para refletir

Sociedade iterativa (Cláudio de Moura Castro – Revista Veja, 25/07/2007)

"Aumentou a busca de soluções pelo caminhoiterativo, de tentativa e erro, em substituiçãoao foco, ao raciocínio, à concentração e àelaboração intelectual"

“Ao subir o Corcovado para fotografar o Rio de Janeiro, Marc Ferrez levava uma câmera de 35 quilos e, como filme, pesadíssimas chapas de vidro. Assim era a fotografia no fim do século XIX. Para não cansar o lombo, era preciso acertar da primeira vez. George Eastman inventou o filme de rolo. Mas, para trocar o filme, a câmera tinha de voltar para a fábrica. Com o filme de 35 milímetros, para obter um bom retrato, um fotógrafo profissional tira 100 ou 200 fotos. Na digital, o custo de apertar o obturador caiu a zero. Ferrez tinha de pensar muito antes de bater uma foto. Hoje, fotografa-se com furor, na esperança de que alguma foto preste. No cinema se deu algo parecido. A filmagem era uma operação cara. Mas o vídeo é regravável e no digital é grande a tentação de gravar horas a fio, para aproveitar minutos.

No teatro, são necessários muito ensaio e forte rigor para a representação sair fluida todas as noites. No cinema, filma-se a cena várias vezes, até que ela fique boa. Por tentativa e erro, acerta-se. Por isso, há cada vez mais cinema, em comparação com o teatro. A música ao vivo perde espaço para as gravações, nas quais a peça é tocada no estúdio repetidas vezes. A melhor versão será para sempre congelada no disco (se preciso, a eletrônica conserta a desafinação). Substituímos pela iteração (ou seja, pela ação reiterada de tentativa e erro) uma busca rigorosa e reflexiva da solução técnica ou estética. Tentamos até acertar. Não pensamos muito, vamos fazendo profusamente, na esperança de topar com alguma coisa boa. É a "arte lotérica".
A prova de escolha múltipla, um avanço precioso, contrabandeia um elemento de tentativa e erro no processo de resposta. Se a alternativa B não pode ser correta, é eliminada. Abandonando as respostas claramente erradas, tenta-se a sorte nas outras. Não bastasse isso, há computadores que corrigem provas de redação quase tão bem quanto humanos. O que é mais incrível: dão notas sem entender o texto!

A socióloga Sherry Turkle mostra como os jovens transformam um jogo de computador em um processo de tentativa e erro que ignora completamente o conteúdo educativo. O jovem não lê as instruções, não sabe e não quer saber do princípio que está sendo ensinado. Ele é um perito em experimentar soluções em alta velocidade, até que chegue à resposta certa (pouco importa o que significa). Das lições que eram para ser aprendidas com o jogo, ele passou longe. No fundo, ele imita o computador na forma como este resolve muitos problemas: por tentativa e erro, sem entender nada. De fato, é assim que o computador lida com algumas equações complicadas: tenta soluções em alta velocidade, até acertar. O emprego do computador na pesquisa mudou a maneira de explorar o mundo. Em vez de quebrarem a cabeça teorizando, alguns cientistas enfiam nele uma montanha de dados, buscando correlações entre as variáveis. Partem do nada. Não têm teorias nem hipóteses. As correlações encontradas no processamento daqueles dados serão interpretadas mais adiante. É a ciência iterativa.

A propaganda convencional dirige seu apelo aos públicos mais apropriados. A internet permite o spam sem destinatário certo, que vale a pena por ser quase grátis. A medicina clássica valorizava o "olho clínico" e a apalpação pelos médicos, que são capazes de examinar o paciente e dar o diagnóstico certeiro. Hoje, muitos médicos começam encomendando ao paciente dezenas de exames, para ver o que aparece. Até os casamentos são iterativos. Casa-se para experimentar. Se não der certo, tenta-se novamente. Sempre houve busca iterativa e nem tudo hoje em nossa sociedade é feito por esse método (e bendito seja o computador em que escrevo!). Mas os avanços tecnológicos e o espírito dos tempos tiveram como efeito aumentar a busca de soluções por esse caminho, substituindo-se o foco, o raciocínio, a concentração e a elaboração intelectual.

