada pela atenção dispensada.

isabel allende

"...con una infancia feliz, de que vas a escribir?"
morreu o j.d. salinger e eu lembrei de quem me emprestou o livro e era a própria versão tropical do holden. oi.

esse é um blog estranho, que hiberna no verão.

teoria do caos

domingo. espero o sol baixar e saio por volta das seis. o calçadão está imundo, como no dia seguinte ao reveillon. plástico e lixo por todo lado. no delírio tropical, peço um filé com molho de gorgonzola. recebo uma carne morna com molho de mingau. uma sobremesa será o consolo, mas todas as sorveterias estão lotadas como se tudo estivesse 50% off. no mcdonalds a fila do sorvete não está tão grande mas um velhinho discute com a caixa e a outra velhinha não decide se quer calda de morango ou chocolate. por fim, leva o sorvete pra viagem, desafiando a sensação térmica exterior. um ônibus para no ponto e os passageiros obrigam o motorista a abrir a porta de trás porque não estão com vontade de pagar passagem. ele abre e a turma entra. um vazamento de esgoto na porta do mercado. uma garotinha abre o berreiro. preciso voltar pra casa correndo.

nesse breve passeio dominical cheguei à conclusão de que o que governa o mundo é o caos. por isso resolvi passar todos os fins de semana do verão em são paulo, a começar pelo próximo.

alguém me explica II

o que foi ontem, naqueles depoimentinhos que as pessoas dão no fim da novela, quando a mulher falou "estou 7 anos com o mesmo peso" e aparece o seguinte texto atrás: "estou a 7 anos com o mesmo peso"? alô revisor???

eu sei, eu sei, sei lá, sei lá, é muita falta de assunto mas eu fiquei passada!

algu?m que v? a novela por favor me explica...

que calor ? esse que faz em paris em pleno fevereiro?

agradecimentos

agradeço a deus por estar viva, ao meu médico e sua equipe, que apesar de doidos fizeram um excelente trabalho, aos enfermeiros, maqueiros e copeiros fofíssimos da casa de saúde são josé, a minha mãe guerreira, ao meu paciente companheiro de todas as horas, aos amigos que apareceram e telefonaram, e ao manoel carlos que proporciona a hora mais feliz do meu dia.

meu corpo, este ser estranho

pós-operada eu tenho as sensações mais bizarras. primeiro é achar uma posição, deitada, sentada ou em pé: tudo incomoda. às vezes é como se eu tivesse levado um chute na barriga. outras, sinto ela inchada como se eu tivesse acabado de bater dois pratos de feijoada. tem horas que arde, parece que estão jogando querosene quente numa ferida aberta. agora sem fazer drama, a maior parte do tempo eu só sinto como se tivese exagerado no abdominal.

ontem arrumei um rodo pra fazer de cajado. estava humilhante demais, então agora me contento em andar pela casa feito o corcunda de notredame.

não posso rir, não posso chorar, não posso tossir, nem espirrar. na primeira noite em casa engasguei, aí comecei a tossir e foi uma dor insuportável, não sabia se tossia, se gritava, na tentativa de conter a tosse parei de respirar e foi um deus-nos-acuda. fiquei triste nesse dia e me deu vontade de chorar. mas não podia soluçar, então apelei pra arte de chorar baixinho. ontem à noite foi o contrário. minha mãe entrou no quarto e contou uma coisa engraçada e eu simplesmente tive um ataque de riso. cada movimento involuntário da barriga produzia uma dor, e ao mesmo tempo que eu tinha vontade de chorar por causa da dor, não conseguia parar de rir. foi pura tragédia grega e eu achei que ia ficar louca. e assim eu entendi que tentar controlar as manifestações mais primitivas do corpo, como o riso, pode sim, levar à loucura.

fora isso, ao contrário do que eu dei a entender, está tudo bem. vou tentar aproveitar esse tempo em casa da melhor forma possível: dormindo e comendo bem, lendo, escrevendo, e, claro, sendo paparicada porque eu mereço :p

pós-operada

então eu tinha dado uma sumidinha porque a vida estava assim-assim, num hiato. muita coisa pra acontecer e nada acontecia, e eu numa ansiedade, num descontentamento e a chuva que não parava de cair não ajudava.

uma dessas coisas que estavam amarradas era uma cirurgia pra tirar meu mioma de estimação porque, na medida do possível, eu resolvi não ficar mais empurrando os problemas com a barriga. e depois de muitas idas e vindas acabei marcando a cirurgia no susto, de um dia pro outro.

graças a deus deu tudo certo e meu médico acabou tirando não só um como dois monstrinhos de dentro de mim. agora estou em processo de recuperação na casa da minha mãe e só hoje estou conseguindo fazer alguma coisa que não vegetar.

sem querer me fazer de vítima até porque sei que existem situações mil vezes piores que essa minha, que eu não gosto nem de imaginar, mas o fato é que pós-operatório é uma merda e se você parar bem pra pensar, cirurgia é uma coisa de maluco, a coroação da insanidade que é a medicina. primeiro você deita numa maca com um reles avental e uma touquinha ridícula, já com a dignidade perto de zero, e te levam pra uma sala que parece um estúdio de tv [mais precisamente cenário do núcleo hospitalar da novela das 8]. aí vem o anestesista, te passa uma conversa mole e te apaga. ai vem o chefe dos loucos, o cirurgião, e te passa a faca, faz o serviço e, com você ainda vagando pelo quarto escuro da consciência, te costura de volta. ou seja, em menos de duas horas você foi apagada, retalhada e costurada. depois, enquanto você toma litros de soro vitaminado com bombas químicas que vão evitar que você urre de dor, a equipe médica se despede e vai almoçar tranquilamente como se tivesse acabado de jogar uma partida de buraco*.

[*por falar em buraco, a gente vê como o asfalto dessa cidade é um lixo quando anda de carro com a barriga cheia de pontos: cada movimento, uma nova emoção!]