dor-de-cotovelo

nenhuma razão explícita. mil razões implícitas. sensação desagradável de querer parecer incrível e no fundo se sentir um cocô. chove. desolação.

fui ali no maranhão

matar as saudades de 01, 02 e da irmã, conhecer a nova casa, nova vida deles no norte. uma semaninha muito boa que, como tudo que é bom, passou rápido.

como sempre, são luís também merece algumas notas.

é longe! pra chegar a são luís levei quase o mesmo tempo que levaria pra chegar na austrália. sim, eu fui de avião. saí de casa às 19:45 e cheguei ao meu destino às 16:30 do dia seguinte. isso depois de muitas horas de espera no galeão, outras tantas dentro do avião parado, poucas na madrugada num hotel em brasília, e mais muitas outras no aeroporto da capital. isso por conta de uma sucessão de atrasos que começou aqui. a volta foi bem mais amena, levou ao todo umas 7 horas.

aventuras gastronômicas - continuo firme no propósito de encontrar iguarias exóticas nas minhas andanças, na esperança de um dia me tornar uma conceituada apresentadora de algum programa de viagens na tv paga. por enquanto, sem muitos êxitos. inventei de experimentar sorvete de murici e de bacuri. o primeiro tinha gosto de queijo ralado e o segundo de cola. o único que salvou foi o de castanha-de-caju, mas sorvete de castanha não vira pauta de programa. minto, provei uma especiaria bem gostosa: uma geléia de pimenta, que se passa no pastel e é servida em todos os restaurantes. o docinho de coco de alcântara também é gostoso. em geral, come-se muito bem e foi o que mais fizemos. tanto que preciso urgente de uma food rehab.

enólogos natos - uma coisa que me chamou a atenção na cidade foi a quantidade de boutiques de vinho, adegas e tals, desproporcional para um lugar onde faz tanto calor o ano inteiro. não é nem que nem no rio, onde o pseudo-inverno motiva os cariocas a usarem luvas e fazer fondue. lá não faz frio nunca. pode chover, como choveu muito por esses dias, mas a variação climática durante o ano todo é mínima. contaram que todas as lojas são do mesmo dono, que sai abrindo uma atrás da outra pra evitar a concorrência. não me convenceu. ou se trata de lavagem de dinheiro ou os maranhenses são enólogos natos. fiquei imaginando a seguinte cena: o maranhense passa numa adega, abastece sua provisão de vinho e liga pro amigo. "ô ribamar, acabei de comprar um cabernet fora de série. passa lá em casa que eu vou botar o ar condicionado no 17 e a gente degusta com um fonduezinho."

a praia de araçagy - taí um lugar diferente. pra ser generosa. a água é escura. a areia é dura. e mesmo que você quisesse ignorar esse fato e estender sua canga para tomar um solzinho não poderia. isso porque os carros passam pra lá e pra cá na areia mesmo, a uma certa velocidade. então eles decidem onde querem parar, estacionam, abrem o capô e "dj, solta o som!". quando dei por mim estava cercada por uma sinfonia de 3 carros: de um lado tocava fagner, do outro techno-brega (seja lá o que isso for) e atrás kid abelha. a cereja do bolo era o dono do carro do techno-brega que não trajava sunga, nem bermuda, nem short, mas uma cueca branca da playboy. repetindo: uma cueca branca da playboy. a figura em questão ainda era roliça e tinha os cabelos tingidos de loiro. depois de algumas cervejas ele começou a ensaiar uns passinhos de dança, se mexendo que nem uma lombriga obesa. mentalize visão do inferno. que saudade dos ambulantes gritando "olha o mate!","sanduíche natural", etc e tal! ah, que saudade do meu arpoador!... anotar: a melhor praia de são luís é a piscina do condomínio da minha irmã.