Avanço ou retrocesso? Difícil dizer. Cresceu imensamente o número de problemas com que nos defrontamos. Por que não proceder por tentativa e erro, usando o apoio da tecnologia? É mais mecânico e tem exigências intelectuais muito menores. Sobrará mais tempo para lidar com os problemas rombudos? Sobreviverá a beleza do intelecto compondo suas fascinantes partituras? Quem sou eu para responder.”
[não pretendo transformar o jardim em uma selva de textos de terceiros. mas, eventualmente vale a pena replantar idéias alheias, palavras que conseguem expressar o que eu penso melhor do que eu, ou que servem de fertilizante para minhas próprias idéias. é o caso do texto acima]

ainda o pan...

por que os atletas cubanos usam uniformes da adidas?! já não se fazem mais cubas como antigamente...

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manchete do extra de hoje: "comitê olímpico americano arrasa com o brasil". isso porque fizeram um guia de sobrevivência para os atletas alertando sobre os perigos do rio. a materiazinha, muito tendenciosa por sinal, diz que (absurdo!) os americanos advertem seus atletas sobre os perigos da cidade, que podem acontecer a qualquer momento já que a polícia não cumpre seu papel. isso por um acaso é mentira? fala sério, né? pra mim o único exagero do tal manual foi aconselhar os atletas a andarem de sapato na praia. americanos não são santos, mas convenhamos que esse guia nada mais é do que um retrato da triste realidade dessa cidade entregue à bandidagem.

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aliás, a grande gafe do comitê olímpico dos eua não foi essa, mas a história do "welcome to congo". gafe com o congo, evidentemente. não entendo essa auto-imagem supervalorizada que o brasileiro faz de si. ficamos ofendidos por termos sido comparados com um país da áfrica, que imaginamos ser muito pior que o nosso e do qual não sabemos absolutamente nada. uma atitude tão etnocêntrica quanto a dos americanos...

mas o mais constrangedor mesmo foi o caldeirão do huck que resolveu prestar uma homenagem ao congo (?) e botou um sujeito vestido de orangotango (?????????) para passear pela rua. não sei o que saiu pior, o soneto ou a emenda.

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a grande verdade é que esse negócio de misturar gentes de tantos países e culturas distintas em um lugar só não pode dar certo mesmo. não é à toa que esses grandes eventos como jogos panamericanos, olimpíadas, copa do mundo, etc., não duram mais de um mês. se passasse disso, o mais provável era acontecer uma catástrofe diplomática capaz de terminar em guerra nuclear.

orelha de burro, cabeça de e.t.

burrice me tira do sério. que fique claro que burrice não tem nada a ver com conhecimento, nem com falar e escrever corretamente, nem mesmo com q.i. e notas altas e , muito menos, com contracheque. pra mim, a burrice está diretamente ligada a comodismo e falta de curiosidade. o burro não é aquele que não sabe, mas o que não faz a menor questão de saber. existem aqueles que têm vergonha das suas dúvidas e, por isso, não fazem perguntas (e alguns desses sentem vergonha de perguntar mas não de fingir que conhecem bem o assunto, o que é pior). por fim, um dos tipos mais nocivos é o burro que tem orgulho de não saber, esses propagam a ignorância como um hábito salutar.

não tenho a ingenuidade de pretender um dia saber tudo de tudo. ainda que fosse factível, ia ser muito entediante, porque não haveria mais coisas a descobrir. por outro lado, consigo até compreender que o cansaço gerado pelo excesso de informação (tão na moda hoje em dia!) possa gerar uma aversão ao aprendizado, mas essa aversão precisa ser combatida. por isso temos que parar, respirar e começar a separar o joio do trigo. é preciso escolher o que vale a pena saber, o que vale a pena querer aprender. Assim como a capacidade de juntar lé com cré, a seletividade é um ingrediente da inteligência. eu não sei quanto vale um alqueire, não lembro mais a função da mitocôndria e não consigo identificar uma nota musical. o que pra uns pode ser óbvio, pra outros é puro mistério. o problema é quando as pessoas não querem enxergar o que deveriam por pura preguiça, vergonha e outras desculpas imbecis. isso produz instintos violentos em mim. e violência é a arma dos ignorantes.

burrice aborrece. andar com gente burra emburrece. se puder, evite.

reflexões causadas pelo pan

se eu tivesse superado meu trauma infantil causado por uma mal sucedida incursão ao mundo do esporte, talvez não houvesse perdido uma bela oportunidade de estar à beira da aposentadoria. mentalize: se ao invés de ter me tornado proletária eu tivesse investido na carreira de atleta, com 30 anos estaria perto de pendurar a chuteira e não teria a perspectiva nefasta de passar os próximos 30 anos trabalhando. crianças, não façam como eu. esporte é saúde. saúde é vida. e vida, gente, vida não pode ser trabalho!

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a seleção de natação do canadá deu pinta na praia este domingo. bela equipe.

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essa coisa de ficar torcendo por medalhas em modalidades das quais eu não sei nem a regra direito é totalmente irracional. torcer em geral é irracional. ao torcer pelo brasil a gente tem até uma desculpa pseudo-nacionalista, agora, que desculpa eu tenho pra torcer pelo flamengo? esporte é puro panis et circences. mas, quem disse que eu preciso de uma razão muito concreta para me divertir?

[em tempo: descobri que ninguém sabe o que é estafeta, acho que esse termo devia ser exclusivo do universo particular dos capianos. estafeta = revezamento com bastões]

o paradoxo do O2

você já parou para pensar que o oxigênio que te faz viver é o mesmo que te mata diariamente? por causa dele respiramos, por causa dele nossas células oxidam e morrem. eu acho uma piada divina genial.

[adoro paradoxos]

o paradoxo da pipoca rosa (ou pipoca rosa experience)

a pipoca rosa é um dos adventos mercadológicos mais formidáveis de todos os tempos. "tostines vende mais porque é mais fresquinho ou é frequinho porque vende mais" e "é impossível comer um só" são apenas falácias publicitárias diante da genialidade da pipoca rosa. para quem não sabe pipoca rosa é uma pseudo-pipoca açucarada, que não é rosa, é branca mesmo, mas é chamada assim por causa da sua embalagem, um saco mequetrefe cor-de-rosa translúcido. ela pode atender por nomes singelos como "come-come" ou "frank", mas no fundo a marca pouco importa.

o que torna a pipoca rosa um case de sucesso é o fato de ela ser viciante. e ela é viciante justamente por causa do seu paradoxo. o paradoxo da pipoca rosa é o seguinte: nem todas as pipocas do saco são boas, ou seja, crocantes e açucaradas. de fato, a grande maioria das pipocas de um saco são muxibentas e sem gosto. funciona assim: você come uma pipoca boa, então come outras dez ruins na esperança de achar outra boa, e nessa brincadeira você comeu o pacote todo. é um vício como o de drogas ou jogo, em que se fica repetindo um comportamento em busca de uma recompensa experimentada anteriormente.

eu já tentei desenvolver uma técnica de identificar apenas as pipocas boas e descartar as ruins mas, além de não ter funcionado, parece que faz parte da experiência comer as ruins também. sempre me pergunto por que os caras não fazem um pacote só de pipocas boas, mas eles não nasceram ontem. se 100% das pipocas do pacote fossem boas, provavelmente as pessoas ficariam enjoadas e o vício deixaria de existir. seria o fim do paradoxo. marketeiros de plantão: lembrem-se do exemplo da pipoca rosa na hora de criar um novo produto. é sério.

lista parcial das pessoas para as quais eu desejo diarréia com tosse eterna

já que falamos disso, vamos à lista:

- xuxa e sua filhinha etzinha sacha
- jorge vercilo
- simoninha
- luciana mello e o irmão jairzinho (podia ter encerrado a carreira ainda criança)
- max de castro
- maria irrita e o irmão dela pedro mariano (mamãe deve revirar na tumba)
- marisa monte (já gostei, mas ela encheu o saco)
- loosermanos (ainda bem que acabou)
- todos os atores mirins de novela
- marcelo d2 (a atitude que tu toma qualé? porque a cerveja eu já sei)
- ana carolina

por enquanto lembrei dessas pessoas, mas sei que a lista é muito mais longa...