no maranhão não tem classe c - ao que me pareceu, eles ainda estão no esquema rudimentar de dominantes & dominados. em outras palavras, o abismo social é imenso (por que será?). tive essa percepção ao reparar que em são luís não circulam carros velhos. aliás, dizem que lá é a capital onde mais se vendem carros zero km [fonte: meu cunhado]. você não vê um fusca, um monza, um escort xr3, um gol quadradinho, nem mesmo um santanão, tão comum nos táxis daqui. só se vê hondas, toyotas, caminhonetes e jipinhos potentes, e outros carros nacionais novinhos em folha. um observador mais desatento até pensa que estamos no primeiro mundo. o que está oculto, ou nem tanto, é o justo oposto.

eu, tu, eles - no meu tempo de escola eu costumava ouvir que "o português mais correto do brasil é falado no maranhão". sem mais explicações. depois, durante uma malograda tentativa de cursar a faculdade de letras, ouvia dos professores que "isso é uma bobagem, que não existe português falado mais ou menos corretamente em nenhuma região, cada uma tem suas peculiaridades, a língua é um ser vivo, bláblábláblá". mas agora, ouvindo mais atentamente os maranhenses, me deu um estalo sobre a origem dessa fama: eles conjugam perfeitamente o tu, "tu vais", "tu queres"... achei bonito. me deu até um pouco de vergonha do nosso cariocamalandragem "tu vai aonde? tu qué o quê?". por um breve momento desejei ter aprendido a falar com os conterrâneos do imortal sarney.

[justiça seja feita que os gaúchos usam bastante o tu. mas, a meu ver, de forma mais correta que os cariocas e menos correta que os maranhenses].

frustração - mais uma vez eu vou ao maranhão e não consigo ver um reggae. será que um dia eu consigo?

hortifruti: até que enfim!

eles atenderam meu apelo e lançaram um filme de minha autoria: a hortaliça rebelde!
obrigada, hortifruti, fiquei deveras lisonjeada.
a propósito, favor depositar os royaties na minha conta bancária. aceito permuta em mercadorias frescas.

ao meu amigo belo adormecido

amigo,

hoje fui te visitar, mas não consegui te ver. quem manda ser um sujeito tão popular? foram tantos súditos que apareceram para ver o rei, que precisaram levantar a ponte elevadiça do castelo, me disseram. agora só entra a família real. não tem problema, fiquei feliz de passar lá e deixar um bilhetinho no seu livro de visitas. o que, preciso confessar, me deu certo nervosismo. mas antes me deixa relembrar uma história.

minha simpatia por você foi imediata, tão logo você disse seu nome: filipe. com i? é, com i. que legal, é assim que se escreve o nome do meu sobrinho também, com i. dizem que com i é que está certo. aí você contou: olha, quando eu nasci e meus pais me deram esse nome, o meu avô disse que era com i. como ele é gramático, ninguém ousou contestar e assim eu fui registrado. quando vi seu sobrenome, juntei lé com cré: você é neto do grande gramático! eu, que tinha insistido para o meu filipe ser com i por pura intuição, sem qualquer endosso de uma autoridade no assunto, liguei na mesma hora pra minha irmã. contei, orgulhosa: "escuta, o nome do filipe está certo, com i mesmo. quem falou foi o grande gramático!". depois que ficamos amigos, te contava isso rindo.

pois você sabe que hoje, escrevendo os recados que eu precisava te passar no livrinho (recapitulando: o flamengo ganhou, acorda e vamos tomar um chope, você está me devendo um aparador de livros, os meninos mandaram um beijo) tremi na base. pensei: oh meu deus, se o avô dele, o grande gramático, resolve ler esse livrinho e descobre algum erro meu de português? uma vírgula errada? uma concordância mal formulada? caprichei e tentei usar o meu melhor português. apesar dessa mania de minúsculas, concordo com seu avô, a gente precisa ter cuidado com a nossa língua. espero não ter decepcionado. de qualquer forma, escrevi com o coração, como faço agora.

então tá combinado. assim que você despertar do seu soninho de beleza, a gente vai aproveitar (mais) a vida que tem pela frente. filipe é nome de rei, e quem é rei nunca perde a majestade. vem, que estamos aguardando ansiosamente o seu regresso.

um beijo humilde da súdita,

mari.

ps. pede pro vô perdoar essa minha indecisão entre o tratamento de tu e você. é que eu não me sinto à vontade pra usar o lhe.

a justa causa do amor

foi demitido do trabalho porque gastou várias vezes o valor do seu salário em ligações interurbanas para a namorada que morava em outra cidade.