última sobre o assunto (só pra descontrair)

até semana passada eu dizia que desejava que várias celebridades, entrassem todas juntas em um avião e que esse avião caísse. aí sempre que eu lembrava de alguma, falava "esse aí também podia entrar no meu avião!". agora não posso falar mais isso porque não pega bem. então, como diz a nossa saudosa carol-mineira, de hoje em diante eu não desejo mais a morte dessas pessoas, desejo apenas diarréia com tosse até o fim da vida.

retificando e ratificando

[quer saber a diferença entre retificando e ratificando? clique aqui - este post em si não tem nada a ver com isso]

pelo que parece agora a causa do acidente foi um defeito na própria aeronave. o que não significa que a "crise aérea" deixou de existir, uma coisa não substitui a outra. é até difícil precisar se os fatos não estão interligados. de qualquer forma, não sei se a essa altura achar causas e culpados diminui a tristeza de quem ficou.

e, independente de qualquer coisa, ainda acho que a pressa contemporâna é um problema digno de muita reflexão. por causa dela as pessoas continuam acelerando o carro, entupindo as veias com fast food, correndo, se estressando, não olhando para o lado e, enfim, morrendo mais rápido.

me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios

se o que provocou esse acidente foi mesmo uma obra mal feita entregue antes do tempo, então temos muito o que pensar.

congonhas é uma mão na roda. se você for do rio a são paulo e não chegar por congonhas então é melhor ir de ônibus. justamente por estar tão melhor localizado que o outro aeroporto, ninguém quer deixar de voar por lá. por isso mesmo, congonhas foi absorvendo uma quantidade de vôos bem maior do que poderia suportar. com uma pista a menos, o circo estava armado. da última vez que eu estive lá vi a confusão de perto. imagino que tenha havido uma grande pressão para liberar a pista principal e aliviar, pelo menos um pouco, o transtorno de quem precisa voar.

congonhas transpira pressa. a grande maioria passa por lá a trabalho. a imensa sala de embarque de congonhas me remete a uma visão bem cliché do "grande mundo dos negócios" (lembra? tempo = dinheiro). executivos, engravatados ou não, com seus laptops e smart phones correndo de um lado para o outro, falando no celular e pedindo notas nos cafés. todo mundo está ali porque quer chegar a algum lugar, seja para fechar um negócio, seja para dormir na própria cama. o mais rápido possível. ASAP. ninguém quer abrir mão das suas horas ou dos seus minutos. nem que para isso tenham que cair um, dois ou mil aviões.

não entendi

então o pior acidente aéreo dos últimos tempos muito provavelmente é provocado por conta de uma obra mal feita e a vergonha nacional é vaiar o presidente em um evento? as pessoas ficaram constrangidas com uma vaia besta sendo transmitida para meia dúzia de países mas não conseguem produzir um pingo de revolta com todo o resto que acontece em volta. como sempre, o que importa são as aparências. é mais fácil passar a mão na cabeça de um filho que conta mentiras graciosas do que de um que tira meleca em público.

e por falar em aparências, dizem que o aeroporto de congonhas ficou muito bonito depois da reforma.

espetáculos & espetáculos

no fim de semana que passou eu fui a dois espetáculos totalmente distintos e incomparáveis entre si. na sexta fui na abertura do pan, que acabou superando totalmente minhas expectativas. foi lindo, divertido, emocionante. mesmo com as divergências particulares entre as modalidades esportivas e minha pessoa, acho um barato a comoção que o esporte provoca na gente. e os números de música, dança e encenação foram belíssimos, em especial o da praia que foi simplesmente sensacional! enfim, saí de lá feliz da vida de ter pago os 75 reais do ingresso e quicado o trabalho por uma tarde.

já no domingo fui ver o blue men group achando que ia adorar e acabei me decepcionando. fiquei sem entender porque todo mundo gostou (e porque eu achei um saco). aquilo não falou comigo, achei as piadas (?) sem graça, a música sacal e a trama (?) sem sentido. vai ver que o que faz sucesso hoje em dia são essas grande colagens mesmo, e eu é que estou por fora. ok, os efeitos visuais são legais, mas efeitos por efeitos produzem apenas um espetáculo vazio. sei lá, nem posso botar a culpa no "astral" porque naquele dia eu estava com ótimo humor e continuei depois que saí de lá. também não me arrependi de ter ido, pelo menos pude formar uma opinião. valeu o ingresso.