***

isso me lembrou um rapazinho que trabalhou comigo há alguns anos. era muito galanteador. pra se ter uma idéia, na saudação da caixa postal do seu celular ele recitava eça de queiroz ["... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente!..." - trecho que ficou famoso na música "amor i love you", que tocava sem parar]. na época a cooperativa de táxi que atendia a empresa tinha uma frota de carros comuns e não de táxis amarelos. pois nosso don juan de campo grande tratou de fazer amizade com todos os taxistas e aparecia para buscar as namoradas a bordo de um vistoso carro verde com seu motorista particular. a meninada suspirava! o namorado além de romântico, tinha um cargo importante!...

foi demitido porque gastou várias vezes o valor do seu salário em vouchers de táxi da empresa.

***

quer saber? eu acho é certo, tem mais é que gastar. o amor é uma causa justíssima, tão vital para os funcionários quanto plano de saúde e vale-refeição.

nostálgica?

cobicei o bamba-cabeção do seu zé, meu porteiro. hoje em dia não se fabrica mais o bamba-cabeção, ele está para o fusca como o all star está para o new beattle. o all star tem seu charme, mas não é o original.

***

há mais de vinte anos atrás só me era permitido ir para a escola calçando o clássico bamba-cabeção branco. eu queria usar outros tênis, um buble gummers, quem sabe, ou até um olympicus. o bamba pra mim era o fim. acontece que nos pés de uma criança inquieta, os tênis ficavam invariavelmente esfarrapados em questão de poucos meses. por uma questão de lógica econômico-familiar, meus pais optavam pela equação do melhor custo-benefício-durabilidade.

mais tarde, os descolados do teatro desencavaram o bamba-cabeção. mas eu ainda não tinha 100% de certeza se queria voltar a usar aquilo - como costuma acontecer, a auto-confiança não é bem o forte dos adolescentes. quando finalmente resolvi adquirir um par, o bamba saiu de circulação de vez.

hoje, vendo um bamba azul esfarrapado nos pés do seu zé, me acendeu o vaga-lume da lembrança. se usasse um bamba-cabeção hoje, faria as pazes com meu eu-criança.

divagações

por que, em plenos 2000 e tals, depois de todas essas revoluções digitais, estéticas, internets, o escambau, os sitcoms americanos ainda têm aquelas risadinhas de fundo pra avisar que estão contando uma piada? eu acho as risadinhas uma coisa intragável e absurda.

por que o número da portaria é 94? não tinha um número mais fácil pra inventar?

por que em todos os meus sapatos a fivela cai sempre no penúltimo furo?

o senhor atendeu as minhas preces

circo voador informa:
próximas atrações - sexta, dia 21/03: tributo a los hermanos.

se já vai ter tributo é sinal que eles morreram. yeah!

encontros & desencontros

dia desses minha amiga j comentou comigo espantada: "mari, você vê as pessoas!..." é verdade, eu vejo as pessoas. nos lugares mais inusitados, nas situações mais inesperadas. elas passam por mim como fantasmas, me deixando com a sensação de ter perdido o trem. pensando bem, não adianta nada ver as pessoas. seria um dom se fosse quando eu quisesse, mas nunca é assim. às vezes eu acho que estou no lugar certo na hora errada, e na hora certa eu não estou em lugar nenhum.

voltei, recife

foi o batizado do 03 que me trouxe pelo braço. explico: a família materna de 03 é da terra do frevo, uma gente adorável. 03 é um garoto de sorte e do alto da sua breve existência deve desconfiar disso, porque conserva uma expressão tranquila e atenta, que lhe conferiu o apelido de sereníssimo por parte do avô paterno. o consorte foi o padrinho, mas por pouco não perdeu o posto para um qualquer que estivesse de calça comprida, já que ele trajava bermudas no dia do batizado e o padre era muito rigoroso. foi um deus-nos-acuda quando o consorte desceu do carro e a família olhou horrorizada para sua bermuda. sinceramente não me ocorreu ser um pecado muito grave batizar alguém com as pernas de fora, principalmente nos trópicos, mas há que se respeitar as tradições. felizmente a sacristã descolou umas calças de defunto que lhe couberam e tudo correu bem.

o recife antigo não é mais aquele - fomos dar uma voltinha por lá no sábado à noite e fiquei um pouco decepcionada com a escassez de agito. tinham uns poucos bares abertos na rua da moeda, que até tinham algum charme, mas estava longe de ser uma lapa com sotaque, como outrora eu conheci a região. fiquei me perguntando onde o 04 bebia quando voltava à cidade. concluí que 04 é o rei e ele bebe onde bem entende.

a macaxeira continua a tal - imbatível, cozida, comme il fault.

linguiça de bode experience - até os 29 anos nunca tinha tido tv a cabo em casa. e continuaria sem fazer a menor falta, não fossem os programas de viagem, que eu adoro. pois bem, a nova onda do momento nesses programas é comer comidas exóticas, provar iguarias regionais. foi influenciada por essa onda que eu entrei numas experimentar uma linguiça de bode. não que bode seja exótico no recife, bode lá é mainstream. mas pra mim, garotinha juvenil, criada a ovomaltino e leite de pêra, bode é pra lá de underground. só que aquela reação que os apresentadores dos programas de viagem costumam ter [fechar os olhinhos e suspirar "hum, nunca comi nada igual"] não rolou comigo. o problema não é exatamente o bode, o gosto é parecido com o do carneiro, cordeiro e afins. só que, apesar do dna libanês, eu não consigo apreciar o gosto forte dos ovinos. lembrar da próxima vez: não comer nenhum quadrúpede de áries.

pronto! - relembrei como prónto, com sotaque assim, é lindo! tudo é pronto pro pernambucano. aprendi uma expressão nova: fulano se abusou. é muito melhor que o anglicismo fulano se estressou. vou incorporar ao vocabulário.

da mutabilidade das percepções - na primeira vez que fui a recife na vida adulta, tinha vinte e pouquíssimos e vinha de um lugar chamado carne de vaca, onde me hospedei num barraco sem água corrente habitado por ratos e baratas. ao chegar no recife, fiquei numa "pousada" na boa viagem chamada uzimar, que era muito simples, mas eu achei que estava no copacabana palace. [quer o endereço do uzi? clique aqui]
aos vinte e mais alguns, voltei e fiquei de novo no, carinhosamente apelidado, uzi. com um olhar mais apurado, pude perceber que ele estava mais pra um cafofo sórdido que pro copa. só que o preço de banana, todo o álcool e carnaval, o café da manhã do outro lado da rua no primo rico da "rede", o uzipraia, e o principal, a cama para desabar no fim do dia, me fizeram relevar os pontos fracos do uzi.
aos trinta, tive minha redenção: boiando na piscina de um confortável 4 estrelas, cheguei à conclusão que eu fiquei um pouco fresca e certamente mais exigente. o uzi foi bom um dia, mas ele na realidade era uma bomba. tem horas que é bom não ter mais vinte anos.

[não confundir 04 com um possível quarto sobrinho. 04 é fred. 04 é tuda.]

curiosidade circense

para minha surpresa, ou nem tanto, descobri que muitos dos atletas, ops, artistas do cirque du soleil são ex-competidores olímpicos. ah, então está explicado!

[só que aí o meu post lá embaixo passa a fazer pouco sentido :) ]

a famosa economia porca

na condição de pessoa econômica, de dna libanês, à beira da pão-durice, já ouvi aos montes a expressão "o barato sai caro" e, ao longo do tempo, pude comprovar que muitas vezes ela é verdadeira. por isso hoje, mesmo continuando parcimoniosa com meus gastos, procuro pensar duas vezes antes de cair na cilada da famosa "economia porca". é muito difícil, porque quase sempre a tentação de economizar um real que seja é grande. mas aprendi que, além do papel higiênico, existem outras coisas com as quais não se deve economizar.

levei anos para entender que tudo bem trocar picanha por maminha, mas sob nenhuma circunstâcia vale a pena trocar o filé mignon por contra-filé. claro, pode acontecer de o filé não ser filé e a picanha não ser picanha. mas aí são outros quinhentos...