1. [o ingresso foi cortesia]
2. [e essa celeuma toda que a imprensa criou em torno da vaia do lula não teve a menor importância para quem estava na abertura (exceto talvez pro próprio lula). ninguém deu bola pra isso, estávamos contentes demais com o espetáculo pra lembrar do episódio. até o oooi/hoy do mexicano (?) foi mais comentado na saída. e não, a vaia não foi orquestrada, ela foi puramente espontânea. parece que o resto todo ter dado certo não foi assunto suficiente e neguinho resolveu inventar um fato bombástico em cima do que foi apenas um estalinho.]

traumas de infância

nunca consegui dar uma estrela.
também não conseguia fazer aquela virada olímpica na piscina.
meus mergulhos freqüentemente resultavam em belas barrigadas.
quando eu estava na primeira série participei de uma competição de "estafetas" (ainda existe isso?) nas olimpíadas do colégio e a minha "bandeira" (que era a equipe, eram sempre 4 equipes, verde, azul, vermelha e amarela) foi desclassificada. apesar do consolo dos meus pais eu chorei.
acho que foi aí que começou minha relação complicada com atividades esportivas.

apelo aos gramáticos

por que, meu deus, por que suprimiram a conjugação da primeira pessoa (do singular) do presente nos verbos colorir e competir da língua portuguesa?! eu admiro muito nosso idioma, mas não posso compreender por que "coloro" e "compito" não podem existir. como eu substituo "eu compito"? falo "eu participo de uma competição"? olha a trabalheira! e "eu coloro"? nem me venham dizer para falar "eu pinto" porque não é a mesma coisa. alguém me explica?
gramáticos, eu clamo, por favor, me deixem colorir e competir como eu bem entender!

depender de alguém x contar com alguém

se eu fizesse uma enquete perguntando “é preferível não ter que depender de ninguém a ter que depender de alguém?” é provável que a maioria das respostas fosse “sim”. isso porque é comum ouvir “eu detesto ter que depender de fulano pra fazer isso ou aquilo”. depender de alguém lembra impotência, fragilidade, imobilidade, enfim, algo negativo. dependência é o contrário de independência, e independência é um atributo muito valorizado nos dias de hoje. a impressão é só os independentes são livres e felizes e, afinal de contas, lutar por independência quase sempre é visto como uma causa legítima.

concordo que depender de outra pessoa pode ser muito desagradável como, por exemplo, quando você depende financeira ou hierarquicamente de alguém. ou então quando você tem algum outro tipo de limitação e precisa que outra pessoa faça algo que você não consegue sozinho fazer como, por exemplo, consertar uma geladeira com defeito, resolver um problema burocrático ou enxergar o número do ônibus com miopia. vou chamar essa dependência de circunstancial e delas não se pode fugir.

teoricamente não se pode fugir facilmente de uma dependência senão o nome não seria esse. mas acredito na existência de um outro tipo de dependência “do bem”, que vou chamar de afetiva. esse tipo de dependência não tem nada a ver com relacionamentos neuróticos mas sim com o fato de saber que se pode contar com o outro porque existe amor envolvido.

minha primeira dependência desse tipo aconteceu antes do meu nascimento em relação à minha mãe. depois que eu vim ao mundo continuei dependendo dela para realizar todas as minhas funções vitais. e ela nunca pediu nada em troca porque esse é o princípio básico da incondicionalidade do amor. mais tarde, aprendi a andar, a falar, a comer sozinha e a me relacionar com outras pessoas. mas o amor ainda está lá, e eu continuo dependendo dela de outras formas. nesse sentido acho que depender de alguém também pode ser entendido como contar com alguém.

dependo da minha mãe, dependo do sorrisinho do pipe, dependo do meu namorado, dependo dos meus amigos e sei que posso contar com todos eles. prefiro depender de alguém do que não poder contar com ninguém. e espero que possam também depender de mim enquanto eu puder ser alguém com quem se pode contar.

o jardim

a imaginação é solo fértil.

as idéias são semente.

eu sou a jardineira.

e as arvores somos nozes.