rapidinho em são paulo

a cada dia descubro mais esquisitices em são paulo:

- lá não se pode jogar papel em nenhuma privada, nem nas residenciais, porque o encanamento não aguenta.
- lá os viadutos são chamados de pontes - mesmo que não haja nenhum rio passando embaixo.
- quando você compra frios no mercado, cada fatia vem separada por um plástico. por um lado é interessante, não é preciso ficar desgrudando um queijo do outro, por exemplo. mas em tempos de aquecimento global, me parece um contrasenso desperdiçar tanto plástico somente para esse fim.

agora o mais estranho mesmo sou eu, uma carioca que vai pra são paulo comprar biquíni.

sabe quando tudo dá errado? sei bem

segunda-feira. o dia chegou normal, nem bom nem ruim, apenas mais uma semana começando. estava saindo de casa relativamente cedo mas, quando estava com a chave na porta me deu uma dor de barriga. achei mais prudente voltar do que esperar chegar no trabalho, e com isso me atrasei um pouco. ainda dentro do horário, fui tirar um dinheiro, já que eu só ando sem um tostão e o pobre-card que me garante o direito de ir e vir estava sem crédito. os dois caixas do banco perto de casa estavam fora do ar. com um pouco de raiva, resolvi arriscar e pegar o ônibus mesmo assim, afinal de contas hoje é dia 3 e o cartão já deveria estar recarregado. não estava.

desci do ônibus já com bastante ódio no coração e fui andando até outro banco pra sacar o dinheiro. como alguém tinha que levar a culpa de tamanha desgraça, liguei pro meu consorte e descasquei em cima dele, que não tinha me deixado o dinheiro da passagem (pobreza!). com a grana na mão, fui bufando a até o ponto de ônibus mais próximo, quer dizer, que eu julgava ser mais próximo porque ele ficava a vários quarteirões de distância. a essa altura eu já estava bem atrasada e a cada minuto que o ônibus demorava a passar minha impaciência aumentava e eu tinha vontade de gritar. até que ele veio, eu subi e tentei respirar fundo, refletindo sobre como eu era miserável naquela manhã. quase chegando no trabalho, vi da janela do ônibus um sujeito, no meio do nada, de roupa social, um sol de rachar na cabeça, tentando ajeitar alguma coisa no pé: a sola do sapato que tinha descolado inteira. aí eu pensei com uma ponta de satisfação: tem alguém pior que eu.

não era verdade. ao chegar na firma, que está em obras, reparei que minha mesa, minha cadeira, meu computador, tudo enfim, estava recoberto por uma camada de poeira. nossa cocheira fica na faixa de gaza, o que nos separa da obra é apenas uma cortina de plástico preto, estendida quase na nossa cara. eu, que não sofro de alergias e frescuras afins, comecei a espirrar e ficar com a garganta seca. eis que começa um som de britadeiras. insana, subi na cadeira e escrevi "insalubridade já!"com giz sobre o plástico preto, como sinal de protesto. não foi o meu protesto que surtiu efeito, mas o dos demais escritórios do prédio que pediram gentilmente que o barulho fosse evitado durante o horário comercial. se o barulho chegou a incomodar as pessoas dos outros andares do prédio, imaginem a mim, que estava apenas do outro lado da cortina...

cheia de dor de cabeça e com um humor do cão, fui almoçar. a mudança de ares me fez bem, mas na volta para o trabalho eu pisei num cocô. consegui administrar a tarde, mas quando deu seis em ponto a britadeira voltou com força total, junto com o meu mau humor. no auge do barulho me liga o consorte com a inacreditável notícia de que não ia poder viajar na data que tínhamos combinado. soltei marimbondos pelo telefone. um som de sirenes e buzinas se misturou ao som da britadeira, agora que a janela também fica aberta. a beira de um ataque de nervos, o mais sensato era vir pra casa. no ônibus, quase chegando, sinto uma coceirinha na perna. olho pro lado e... uma barata! chega. é demais. vou me esconder no chuveiro. o dia precisa acabar antes que eu cometa um crime.